Jornal Estado de Minas

Motoristas que fazem transporte clandestino em Confins ignoram blitze e raiva de taxistas

Mesmo com o aumento de blitzes e vistorias e protesto de taxistas, os chamados "piolhos" abordam passageiros no aeroporto internacional sem problemas

Mateus Parreiras

Motorista de transporte clandestino aborda livremente um passageiro na área de desembarque do terminal - Foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS


Retaliando ameaças e burlando a fiscalização, os motoristas que fazem transporte clandestino de passageiros no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, ocupam espaços de frente para os fiscais, em volta dos táxis permitidos e até no estacionamento do terminal. Depois que os taxistas bloquearam a LMG-800, saída do aeroporto, na segunda-feira, em protesto contra a ação dos chamados “piolhos”, ontem a Polícia Militar e fiscais do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) fizeram blitz na rodovia e ampliaram vistorias nas calçadas e no saguão de Confins, mas não detiveram ninguém por transporte ilegal.

A reportagem do EM, entretanto flagrou motoristas sem permissão abordando passageiros entre os agentes das empresas de táxi permissionárias e os fiscais e levando para veículos sem licença, ainda que em número menor do que o habitual.

A manifestação de segunda-feira reuniu dezenas de taxistas credenciados. Eles fecharam a LMG-800, ligação entre o aeroporto e a Linha Verde. Depois de muitos desentendimentos com os “piolhos” a gota d’água para a categoria foi uma briga no sábado entre motoristas regulares e irregulares. Segundo os taxistas, os “piolhos” voltaram dando tiros e houve tumulto. Ninguém se feriu ou foi detido.

O Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir) diz que pelo menos 100 “piolhos”atuam em Confins. Atualmente, existem 500 veículos autorizados para transportar passageiros em Confins, entre táxis metropolitanos e de cooperativas.

A fiscalização não intimida os clandestinos.
Ontem, a reportagem observou pelo menos três “piolhos” oferecendo transporte ilegal no saguão principal, entre os agentes de cooperativas de táxi. Como atuam informalmente, em pequenos grupos e sem caracterização, é difícil identificá-los. Os taxistas, por exemplo, usam coletes de cores fortes. Para enganar, alguns clandestinos seguram placas de papel com nomes genéricos na saída do desembarque, tentando se passar por motoristas de empresas que buscam funcionários ou de serviços transfer para turistas. Eles adotam essa abordagem para atrair passageiros. Outros irregulares simplesmente chegam perto de viajantes empurrando carrinhos cheios de malas e repetem a oferta: “Táxi, táxi, táxi”. O preço é atrativo e vai de R$ 90 a R$ 70. O preço tabelado dos táxis é R$ 117 até BH.

A reportagem apurou que assim que a operação dos policiais e do DER foi montada, na saída de Confins, os “piolhos” marcaram reunião por celular para decidir o que fazer. O local escolhido é um posto de combustíveis no início da Linha Verde, que é usado por eles para abastecimento, manutenção e apoio, como se fossem uma cooperativa legal.

A fiscalização contou com duas viaturas de PM e duas do DER, mas ninguém foi detido por transporte irregular e nenhum veículo foi apreendido. A assessoria de imprensa do DER-MG informou que faz ações rotineiras e ostensivas em áreas próximas ao aeroporto em conjunto com a PM. “Só no ano passado foram 5,6 mil ações de fiscalização no estado. Do total, 40% foram promovidas em Confins.
Em todo o estado, foram apreendidos 2 mil táxis clandestinos e aplicadas 2,7 mil multas”.

Taxistas credenciados chegaram a bloquear a LMG-800, saída do aeroporto, na segunda-feira, para protestar contra a ação dos motoristas irregulares - Foto: PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS
AÇÃO LIVRE

Taxistas consultados pela reportagem dizem que a ação dos atravessadores e dos transportadores ilegais ocorre sem preocupação. “Eles (‘piolhos’) estacionam até mesmo em volta da garagem do nosso ponto de apoio (táxis metropolitanos). Comem na nossa lanchonete e estacionam no entorno do aeroporto”, afirma um motorista credenciados. “Usam celulares para transferir os clientes e revezar o lugar no estacionamento, que acaba saindo baratinho porque não ficam mais de uma hora estacionados”, conta outro taxista, de Lagoa Santa.

O Sincavir afirma que a ação contra os “piolhos” só terá efeito com fiscalização mais rigorosa e a partir da reorganização da área de desembarque do terminal, com maior presença dos serviços de táxis legalizados. “Queremos fiscalização mais ostensiva. Não vejo outra maneira: tem de ser a presença da PM, do DER-MG, trabalho em conjunto com a Infraero para coibir o transporte com carros particulares”, afirma o presidente da entidade, Ricardo Faedda. “O aeroporto está em constante transformação. Mudando a forma de desembarcar, com mais guichês de táxis no caminho dos passageiros poderíamos inibir os clandestinos e facilitar aos passageiros o acesso ao transporte legal”, sugere.

A BH Airport, que administra o aeroporto, informou que orienta os passageiros sobre o risco do transporte clandestino por meio de mensagens no sistema de som, nos painéis de informações de voo e em cartazes nas áreas de desembarque. Informou também que o terminal é monitorado por câmeras e quando a ação de clandestinos é percebida, aciona a polícia e a fiscalização.

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