Para diminuir chances de transmissão de febre maculosa, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) passou a recomendar à população que não fique longos períodos em áreas da orla da Lagoa da Pampulha por onde passam capivaras e evite sentar-se ou deitar-se na grama nesses locais. A medida faz parte de protocolo sobre a doença, adotado depois que exames mostraram que capivaras recolhidas na região estavam contaminados pela bactéria causadora da febre. Nos próximos dias, profissionais de centros de saúde também receberão nota técnica com orientações sobre cuidados com a enfermidade.
Segundo a recomendação da prefeitura, as pessoas não devem permanecer muito tempo em áreas infestadas pelo carrapato-estrela, transmissor da doença, caso das beiras ou orlas de lagoas, parques e áreas de gramados com presença de capivaras. Caso a população vá até esses locais, a sugestão é evitar piqueniques e práticas que obriguem a sentar-se ou deitar-se na grama. O material é distribuído durante visitas domiciliares feitas pelos agentes de combate a endemias da Regional Pampulha e está disponível no site da PBH, no portal da saúde.
O vice-prefeito de Belo Horizonte e secretário municipal de Meio Ambiente, Délio Malheiros, diz que as recomendações fazem parte de um protocolo seguido pela PBH, com anuência de cerca de 15 profissionais de universidades, órgãos ambientais, da própria prefeitura e do Ministério Público. A iniciativa ocorre depois que 28 das 46 capivaras recolhidas na orla da lagoa apresentaram contaminação pela bactéria Rickettsia rickettsii, causadora da febre maculosa. Apesar das recomendações, Malheiros diz não ser necessário que as pessoas deixem de frequentar a orla da lagoa ou o parque ecológico. “O que não é recomendável, por exemplo, é sentar-se ou deitar-se nas beiradas, onde passa uma capivara, ficando por longos períodos nesses espaços”, afirma.
Nessa terça-feira, uma família com oito capivaras nadava próximo ao parque ecológico.
Esterilização Délio Malheiros reafirmou ontem que a esterilização será a medida adotada para resolver a situação das capivaras, por meio de vasectomia nos machos e ligadura de trompas nas fêmeas. Dessa forma, as capivaras serão reconduzidas à orla da lagoa e não mais destinadas a outro hábitat, depois que forem esterilizadas. Segundo o vice-prefeito, a decisão de manter uma população controlada é melhor do que remover as capivaras. “Sem os roedores, os carrapatos procurariam outro hospedeiro, o que poderia desequilibrar a situação”, defende.
Para que a esterilização comece, é necessário que a prefeitura submeta um plano técnico à aprovação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o que ainda não ocorreu. “Já começamos conversas com técnicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para definir a melhor forma de fazer esse procedimento”, diz Malheiros. O analista ambiental Junio Augusto Silva, do Núcleo de Fauna Silvestre do Ibama em Minas Gerais, explica que, apesar de já ter sido ventilada a ideia de maneira informal, é necessário que o órgão seja oficiado pela prefeitura para que analise todos os procedimentos.
Em Minas Gerais, nos últimos sete anos, foram notificados 93 casos de febre maculosa, sendo que em 39 deles (41,9%) os pacientes morreram. Para Mariana Gontijo de Brito, da Coordenadoria de Zoonoses e Vigilância de Fatores de Risco Biológico da Secretaria de Estado de Saúde, o índice de letalidade da doença é alto. “Pode levar a pessoa à morte se o paciente não procurar rapidamente o tratamento. Dependendo da situação, a febre maculosa pode se confundir com dengue ou leptospirose. Por isso, a presença do carrapato no corpo da pessoa deve ser informada ao médico, pois é fundamental entrar com o antibiótico específico”, afirma Mariana.
A médica infectologista Tânia Marcial lembra que a doença causa uma inflamação dos vasos sanguíneos, num quadro conhecido como vasculite.