Um dia depois da morte de um homem atropelado por um ônibus do Move, na Avenida Antônio Carlos, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, as portas da Estação São Francisco, onde ocorreu o acidente, continuavam abertas e pondo em risco a vida dos passageiros que embarcam e desembarcam dos coletivos. Estragadas, as portas ficam abertas o tempo todo e os passageiros, mesmo sabendo que podem se acidentar, põem o corpo para fora da plataforma, preocupados em não perder o ônibus.
“Com os painéis apagados, quase que por instinto, colocamos o corpo para fora, como eu estava fazendo há minutos para ver se o ônibus está chegando. Com a porta aberta e o telão apagado temos que olhar lá fora”, queixou-se o analista de sistema Wendell Carlos, de 18 anos, aproveitando para reclamar de outro problema recorrente nas estações de transferência: o mau funcionamento dos painéis eletrônicos, que deveriam informar a chegada e a partida dos ônibus.
O atropelamento ocorreu pouco depois das 22h20 da quarta-feira, de acordo com o relato de testemunhas à Polícia Militar. A vítima, um homem cujo corpo permanecia no IML até ontem à noite, à espera de identificação, pois estava sem documentos, pôs a cabeça para fora e foi atingida pelo espelho retrovisor de um ônibus que passava na hora. Com o impacto, ele caiu na via e foi atropelado. O motorista do Move Afonso Dias Martins, de 39 anos, chamou o Samu, mas a vítima morreu no local. O condutor disse que sentiu quando atingiu o homem e parou na hora, mas não conseguiu evitar a morte.
DENÚNCIA DO EM O risco que que as portas defeituosas do BRT/Move representam para os passageiros foi denunciado pelo Estado de Minas na edição de segunda-feira. Levantamento feito pela reportagem mostrou que das 456 portas nas 36 estações, 285 estavam abertas quando deveriam estar fechadas, ou seja, 62,5% dos equipamentos apresentam defeitos que podem contribuir para acidentes como o que matou o homem na noite de Natal.
Além desses problemas constatados pelo jornal, passageiros denunciam outros. Wendell Carlos disse que , de madrugada, alguns motoristas não param nas estações, o que faz com que muitos passageiros assumam o risco de colocar o rosto e até todo o corpo para fora da estação. Foi o que fez o analista de sistemas Leandro Álves, de 29, na cabine do sistema metropolitano na Estação São Francisco. “Tenho que observar os ônibus que vêm. A porta aberta é uma falha de segurança. Se os painéis informassem o horário certo em que os ônibus passam, não teríamos que olhar. Mas não funcionam”, disse.
Devido aos problemas nas portas, o auxiliar de limpeza Francisco Henrique, de 31, arriscou-se, na tarde de ontem, ao andar no beiral da estação quando o ônibus estacionou. “É perigoso. Tem motorista que mal espera a gente descer e arranca o veículo. A gente pode contar nos dedos as portas que funcionam. Cada hora dão um desculpa. Ora dizem que as portas estão em manutenção, ora que são os usuários que apertam o botão para que as portas fiquem abertas”, completou.