Chegar ao ponto mais a Oeste de Belo Horizonte, no limite com Contagem, foi o desafio mais perigoso enfrentado pela reportagem do Estado de Minas, que se dispôs a pedalar entre os pontos mais extremos da capital mineira para mostrar a cidade vista da perspectiva de seus condutores mais frágeis. Passada a tranquilidade e o respeito observados desde a mata do Taquaril, nos bairros Paraíso e Santa Efigênia, até um trecho da Avenida Tereza Cristina, as bicicletas praticamente foram caçadas no restante do trecho por motoristas velozes, que tentavam se impor mesmo quando a circulação se dava no espaço que o Código de Trânsito Brasileiro garante a quem pedala, à direita das vias.
Passada a última ciclovia da Avenida Tereza Cristina, o apetite por espaço dos condutores de muitos carros, motos, ônibus e caminhões não permite deixar ciclistas pedalando pelo lado direito da via. Bastou o semáforo na altura do trevo para o Bairro Gameleira se abrir para que os veículos motorizados começassem a acossar os ciclistas. Um ônibus metropolitano simplesmente prosseguiu sua trajetória, empurrando as bicicletas para o lado, restando aos ciclistas agilidade para desviar ou enfrentar um tombo sério. Da janela, o cobrador gritou: “Sai da frente! Lugar de bike é na ciclovia”.
Apenas alguns metros à frente, o ronco de motocicletas era ouvido em alta aceleração. Cinco motoboys com veículos dotados de baús costuravam por entre os carros, em um momento de lentidão, e passaram tirando fino das bicicletas, que estavam no canto direito da pista lenta. Com os braços, gesticularam, indicando mais uma vez para os ciclistas deixarem a pista, mesmo tendo direito a estar lá. “Essa é uma situação que enfrento todas as vezes.
AMEAÇA Quase na Via Expressa, um perueiro de uma van cinza, que acabara de embarcar passageiros em um ponto de ônibus, se irritou ao ter de trafegar atrás da bicicleta, já que o trânsito estava intenso e não havia como ultrapassar pela esquerda, nem espaço para passar pela mesma faixa ocupada pelos ciclistas. Depois de acelerar várias vezes, na tentativa de intimidar, o condutor finalmente conseguiu avançar. Mas, em vez de ir embora, emparelhou: “Sai com essa bicicleta daí, irresponsáveis. Se não estivesse trabalhando, descia aí e dava uma surra em vocês. Estão achando que são donos da rua?”, emendou, em meio a palavrões e outras ameaças, um homem de camisa vermelha que trabalhava como cobrador.
Pela Via Expressa, única forma de chegar ao extremo Oeste da cidade, a falta de espaço reservado para pedalar obriga ciclistas a se apertar ao máximo à direita, usar acostamentos e procurar estar visíveis o tempo todo para os carros. O ruído dos pneus que cortam o asfalto e o deslocamento de ar dos veículos que passam rente às áreas de escape deixam quem pedala alerta a todo momento. O ar pesado, poluído e as cores cinzentas de concreto dos edifícios e viadutos enfim aparecem, contrastando com o verde do extremo Leste da cidade, dominado pela natureza e um lugar mais seguro para bicicletas.
PELO RETROVISOR
Em sua edição de ontem, o Estado de Minas mostrou os desafios e os riscos enfrentados por quem pedala nos extremos da capital, desde o Parque Estadual da Serra do Rola Moça (Sul) até a Cidade Administrativa (Norte).