Excesso de carros, falta de infraestrutura viária, fiscalização insuficiente para uma malha tão grande e, principalmente, imperícia e imprudência de motoristas, como excesso de velocidade, pouca cautela sob chuva e cansaço. Velhos problemas para explicar novas tragédias, na avaliação de policiais rodoviários e de especialistas. Nos cinco primeiros dias do ano, pelo menos 18 pessoas morreram nas rodovias federais e estaduais mineiras em apenas seis acidentes, 12 delas entre a tarde de domingo e a madrugada de ontem. Em quatro desastres, a colisão frontal matou 12 pessoas (66% do total). Na BR-040, por exemplo, duas das quatro batidas foram de frente, mesmo com as melhorias estruturais da via depois da concessão à iniciativa privada
Os corpos das cinco pessoas que estavam no Fiat Siena que bateu de frente em uma carreta no km 672 da 040, em Carandaí, na Região Central do estado, foram liberados pelo Instituto Médico Legal (IML) de Conselheiro Lafaiete no fim da tarde de ontem. Segundo a família, eles devem ser enterrados hoje em Santa Luzia, na Grande BH. O veículo era dirigido por José Junio Siqueira, de 37 anos. Com ele estavam a mulher, Creuza Ferreira de Oliveira, de 37, o filho Pedro Henrique, de 1, e ainda a irmã de Creuza, Margarida Ferreira, de 47, e o marido dela, Roberto da Costa Santana, de 49. A família estava em um comboio que tinha outro veículo com cinco pessoas. No segundo carro, que não se envolveu no acidente, estavam dois filhos de Margarida e Roberto, o genro, Rafael Figueiredo Gonçalves, de 26, e outro filho de Creuza e Junio. “Estávamos voltando de Cabo Frio (RJ). Fui na frente e os observava pelo retrovisor o tempo todo. De repente, só escutei um barulho e vi a fumaça”, conta Rafael.
O Siena ainda bateu em outros dois carros depois de atingir a carreta. “É inexplicável o que aconteceu. O carro era novo, o trecho é uma reta e, apesar de termos pegado chuva alguns quilômetros antes, no momento da batida não chovia. Ele pode ter ficado com sono”, acredita Rafael. A família morava nos bairros Floramar e Tupi, Norte de BH, e costumava viajar todo fim de ano para o litoral fluminense ou capixaba.
Cerca de 100 quilômetros à frente na 040, já em Nova Lima, na Grande BH, a causa mais provável da batida de frente entre um Fiat Uno e uma carreta foi a chuva forte no momento da colisão que matou duas pessoas e um cachorro. Ambos os trechos dos acidentes passaram por reformas no pavimento e na sinalização horizontal recentemente, depois que a Via 040 incluiu o segmento entre Brasília e Juiz de Fora da rodovia.
Outra tragédia aconteceu na manhã de ontem, em Francisco Sá, no Norte de Minas, quando quatro pessoas morreram e duas ficaram feridas em um acidente, na BR-251. Entre os mortos no capotamento seguido de colisão em uma pedra estão duas crianças de uma família de Catuni, distrito de Francisco Sá.
Abuso
Para o inspetor Aristides Júnior, chefe da Comunicação Social da PRF em Minas, melhoria nas estradas pode ter encorajado os motoristas a aumentar a velocidade. “Diferentemente da 381, no trecho entre BH e Governador Valadares, a 040 em direção ao Rio é mais larga e possibilita mais chances de desenvolver maior velocidade”, afirma.
Sempre que chove nesse trecho da 040, ele diz que ocorrem acidentes graves. “Normalmente, quando o tráfego é intenso, mas não chega a travar a circulação, muito provavelmente um veículo que invadir a contramão encontrará outro na direção contrária”, avalia.
Das 18 mortes contabilizadas pelo Estado de Minas nos cinco primeiros dias do ano, 12 delas foram em trechos policiados pela PRF em menos de 24 horas. “Essa quantidade em um período de menos de um dia é muita. Nessa época de férias, os carros quase sempre viajam cheios”, completa o inspetor.
Para o professor da UFMG e especialista em engenharia de transportes, Ronaldo Guimarães Gouvêa, as tragédias são explicadas por seis fatores: tamanho da malha rodoviária do estado, frota crescente, aumento do hábito de viajar de carro, fiscalização insuficiente para o tamanho da malha, infraestrutura que não acompanha a demanda e imprudência dos motoristas. “A tendência é piorar, pois a frota vai crescer e percebo que a velocidade do processo de correção da malha é lenta em função das demandas criadas pela falta de uma fiscalização pesada e também pela imprudência”, afirma Gouvêa.
Mais mortes nas estaduais
Menos acidentes, mas com mais mortes nas rodovias estaduais e federais delegadas à Polícia Militar Rodoviária (PMRv), durante o feriado prolongado do réveillon. Segundo o balanço divulgado pela PMRv, entre as 8h de 31 de dezembro e as 6h de ontem, foram 280 acidentes, uma redução de 8,20% em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 305. O número de mortes subiu de 14 para 18, alta 28,57%. Já o número de feridos passou de 259 antes para 277 este ano, segundo o comandante da 1ª Companhia da PMRv Cláudio Antônio de Matos.
Ao todo, são 4,6 mil quilômetros de rodovias federais delegadas à PMRv e 24,6 mil de rodovias estaduais. No entanto, a maior parte dos acidentes se concentrou na Grande BH. A imperícia é apontada como a principal causa dos acidentes.
Falta de atenção ao volante é a maior causa dos acidentes nas estradas estaduais (36%). Depois vêm excesso de velocidade (8,93%), derrapagem (7,86%), animal na pista (6,43%) e embriaguez (5,36%). O policial também lembra que houve um aumento de 5,08% na frota do estado, que passou de 8,8 milhões para 9,3 milhões. O teste do bafômetro foi feito por 997 motoristas e foram realizadas 11 prisões por embriaguez ao volante. Já no Natal, entre 24 e 29 de dezembro, a PMRv registrou 283 acidentes, com 304 feridos e 14 mortos. Nas estradas federais, a PRF apontou 498 acidentes, com 23 mortos e 498 feridos, entre 20 a 25 de dezembro. Entre 27 de dezembro e 1º de janeiro, foram 244 batidas, 223 feridos e oito mortes. (Colaborou Luiz Ribeiro)