A revitalização do entorno da Igreja São Francisco, na orla da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, é uma das apostas da Fundação Municipal de Cultura (FMC) para alcançar o reconhecimento do Conjunto Moderno da Pampulha como Patrimônio Cultural da Humanidade. As mudanças em frente à igrejinha e na Praça Dino Barbieri ainda não têm previsão para começar e incluem obras, além de alterações de trânsito.
Segundo o gerente de projetos urbanos da Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Ricardo Cordeiro, as mudanças têm o objetivo de garantir que pedestres e turistas tenham mais conforto e possam usufruir de uma área de lazer maior." A Avenida Otacílio Negrão de Lima se divide em duas vias no entorno da praça, uma logo à frente da igrejinha da Pampulha e outra mais acima. Vamos redirecionar todo o tráfego de veículos para essa via situada mais longe da igrejinha e fechar completamente o trânsito na porção próxima, de forma que pedestres, ciclistas e turistas tenham mais segurança no local. Para que não haja perda da capacidade viária, as vagas de estacionamento que ocupavam a porção superior da via foram extintas e darão lugar a mais pistas para tráfego", explica o gerente.
De acordo como presidente da FMC, Leônidas Oliveira, os veículos que atualmente passam em frente à igrejinha danificam a estrutura porque a trepidação contribui para a dilatação. “A arquitetura é muito sensível. É uma construção em parabólica, feita na época em que não havia muitas construções com esta forma”.
Para Leônidas, não haverá perdas em relação ao trânsito, pois o tráfego continuará na rua de cima da Praça Dino Barbieri com a mesma quantidade de pistas. Ele acredita que perda muito maior seria deixar que a presença dos carros estragasse o patrimônio da cidade. “Ao fechar esta rua da igrejinha e recuperar o piso original, se faz um projeto para voltar ao ambiente como era na década de 1940”, explica.
Conforme o presidente da FMC, a prioridade para a circulação de pessoas em detrimento de carros nas áreas turísticas é uma tendência vista em cidades desenvolvidas. Esse é um dos critérios que indica a valorização do patrimônio cultural e que pode ajudar a Pampulha a alcançar o reconhecimento mundial.
RESGATE
O entorno da igrejinha vai ganhar nova iluminação e os jardins de Burle Marx serão recuperados de acordo com projeto original. Além desse prédio, o Museu de Arte da Pampulha passará, em meados deste ano, por reforma. O projeto está pronto e será executado com recursos do PAC Cidades Históricas com orçamento de R$5 milhões. De acordo com Oliveira, todas essas obras fazem parte da mobilização para conseguir o título de Patrimônio da Humanidade. O gargalo para o objetivo ainda é a revitalização do Iate Tênis Clube, que é uma propriedade privada, mas a FMC está procurando uma solução junto à administração do clube.
CANDIDATURA
A Pampulha está na lista indicativa do Brasil desde 1996 e a candidatura a Patrimônio Cultural da Humanidade foi retomada pela prefeitura em dezembro de 2012. Um dossiê sobre o cartão-postal foi enviado à Unesco. O Conjunto Moderno da Pampulha inclui os edifícios e jardins da Igreja de São Francisco de Assis, o atual Museu de Arte da Pampulha (antigo Cassino), a Casa do Baile (atual Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), o Iate Golfe Clube (hoje Iate Tênis Clube), além da residência de Juscelino Kubitschek, o espelho d'água e a orla da Lagoa no trecho que os articula.
MORADORES
As mudanças no entorno do cartão-postal preocupam moradores, que dizem não terem participado do planejamento. O vice-presidente da Associação Pro-Civitas dos Bairros São Luís e São José, Claude René Camille Mines, afirma que a prefeitura não consultou os moradores para montagem do projeto. O que mais preocupa Mines é a migração do trânsito da orla – de onde serão extintas vagas de estacionamento – para as ruas internas do bairro. “Ali o trânsito já é infernal e vai piorar”, reclama. Mines cita como exemplo a experiência da proibição de estacionamento no entorno do Mineirão, que levou torcedores a ocuparem de forma caótica os bairros São Luis e Ouro Preto em dias de jogos.