O pai das duas meninas assassinadas pela mãe dentro de um motel de Itabira, na Região Central de Minas Gerais, disse que já previa o pior por causa do histórico da ex-companheira. O homem, que não quis se identificar, se diz irritado com a demora da Justiça brasileira, pois já tinha ganho a guarda das crianças e elas continuavam com a mulher, que se matou depois de cometer os assassinatos.
O relacionamento entre o homem e a funcionária da prefeitura de João Monlevade, Ana Flavia Marques Teixeira, de 34 anos, começou há cinco anos. Eles tiveram duas filhas, uma menina de 4 anos e outra de dez meses. A relação conturbada provocou uma sequência de idas e vindas do casal. A cada briga, a situação ficava mais crítica. “Ela nunca aceitou ser contrariada. Se você fosse uma pessoa que não fizesse o que ela queria, não servia mais para ela. Sempre usava as meninas para justificar todos os atos dela, principalmente os erros”, comenta o ex-companheiro.
Depois da última separação do casal, há aproximadamente um ano e meio, Ana Flávia, segundo o homem, o proibiu de encontrar com as filhas. Por causa disso, começou uma batalha judicial. “Ela não deixava ninguém se aproximar das crianças. Ameaçou familiares, tanto da parte materna quando a paterna”, contou.
Em novembro de 2014, a Justiça considerou a situação como alienação parental e determinou o ganho da guarda das crianças para o pai. “Ela foi intimada por várias vezes durante o processo, e não cumpriu. Até mesmo as visitas ela não deixou. Por isso, a Justiça determinou a transferência da guarda. Em dezembro, ela conseguiu férias do trabalho e sumiu com as crianças”, comentou o ex-companheiro.
Na noite de domingo, a mulher foi encontrada morta em um motel junto com as filhas. De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar (PM), Ana Flávia chegou de carro ao local na Rua Humberto Campos, Bairro Ribeiro de Cima, por volta de 3h50. Ela passou o dia no quarto e pediu uma caipvodca, um espeto de frango e um banho de espuma, por volta de 15h, quando também solicitou que a chamassem às 17h. No horário marcado, as funcionárias ligaram para o quarto e como não foram atendidas, se dirigiram até lá. Bateram na porta e não tiveram resposta.
As funcionárias olharam por baixo da porta e viram a mulher parada, sem mostrar qualquer reação, por isso resolveram chamar a PM. Os militares usaram uma chave reserva para entrar no quarto, quando depararam com a tragédia familiar. A menina mais velha estava deitada sobre a cama ao lado da irmã, que estava em um bebê conforto. Ana Flávia estava enforcada e pendurada com um suporte para toalhas na parede do quarto.
Conforme a polícia, sobre a mesa havia um bilhete com o telefone do pai da enfermeira – avô das crianças – e o recado: “meu ex-marido acabou com minha vida e das minhas filhas”. De acordo com a PM, Ana Flávia se separou e perdeu a guarda da bebê de dez meses para o ex-marido. Desde que tomou conhecimento da ordem judicial para entregar a menina, em dezembro, desapareceu com as filhas.
Justiça lenta
Ao comentar sobre o crime, o ex-companheiro de Ana Flávia e pai das crianças, alega que já esperava o pior. “Sempre passou o pior na minha cabeça. O histórico dela dizia que iria fazer isso, e ela falou várias vezes que iria cometer o crime. As pessoas aguardaram acontecer. Recebi uma ligação de psicólogas dizendo que conversou com Ana Flávia. Ela falou com a profissional, que me pediu anonimato por medo, que o desejo dela, às vezes, era de matar as meninas e depois se matar”, contou.
O homem também faz uma crítica a Justiça. “O sistema é lento. As pessoas às vezes não dão muito valor no que você fala. Acham que era uma briga de casal. Acham que ali era um pai que estava lá para prejudicar a mãe, mas era para proteger as crianças”.(Com informações de Luana Cruz)