O Menino Jesus nasceu, a criançada abriu seus presentes e todo mundo se fartou de panetone, peru com farofa e vinho. E o Papai Noel, por onde andará? Será que já voltou para as terras geladas da Lapônia ou resolveu dar um passeio antes de pegar o trenó? Nada disso, o bom velhinho está mesmo é descansando de tanta festa, trocando o tradicional ho-ho-ho por um cochilo à tarde. Bráulio Rodrigues Moura Filho, de 57 anos, morador do Bairro Novo das Indústrias, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, encerrou a maratona de 46 dias, das 16h às 22h, como Papai Noel num shopping de Contagem, na Grande BH, mas ainda não pôde se dar um grande presente: raspar a longa barba branca que, no calor tropical, é um suplício para qualquer cristão.
“Ainda vou visitar um asilo, então preciso manter o visual de cabelo grande e barba”, conta Bráulio, casado com Dalva Lúcia e pai e avô duas vezes. Nesta segunda vez encarnando o personagem de roupa e gorro vermelhos, ele acumulou 250 cartinhas de meninos e meninas que posaram para fotos – selfie, nem pensar, pois a empresa não permitia – e não se cansaram de dar muitos abraços e beijinhos. Os pedidos de presentes mais frequentes, este ano, foram os tablets, as bonequinhas-monstro (Monster High) e o Baby Alive, que imita perfeitamente um recém-nascido.Na tranquilidade do lar, Bráulio recebe o carinho da família, dobra os trajes com cuidado, mas tem saudade dos dias e noites como Papai Noel. “É muita alegria, há emoção de sobra. Impossível não chorar, às vezes, no encontro com a garotada. Outro dia, fui a uma escola e fiquei comovido demais”, afirma o Papai Noel, que, durante o ano, conserta geladeiras e fogões. Mantendo o ar bonachão e tranquilo, Bráulio bate a bota no chão ao afirmar que o bom velhinho existe. “Ele está entre nós, no nosso coração. Não podemos nunca deixá-lo morrer”, afirma. Para descansar do período natalino, ele pensa em passar alguns dias em Vitória (ES).
NO SERTÃO
O aposentado José Eustáquio Starling Solla, de 67, morador do Bairro Bonfim, na Região Noroeste da capital, está de férias de Papai Noel, curtindo o merecido descanso. E não é para menos: afinal, passou 40 dias, de 16 de novembro a 25 de dezembro, num shopping de Juazeiro do Norte (CE), com a barba natural de 25 centímetros de comprimento e o cabelão. “Foi ótimo, só que estava muito quente. Mas já cortei os dois. Agora, é deixar crescer de novo”, afirma o recém-chegado do estado nordestino. Ao desembarcar de helicóptero no centro de compras, e não de trenó, foi criativo na resposta: “As renas estavam com muito calor, por isso não vieram”. Convenceu.
Com a experiência de cinco anos dando vida ao personagem, José Eustáquio diz que a empreitada só funciona se a pessoa gostar do que faz. “O carinho da garotada é muito forte, não há dinheiro que pague. Aliás, costumo falar que nossa moeda é a emoção, o ‘não-real’”, afirma José Eustáquio, que tem dois filhos e uma neta de 15 anos. Criança é criança em qualquer lugar – e o que pede a turma do sertão cearense? Papai Noel responde: “Como se trata de área rural, de criação de gado, pedem nas cartinhas cavalos e bezerros de verdade”.
Com 11 filhos de dois casamentos e 14 netos, o belo-horizontino Leonardo Thomasi, de 66, tem uma empresa de eventos e comanda um pelotão de Papais Noéis. Ele, particularmente, tem serviço pela frente, pois estará presente, até 6 de janeiro, Dia de Reis, na Vila do Papai Noel, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital. “Nesse tempo, é fundamental olhar nos olhos das crianças. Até os adultos se emocionam, é gratificante”, resume.
Por ser empresário, Leonardo está sempre atuante no calendário de diversões da cidade e cita as festas juninas, o halloween e outras das quais participa. E pensa que o Papai Noel sai de cena? De jeito nenhum. Na Semana Santa, em especial para a celebração do Domingo de Páscoa, Leonardo “voa” para Pernambuco, mais exatamente Nova Jerusalém, que apresenta a Paixão de Cristo. Agora, como o bom velhinho entra nessa história, só mesmo estando lá para ver…