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Estado de Minas

Pará de Minas está na iminência de racionamento devido à estiagem

Copasa já lançou mão de poços artesianos, desde 2012, de onde foram retirados 40% do volume necessário para completar a produção, ou seja, 80 litros/segundo


postado em 07/01/2015 06:00 / atualizado em 07/01/2015 07:18

Córrego Paciência tem captação reduzida em Pará de Minas por causa da constante falta de chuva(foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)
Córrego Paciência tem captação reduzida em Pará de Minas por causa da constante falta de chuva (foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)

O drama das torneiras sem água vivido pela população de Pará de Minas, no Centro-Oeste mineiro, no segundo semestre de 2014, voltou a assombrar os moradores. Foram até duas semanas de racionamento à época e a falta de chuva nos últimos dias reacendeu o alerta na cidade, onde os mananciais de captação superficial operam abaixo do nível normal. Para atingir a produção de 200 litros/segundo e atender à demanda do município, a Companhia de Saneamento Urbano (Copasa) já lançou mão de poços artesianos, desde 2012, de onde foram retirados 40% do volume necessário para completar a produção, ou seja, 80 litros/segundo.


Apesar de a Copasa informar, oficialmente, que é prematuro falar em racionamento, funcionários da empresa, que pediram para não ser identificados, admitem que a situação dos mananciais é crítica e que o rodízio será adotado, caso não chova nos próximos dias. Enquanto isso, a previsão da meteorologia indica um cenário negativo, sem chuvas, pelo menos até a próxima quinzena.

A Prefeitura de Pará de Minas também informou que o momento é de alerta. De acordo com o secretário de Comunicação, Luciano Pereira, o governo está atento para novas interrupções no abastecimento. “A situação já é crítica e pode piorar se não chover. Não recebemos um comunicado oficial, mas a expectativa é um novo racionamento vá ocorrer, afirma. Segundo Luciano, os problemas de abastecimento na cidade vêm desde 2001, com a primeira crise. Depois de alguns anos normalizada, a situação voltou a piorar em 2013 e 2014.

"Acabamos de sair de um longo e sofrido racionamento e o clima já é de mais falta d'água" - Jussara Leite Martins, auxiliar de serviços gerais (foto: Beto Magalhães/EM/DA Press)
O contrato de concessão para a prestação de serviços de água e esgoto foi firmado com a Copasa há 35 anos. Venceu em 2009, mas divergências em relação a novas regras impostas pela prefeitura inviabilizaram a renovação. Segundo Luciano, o novo plano de saneamento da cidade, elaborado em 2014, exige novos investimentos e prevê multas para casos de descumprimento. Além, disso, estabelece o repasse de 3,5% da receita da companhia à prefeitura, que seriam investidos em meio ambiente, gestão de recursos hídricos e saneamento. Foi nessa alíquota que a renovação esbarrou. Segundo a Copasa, o repasse não é economicamente viável porque a empresa opera no limite. Desde setembro, um processo licitatório está em andamento para contratação de nova prestadora de serviço, que pode ser anunciada em janeiro.

DESÂNIMO Enquanto a burocracia não se resolve e investimentos em novos reservatórios e fontes de captação não são feitos, a população sofre as consequências da falta de chuva. “Acabamos de sair de um longo e sofrido período de racionamento e o clima já é de mais falta d’água. Nas rádios, estão alertando de que novo racionamento vai começar”, conta a auxiliar de serviços gerais Jussara Leite Martins, de 26 anos. Moradora do Bairro Padre Libério, ela diz que precisou enfrentar longas filas no fim do ano passado para conseguir encher baldes d’água. A vizinha dela Luisa Antônia, de 51, viveu o mesmo drama. “Cheguei a comprar água mineral para tomar banho. Não quero passar por uma situação daquelas de novo”, disse.

Mesmo com o clima ruim na cidade e com a falta de chuvas, o chefe de Operações Metropolitanas da Copasa, João Andrade, garante que a produção não será prejudicada, a ponto de ter novo racionamento. “Os poços artesianos são capazes de gerar até 160 litros/segundo e apenas metade vem sendo usada”, afirma.

 

Preocupação no Norte de Minas


A preocupação diante de índices pluviométricos pequenos e do nível baixo dos reservatórios e mananciais é crescente no Norte de Minas, região historicamente castigada por estiagens. Em Francisco Sá, moradores enfrentam o racionamento de água em uma época que deveria ser chuvosa. A barragem do Rio São Domingos, que abastece a cidade, está com menos 10% de capacidade. “Se não chover em 60 dias, vai secar totalmente”, alerta o prefeito Denílson Silveira (PCdoB).

Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) indicam que, do fim de outubro até agora, foram registrados 180 milímetros em Francisco Sá. Na zona rural do município, cerca de 7 mil famílias de 100 comunidades são atendidas por caminhões-pipa, que retiravam água da barragem do Rio São Domingos, a cinco quilômetros da área urbana. Mas como o nível do reservatório baixou muito, a prefeitura passou a abastecer os caminhões na barragem de Cana Brava, a 14 quilômetros da sede. Os moradores da área urbana recebem água em casa somente entre as 17h e as 23h.

A barragem do Bico da Pedra, em Janaúba, está com 33,2% da capacidade (10,45m abaixo do nível normal). O atual percentual está pouco acima do nível mais baixo que o reservastório atingiu no período crítico da seca em 2014, de 31,3%, no fim de outubro. Com capacidade total para 560 milhões de metros cúbicos, a barragem do Bico da Pedra, construída no Rio Gorutuba, garante água para Janaúba e Nova Porteirinha, que, por enquanto não têm no abastecimento. O menor nível da barragem ocorreu no segundo semestre de 2013, quando chegou até 21,7%.

Os 345 pequenos produtores do projeto de irrigação do Rio Gorutuba tiveram redução de 44% no fornecimento de água. Eles abastecem as plantações em sistema de rodízio de dois em dois dias. “A situação é muito preocupante. Tem que chover para melhorar o nível da barragem. A economia da região depende da agricultura irrigada”, alerta o gerente do Distrito de Irrigação do Gorutuba, Ricardo Carreiro.

são francisco A apreensão diante da pouca chuva ocorre também nos municípios banhados pelo Rio São Francisco, que, em outubro, atingiu um dos níveis mais baixos da história, quando a nascente secou, em São Roque de Minas. O volume do Velho Chico é regularizado pela Usina Hidrelétrica de Três Marias, que está com 10,26% da capacidade.

Em Pirapora, primeira cidade ribeirinha abaixo da Usina de Três Marias, o volume do São Francisco chegou a aumentar depois de uma enchente no início de dezembro, mas caiu novamente. O Balneário das Duchas, ponto de lazer em Pirapora, já está com turismo prejudicado pela falta de chuva
O vapor Benjamin Guimarães, que parou de navegar em agosto por causa do nível reduzido do Velho Chico, continua atracado no porto de Pirapora.

“Ainda não houve chuva suficiente para elevar o nível do rio, a fim de que o vapor possa voltar a circular”, afirma o secretário de Turismo, Anselmo Rocha. “É preciso chover acima da barragem de Três Marias, para que o volume da represa aumente e regularize o nível do São Francisco”, diz. (Luiz Ribeiro)


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