Jornal Estado de Minas

Mortes no Pico do Itacolomi, em Ouro Preto, ainda são mistério

Corpos achados em leito de córrego em Ouro Preto podem ser de irmãos chilenos e nada foi levado de uma mochila, carregada de pedras preciosas. Contaminação de água preocupa

Jorge Macedo - especial para o EM
Gustavo Werneck


Policiais examinam pertences achados em uma das mochilas, inclusive carteira de idoso de um dos chilenos (detalhe) - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Ouro Preto – A localização ontem e na terça-feira de dois corpos na área de entorno do Parque Estadual do Pico do Itacolomi, em Ouro Preto, na Região Central, chocou a população e preocupa especialmente os moradores do Bairro Nossa Senhora do Carmo, conhecido como Pocinho, temerosos da contaminação das águas que abastecem as moradias, pois os corpos estavam perto do leito de um córrego. A delegada Larissa Mascotte investiga o caso e, segundo informou, a suspeita é de que os cadáveres em avançado estado de decomposição sejam dos irmãos chilenos Alfredo Leonardo Foster Huaiqueche, de 71 anos, e Juan Roberto Foster Huaiqueche, de 65. Devido ao estado dos corpos, a polícia acredita que eles tenham morrido há dois meses.

O investigador William de Almeida Alves esteve no local e disse que os corpos foram encontrados nos dois dias, em local de difícil acesso, sendo necessário apoio de equipe de bombeiros para transportá-los. Ontem mesmo foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), em Belo Horizonte. A polícia foi chamada no primeiro dia por um funcionário do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG, antigo Cefet), que vistoriava a estação de abastecimento e sentiu o forte cheiro de material em decomposição. O segundo corpo foi encontrado por um funcionário do parque, vinculado ao Instituto Estadual de Florestas (IEF).

De acordo com a delegada, não há sinais de violência nos corpos ou indício de roubo. A suspeita de que os dois sejam chilenos está na mochila encontrada ao lado do corpo de Alfredo, que continha documentos, inclusive uma carteira de idoso expedida pela Prefeitura de Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes, e do metrô de Santiago do Chile; notas em real e peso (moeda do Chile); máquina de calcular; um caderno semelhante a um diário, estragado pela água, mas com indicativo da viagem a Minas; celular, que também ficou molhado, e outros objetos.

Um detalhe que chamou a atenção da delegada Larissa e do investigador William é um grande número de pedras preciosas encontradas na mochila, que foram encaminhadas para perícia. “Não sabemos ainda a causa, pode ter sido um acidente, uma queda nas pedras, ou que os dois homens tenham sido arrastados pela chuva”, disse a delegada.
A outra mochila estava aberta e vazia, e os pertences, segundo Larissa, podem ter sido arrastados pela chuva. Na Delegacia Regional de Ouro Preto, outros investigadores não descartam a possibilidade de que a dupla tenha sido atingida por raio, que atinge frequentemente a região.

ÚLTIMO CONTATO Outra forte suspeita de que os corpos sejam de dois chilenos, que, no momento do possível acidente, estariam em área proibida à visitação, está ligada à ocorrência registrada em 25 de novembro, por Angélica da Glória Huaiqueche, residente em Tiradentes, filha de Alfredo. Ontem, ela era esperada em Ouro Preto para tentar o reconhecimento de roupas e cintos encontrados no corpo de uma das vítimas. Angélica revelou à polícia que o último contato com o pai, via telefone celular, ocorreu em 6 de novembro.

Os corpos foram encontrados sobre pedras, distantes mais de 200 metros um do outro, à beira de um córrego, o que levou o Serviço Municipal de Águas e Esgotos (Semae) a expedir comunicado tranquilizando a população de Ouro Preto a respeito do consumo. Já o IFMG divulgou nota relatando que um dos corpos estava próximo ao manancial que abastece a sua unidade de ensino. Dessa forma, foi suspenso o consumo de água e os funcionários do órgão que estão trabalhando, mesmo em período de férias dos alunos, estão bebendo água mineral. Mesmo assim, moradores do Pocinho estão preocupados. Na casa de Braz e Marta da Silva, só entra água mineral para beber e cozinhar. “Estamos tristes com as mortes e preocupados, pois ninguém veio ao bairro para esclarecer a situação. A gente fica com medo e por isso compra o produto”, disse Marta.

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