Jornal Estado de Minas

Depois da longa jornada como Papai Noel, quem interpretou o personagem consegue descansar

Quem passou as últimas semanas na pele do bom velhinho diz que se trata de uma tarefa emocionante

Gustavo Werneck
Bráulio Rodrigues trabalhou 46 dias como Papai Noel e diz que se trata de uma tarefa emocionante - Foto: Beto Novaes/Em/D.A.Press


O Menino Jesus nasceu, a criançada abriu seus presentes e todo mundo se fartou de panetone, peru com farofa e vinho. E o Papai Noel, por onde andará? Será que já voltou para as terras geladas da Lapônia ou resolveu dar um passeio antes de pegar o trenó? Nada disso, o bom velhinho está mesmo é descansando de tanta festa, trocando o tradicional ho-ho-ho por um cochilo à tarde. Bráulio Rodrigues Moura Filho, de 57 anos, morador do Bairro Novo das Indústrias, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, encerrou a maratona de 46 dias, das 16h às 22h, como Papai Noel num shopping de Contagem, na Grande BH, mas ainda não pôde se dar um grande presente: raspar a longa barba branca que, no calor tropical, é um suplício para qualquer cristão.

“Ainda vou visitar um asilo, então preciso manter o visual de cabelo grande e barba”, conta Bráulio, casado com Dalva Lúcia e pai e avô duas vezes. Nesta segunda vez encarnando o personagem de roupa e gorro vermelhos, ele acumulou 250 cartinhas de meninos e meninas que posaram para fotos – selfie, nem pensar, pois a empresa não permitia – e não se cansaram de dar muitos abraços e beijinhos. Os pedidos de presentes mais frequentes, este ano, foram os tablets, as bonequinhas-monstro (Monster High) e o Baby Alive, que imita perfeitamente um recém-nascido.

Na tranquilidade do lar, Bráulio recebe o carinho da família, dobra os trajes com cuidado, mas tem saudade dos dias e noites como Papai Noel. “É muita alegria, há emoção de sobra. Impossível não chorar, às vezes, no encontro com a garotada. Outro dia, fui a uma escola e fiquei comovido demais”, afirma o Papai Noel, que, durante o ano, conserta geladeiras e fogões.

Mantendo o ar bonachão e tranquilo, Bráulio bate a bota no chão ao afirmar que o bom velhinho existe. “Ele está entre nós, no nosso coração. Não podemos nunca deixá-lo morrer”, afirma. Para descansar do período natalino, ele pensa em passar alguns dias em Vitória (ES).

NO SERTÃO


O aposentado José Eustáquio Starling Solla, de 67, morador do Bairro Bonfim, na Região Noroeste da capital, está de férias de Papai Noel, curtindo o merecido descanso. E não é para menos: afinal, passou 40 dias, de 16 de novembro a 25 de dezembro, num shopping de Juazeiro do Norte (CE), com a barba natural de 25 centímetros de comprimento e o cabelão. “Foi ótimo, só que estava muito quente. Mas já cortei os dois. Agora, é deixar crescer de novo”, afirma o recém-chegado do estado nordestino. Ao desembarcar de helicóptero no centro de compras, e não de trenó, foi criativo na resposta: “As renas estavam com muito calor, por isso não vieram”. Convenceu.

Com a experiência de cinco anos dando vida ao personagem, José Eustáquio diz que a empreitada só funciona se a pessoa gostar do que faz. “O carinho da garotada é muito forte, não há dinheiro que pague. Aliás, costumo falar que nossa moeda é a emoção, o ‘não-real’”, afirma José Eustáquio, que tem dois filhos e uma neta de 15 anos.

Criança é criança em qualquer lugar – e o que pede a turma do sertão cearense? Papai Noel responde: “Como se trata de área rural, de criação de gado, pedem nas cartinhas cavalos e bezerros de verdade”.

Com 11 filhos de dois casamentos e 14 netos, o belo-horizontino Leonardo Thomasi, de 66, tem uma empresa de eventos e comanda um pelotão de Papais Noéis. Ele, particularmente, tem serviço pela frente, pois estará presente, até 6 de janeiro, Dia de Reis, na Vila do Papai Noel, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital. “Nesse tempo, é fundamental olhar nos olhos das crianças. Até os adultos se emocionam, é gratificante”, resume.

Por ser empresário, Leonardo está sempre atuante no calendário de diversões da cidade e cita as festas juninas, o halloween e outras das quais participa. E pensa que o Papai Noel sai de cena? De jeito nenhum. Na Semana Santa, em especial para a celebração do Domingo de Páscoa, Leonardo “voa” para Pernambuco, mais exatamente Nova Jerusalém, que apresenta a Paixão de Cristo. Agora, como o bom velhinho entra nessa história, só mesmo estando lá para ver…

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