Ouro Preto – Um ano depois de ser interditada pelo Corpo de Bombeiros, a Casa de Ópera – Teatro Municipal de Ouro Preto, na Região Central, vê uma luz se acender na sua trajetória de 244 anos. O secretário municipal de Cultura e Patrimônio, José Alberto Pinheiro, informa que já entregou todos os documentos ao Executivo para a licitação da obra de recuperação da casa de espetáculos. “Os serviços começam no início deste ano, incluindo parte elétrica e cenografia, com projeto feito por um professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)”, afirmou o secretário.
Ostentando o título, por enquanto interrompido, de mais antigo teatro em funcionamento das Américas, a Casa de Ópera vem atravessando meses dramáticos em sua história. O fechamento ocorreu em janeiro de 2014 devido à falta de extintores de incêndio, graves problemas na estrutura e danificação do sistema elétrico e madeirame, além de riscos para trabalhadores, visitantes e público dos shows, peças e outras atividades artísticas. À época, em entrevista ao Estado de Minas, o comandante da 3ª Companhia, tenente Márcio Gustavo Guerra de Toledo, foi categórico depois de fazer vistoria e interditar o espaço: “Há muitas falhas no projeto de combate a incêndios”.
Inaugurado em 6 de julho de 1770, dia do aniversário do então rei de Portugal, dom João VI, o teatro está sob administração da prefeitura local, via Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio. Segundo as determinações dos bombeiros, a interdição impediu a circulação de pessoas no interior da casa de espetáculo, ficando vedada, portanto, a permanência de qualquer um na plateia, palco, camarins e outras áreas.
Mesmo com o aceno das obras, muitos moradores veem a intervenção com descrença.
PIONEIRO Erguido no Largo do Carmo, a Casa de Ópera tem formato de lira, sendo um dos poucos teatros no mundo que recriam o instrumento símbolo do nascimento da ópera. Com a sua acústica perfeita, está entre as grandes paixões de cantores líricos e pesquisadores da obra, tanto pela beleza como pela longevidade. Estudos da cantora lírica Rosana Marreco Brescia, que fez doutorado sobre o tema na Universidade de Sorbonne, em Paris (França), mostram que, no Brasil, os teatros de Chica da Silva, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e o da Praia, em Salvador (BA), foram pioneiros, mas saíram de cena e do mapa.
O teatro foi construído pelo coronel João de Souza Lisboa, com provável projeto arquitetônico de Mateus Garcia, seguindo as linhas do barroco italiano desaparecidas na mudança da fachada em 1861. Há uma série de curiosidades de bastidores. Na época, apenas os homens podiam subir ao palco e faziam também os papéis femininos, travestidos, mas a Casa da Ópera quebrou esta tradição. Há registros de mulheres em cena, embora a rainha dona Maria I proibisse tal prática.
No final do século 18 e início do 19, Ouro Preto era uma cidade efervescente, com vida cultural muito ativa e os textos eram apresentados em português e traduzidos de peças de Molière (1622-1673), Calderón de La Barca (1600-1681) e outros autores europeus..