Nada de azul – ao contrário do filme famoso –, a cor mais quente é o amarelo. E ele está presente nos jardins das casas e canteiros de avenidas, debruçado sobre muros, encostado nas varandas, descendo em cascata pelos prédios, enfim, embelezando Belo Horizonte. Neste verão sem chuvas e com temperaturas acima de 30 graus, árvores, arbustos e trepadeiras estão mais vistosos do que nunca, e alguns espécimes, como a frondosa canafístula ou faveiro, deixam um rastro colorido: quando as flores caem, como ocorre agora, transformam passeios e cantos de meio-fio num tapete. Uns reclamam dos efeitos da floração, pela sujeira que causa, enquanto outros aplaudem mais este show da natureza.
Na Praça Guimarães Rosa, no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste da capital, seis canafístulas enchem os olhos. Apontando a copa, a engenheira agrônoma Mariza Rizck, da Gerência de Arborização e Áreas Verdes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), conta que a árvore alcança de 15 a 25 metros de altura. Um quarteirão acima, na Avenida José Cândido da Silveira, outras tantas dão o ar da graça, destacando-se em meio ao parque-linear. Da janela do apartamento, a aposentada Maria Sílvia Campos do Amaral diz que olhar a paisagem, no verão, é sinal de felicidade. “Elas humanizam a cidade e harmonizam concreto, veículos e habitantes. Dá vontade de ficar ali debaixo, sentada, meditando”.
Não muito longe dali, na esquina das ruas João Gualberto Filho e Célia de Castro, no Bairro Sagrada Família, canafístulas frondosas proporcionam ótima sombra à Escola Estadual Sagrada Família e orgulham os moradores. Já no vizinho Santa Tereza, a enfermeira Mariana Alencar Queiroz, moradora de um apartamento no nono andar, admira duas gigantescas que enxerga da janela e estão no terreno da Escola Estadual José Bonifácio.
“Depois que minha filha Júlia nasceu, há seis meses, voltei a aproveitar a varanda do apartamento. Neste calorão, tenho deixado a menina mais à vontade. Daqui, posso ver a Serra do Curral, o arvoredo, os prédios e outras partes da cidade”, diz Mariana. A paisagem faz bem à enfermeira, que cresceu em meio à natureza e sente falta do verde no dia a dia. “Distraio muito olhando a serra e agora temos essas árvores em floração para completar o cenário.”
Belo Horizonte tem mais de meio milhão de árvores espalhadas pelas nove regionais, afora parques e áreas verdes, com predomínio das cores rosa e amarelo na floração, como ocorre agora. Até abril, conforme a SMMA, serão plantadas 54 mil novas mudas. No caso específico das canafístulas, um detalhe curioso: quando mais velhas, mais sombra proporcionam. Não é à toa que dezenas de moradores, de todas as gerações, aproveitam o local para bater papo ou fazer exercícios nos equipamentos. “No futuro, teremos mais flores amarelas em BH, já que agora foi plantada grande quantidade de barbatimão”, diz a engenheira agrônoma Mariza.
Efeitos
No Bairro Cidade Nova, a paleta de cores ambiental não chega a 50 tons de amarelo, numa alusão ao livro 50 tons de cinza, mas, procurando, há vários – do mais claro ao mais brilhante. Ainda na Praça Guimarães Rosa, uma residência exibe um hibisco carregado de flores e Mariza explica que são flores híbridas muito apreciadas em jardins. A poucos metros, na Praça Antônio Xavier, ela aponta um ipê-mirim, considerada arbusto, e o cosmos, herbácea com flores que lembram margaridas. Curiosamente, as duas plantas se enroscaram e garantiram um efeito bonito no espaço público.
Na Avenida Cristiano Machado, perto da passarela que dá acesso a um supermercado, dá para ver as alamandas que pendem das sacadas de um prédio comercial. O amarelo volta a resplandecer na Rua Mantena, no Bairro Ouro Preto, no Belvedere, na Região Centro-Sul, e no acesso ao aeroporto de Confins. Na Avenida do Contorno, no Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul, com a imponência da cássia imperial no canteiro central. Passeando pela Pampulha, uma moça de cabelo roxo admira a arborização urbana e brinca: “No verão passado, vi o filme Azul é a cor mais quente, mas, nesta estação, o amarelo em BH ganha de goleada”
DA COR DO OURO
Cássia imperial ou Chuva de ouro (foto)
(Cassia fistula)
Originária da Índia, tem altura de 10 a 15 metros e floração na primavera e no verão
Canafístula ou faveiro
(Peltoforum dubium)
Nativa do Brasil, tem altura entre 15 e 25 metros
Ipê-mirim
(Tecoma stans)
Arbusto de atinge 5 metros, nativa do méxico e Estados Unidos. De fácil disseminação
Cosmos
(Cosmos sulphureus)
De semeadura espontânea, floresce nesta época. A flor lembra a margarida
Alamanda (foto)
(Allamanda cathardica)
Trepadeira nativa do Brasil, floresce quase o ano todo
Fonte: Mariza Rizck, engenheira agrônoma da Gerência de Arborização e Áreas Verdes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA)
EM VIU
TAPETE VARRIDO COM ÁGUA
No exato momento em que a equipe do Estado de Minas fazia a reportagem na Praça Guimarães Rosa, no Bairro Cidade Nova, um funcionário da Prefeitura de Belo Horizonte “varria” o espaço público com água vinda de um caminhão-pipa. A cena irritou uma moradora, que desabafou: “Eles estão fazendo tudo errado. Deveria vir um gari para tirar todas as flores. Desse jeito, gasta-se água e não fica limpo direito”, disse a mulher, que não se identificou. E acrescentou: “Este tapete amarelo é lindo, por que não deixá-lo até acabar a floração? “