Se o sol nasce para todos, a sombra é artigo de luxo no verão brasileiro. No dia em que Belo Horizonte registrou a maior temperatura da estação e de 2015, com 33,9 graus, por volta das 14h30, no ponto de medição meteorológica na Pampulha, muita gente tentou se esconder dos raios ultravioletas, mas nem todos tiveram a mesma sorte. Dono de padaria, garis, carteiros, atletas e domésticas contaram ao Estado de Minas o que fazem para driblar o calor.
Se alguns sofrem com a alta temperatura, outros estão em profissões cobiçadas. Fazer gelo ou ficar horas na piscina para aulas de natação se torna um sonho diante do sol a pino. Com a temperatura acima da média para o período, 28,2 graus, o desconforto fica maior devido à baixa umidade relativa do ar, com média de 30%, que deixa a cidade em estado de atenção.
Querendo ou não, passar roupa é atividade obrigatória em qualquer casa de família. No verão, a atividade deixa qualquer um de cabelo em pé, ainda mais se tiver diante dos olhos pilhas de toalhas, lençóis, calças, vestidos e peças íntimas. Amanda da Silva Andrade, de 20 anos, encara a tarefa com bom humor, mas toma cuidados: uma roupa mais fresquinha, muita água e, se o calor estiver insuportável, janela da área de serviço aberta.
Grávida de quatro meses, a carteira Carolina Teixeira, de 38, não deixa de se hidratar e sempre usa o boné. “Procuramos água e sombra, que é o oásis dos carteiros. Quando a gente chega para deixar a carta, vem sempre alguém com água para nos oferecer”, diz.
O dia mais quente do ano também foi complicado para o advogado Paulo Roberto Boggione, de 52. Proprietário da padaria Trigo Bento, na Vila Paris, Centro-Sul, ele teve que assumir a produção de pães depois que o padeiro passou mal por causa da sensação térmica. “Ele começou a suar muito e disse que não havia dormido bem devido à alta temperatura.”
O boné foi a alternativa que o ajudante Pedro Henrique de Almeida, de 19, encontrou para se proteger do sol enquanto manejava um martelete para furar o asfalto em obra na Praça da Assembleia Legislativa, no Bairro Santo Agostinho.
O gari Ueliton Henrique de Souza, de 36, leva consigo uma garrafa de água, que precisa ser recarregada. Debaixo de sol, ele e o colega Marcelo Gonçalves, de 42, sonhavam com a possibilidade de usar bermudas como uniforme. “No Rio de Janeiro, os garis já trabalham de bermudas. Poderia ser assim também aqui”, sugere Ueliton. A medida poderia ser adotada em BH também, pois o verão deve ser um dos mais quentes da capital, alerta o meteorologista do TempoClima PUC Minas Dayan Diniz de Carvalho.
PISCINA QUENTE Recordista mundial dos 200 metros, o nadador Ricardo Mattioli, de 58, se dedica às aulas de natação e fica na piscina em média cinco horas por dia. “Até a água da piscina está quente. Mesmo sem nenhum aquecimento, a temperatura é de 32 graus”, diz.