Jornal Estado de Minas

MP aciona Justiça por manutenção do Cemitério do Bonfim

Local sofre com furto de peças, vandalismo e abandono. Ministério Público recorrer à Justiça para obrigar prefeitura a garantir a conservação do mais tradicional cemitério de Belo Horizonte

Márcia Maria Cruz
Vários túmulos estão depredados e abandonados - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press
O vandalismo e o abandono matam lentamente o Cemitério do Bonfim, no bairro homônimo na Região Noroeste. Apesar do valor patrimonial e cultural do conjunto arquitetônico, que se transformou em atração turística devido aos mausoléus e esculturas imponentes nos túmulos construídos com mármore, bronze ou granito, o Bonfim está longe do destaque de cemitérios como o Père Lachaise, em Paris, e Ricoleta, em Buenos Aires. Parcialmente tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), o cemitério sofre com depredação, roubo de peças e sujeira.

Em meio à mudança na empresa terceirizada que faz a manutenção, as más condições levaram o Ministério Público a ajuizar uma ação contra a Prefeitura de Belo Horizonte e a Fundação de Parques Municipais, responsável pela administração do bem público. “É uma violação tanto do patrimônio cultural quanto do direito de quem tem seus familiares sepultados”, afirma o coordenador da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico, Marcos Paulo Souza Miranda. Com cerca de 17 mil túmulos divididos em 54 quadras, o cemitério não recebe novos mausoléus.

O trabalho artístico em mármore chama a atenção, mas não pode ser apreciado. O mato dificulta o acesso dos visitantes aos túmulos. O lixo atrai baratas e outros insetos.
Na quadra 12, um túmulo virou depósito onde foram colocados baldes com fiação e outros materiais descartados de uma reforma. Na quadra 13, as ruínas de um jazigo contrastam com edificações de alto valor artístico.

“Vemos uma quantidade de vasos em excelente estado jogados no chão. Se a família traz, é porque quer ornar o túmulo”, afirma Maria Moraes, de 50 anos, que vai, uma vez por semana, ao mausoléu onde esteve sepultada Irmã Benigna antes do processo de beatificação. Maria visita o túmulo todas as segundas-feiras para rezar o terço em agradecimento por uma graça alcançada.

Já Maria Nunes de Oliveira, de 71, vai todos os dias à sepultura de Irmã Benigna. Para ela, o número de cachorros e gatos perambulando pelo cemitério demonstra a negligência. “É um descaso com o espírito que já se foram e com quem vem aqui. O cemitério poderia ser um ponto turístico, porque tem túmulos lindíssimos, mas as pessoas não vêm aqui porque ficam com medo. Até em cidades bem menores, com menos recursos, os cemitérios são mais limpinhos”, queixa-se.

Problemas

Iluminação ruim, insuficiência de guardas municipais, inexistência de guaritas para controle de quem entra e sai e furto frequente de peças em mármore e bronze foram alguns dos problemas levantados pelo promotor. “Muitas pessoas entram durante o dia, bambeiam os parafusos das peças e voltam à noite para levá-las.” Cerca de 500 peças retiradas estão entulhadas em um quarto na sede administrativa. Crucifixos e esculturas roubadas são vendidos no mercado paralelo a preços altos.
Segundo o promotor, há indícios de participação de zeladores nas quadrilhas..