A via que deveria ser destinada a ciclistas se tornou em vários pontos depósito de lixo doméstico, móveis velhos e sacos com restos de poda. “O caminhão de lixo não tem como chegar até o passeio, por causa dessa ‘estrada’ (ciclovia). Por isso, a gente empilha tudo aí (sobre a mureta da ciclovia, de onde o lixo desmorona e encobre parte da pista)”, justifica a cuidadora de idosos Dorinha Silva, de 59 anos. A sujeira se acumula principalmente em frente a um conjunto de prédios, em três pontos sobre os obstáculos que separam a pista exclusiva para bicicletas da usada pelos veículos motorizados. A invasão de dejetos obriga quem pedala a usar apenas uma das duas faixas de sentidos opostos.
Não bastassem os obstáculos deixados pelos moradores, a ciclovia é também invadida por veículos e pessoas que não deveriam circular por lá.
Mais adiante, a Avenida Tereza Cristina também abriga uma ciclovia, que fica um pouco distante, do lado oposto ao fim da Rota Bonsucesso. Não há sinalização que alerte a quem segue do outro lado sobre a existência da pista exclusiva. É uma das mais longas de BH e, como segue o Ribeirão Arrudas por 4,63 quilômetros, tem relevo plano, ideal para pedalar. Mas a conservação não é das melhores. O pavimento é irregular, há buracos, o asfalto fica repleto de lixo e há pontos em que lama e terra tomam conta do caminho. Veículos de entrega estacionam na área demarcada e até carroças ficam atravessadas. O entregador Célio Fernandes Alves, de 51 anos, carregava caixas usando a pista de ciclistas como estacionamento, bloqueando completamente a passagem. “Estou totalmente errado, mas fico poucos minutos e não é todo dia. É assim que a gente faz. Pior são os carroceiros, que passam todos os dias e até provocam acidentes”, reclama. Apesar dos problemas, esse foi o trecho menos perigoso da travessia do extremo Sul ao Norte da capital.
AMPLIAÇÃO Belo Horizonte conta hoje com 70,42 quilômetros de ciclovias, mas, segundo a BHTrans, a proposta do PlanMob-BH é implantar cerca de 340 quilômetros, dos quais 68,73 já têm projetos, sendo que 150 do total são para alimentar o sistema de transporte coletivo. As ciclovias serão complementadas com estacionamentos para bicicletas e bicicletários junto às estações de integração.
Antes de pedalar
» Ciclovia é a pista destinada à circulação de bikes, separada fisicamente do tráfego comum
» Ciclofaixa é uma faixa exclusiva para bicicletas, mas sem separação física
» Paraciclos são estacionamentos sem controle de entrada e saída, onde as bicicletas podem ser acorrentadas
» Bicicletários, apesar de poucos em BH, são a estrutura mais segura para o ciclista, contando com administração de vagas e abrigo
» Equipamentos obrigatórios, que devem ser fornecidos pelos fabricantes de bicicletas, são a campainha, o espelho retrovisor esquerdo, a sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais
Fontes: Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana e Código de Trânsito Brasileiro
O que diz a lei
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, quem pedala tem preferência sobre carros e motos em vias sem sinalização específica. O artigo 29 diz que “os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Ao desmontar e empurrar a bicicleta, o ciclista passa a ser considerado pedestre. O CTB determina que não se pode circular pedalando por rodovias e vias de trânsito livre (autoestradas sem interseções em nível ou travessias por faixas na própria pista). O deslocamento de bicicleta é restrito a ciclovias, ciclofaixas e acostamentos, quando estes existirem. Nos demais casos, as bicicletas podem rodar em qualquer via, pelo bordo direito.
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