A seca prolongada e o risco de desabastecimento de água já comprometem a festa mais popular dos mineiros. A menos de um mês do carnaval, a folia foi cancelada em Oliveira, na Região Centro-Oeste, uma decisão drástica que pode ser adotada também por mais municípios onde o carnaval é tradicional, como a vizinha Itapecerica, que definirá hoje se manterá a festa. Ouro Preto, uma das cidades que mais recebe foliões de outros estados, já se prepara para um carnaval sem água, caso não chova nos próximos dias. Enquanto isso, a prefeitura começou um sistema de rodízio para abastecimento nos bairros.
O cancelamento do carnaval de Oliveira foi decidido na noite de terça-feira, durante reunião do prefeito João Batista de Sousa (PTB) com representantes do Poder Judiciário, Polícia Militar, Ministério Público e Câmara Municipal. O município tem 41 mil habitantes e chega a receber 15 mil turistas para a folia. O secretário municipal de Cultura, Cássio Silva, afirma que a vazão do rio que abastece a cidade está muito baixa, pior do que no ano passado. Em 2014, faltou água durante o carnaval. “A cidade já começou a fazer rodízio de água nas casas.
Cidade que promove um dos maiores carnavais do interior de Minas, Ouro Preto já vive situação dramática. Por causa da seca e das altas temperaturas, o município da Região Central do estado adotou um esquema de rodízio de água nos bairros. A ação emergencial pretende manter o abastecimento regular e igualitário entre as regiões altas e baixas. O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) criou uma escala de fornecimento e pediu a conscientização da população para economizar água.
Segundo o Semae, o rodízio é comum na cidade por causa da irregularidade de distribuição, principalmente para alcançar bairros nas partes mais altas. No entanto, a situação foi agravada pelo baixo nível de água nos reservatórios, o que dificulta a captação. Conforme o órgão, a medida é para evitar um racionamento extremo na cidade e não há previsão para encerramento do rodízio. O órgão informou que nascentes e rios de Ouro Preto estão secando com velocidade muito grande e não há perspectiva de chuva para os próximos dias, o que piora a situação.
Para o carnaval, o Semae ainda não conseguiu montar um plano especial, por causa das dificuldades atuais. O serviço está operando em esforço máximo para captação e distribuição, mas, segundo o órgão, se não chover nos próximos dias, vai faltar água nos dias de folia, quando a chegada de turistas aumenta a demanda.
Os bairros Bauxita, Saramenha e arredores são abastecidos todos os dias das 18h às 12h. O Alto da Cruz também recebe água diariamente entre as 7h e as 12h. Santa Cruz, Taquaral, Piedade e locais próximos a essas áreas são abastecidos gradativamente nos dias ímpares. Já as comunidades de Santa Efigênia, Padre Faria, Antônio Dias e regiões vizinhas recebem água nos dias pares.
O fornecimento de água para os morros Santana, Queimada, São Sebastião e São João é feito das 18h às as 7h. Nos demais bairros, por existir uma estrutura geográfica menos montanhosa, o sistema de abastecimento opera normalmente. Em casos pontuais, o fornecimento de água será realizado por caminhões pipa. O Semae orienta a população a fazer as tarefas que necessitam de consumo maior nos dias e horários em que é há abastecimento, para evitar a falta d’água.
AMARANTINA TEM PIOR CRISE
O distrito que enfrenta a pior situação em Ouro Preto é Amarantina. O Semae precisou montar um esquema especial de transferência de água da Estação Funil, em Cachoeira do Campo, para abastecer a população que sofre com a falta de água, uma vez que a captação que atende o distrito secou. “As fontes de captação vinham diminuindo gradativamente e hoje (ontem) chegou a um nível alarmante”, informou o Semae, por meio de sua assessoria de imprensa.
Na última semana, famílias inteiras ficaram dias sem água e foi preciso ter paciência para lidar com a seca nas torneiras. Até mesmo quem mora a poucos metros da estação de tratamento do distrito sofre com o problema. Caso da dona de casa Belmira de Oliveira Lopes, de 48 anos, que enfrentou desabastecimento entre a quinta-feira da semana passada e a segunda-feira. “Somente na segunda à noite, é que a água voltou. Foi um transtorno”, lembra.
Para não ficar totalmente sem água, ela e o marido criaram regras na casa, que tem um reservatório de mil litros. “Os banhos diminuíram e passaram a ser rápidos e nada de lavar o piso”, conta Belmira. A roupa da casa também ficou sem lavar e somente algumas peças da mãe dela, que é idosa, foram para a máquina. “Estamos com medo de que essa situação continue. Não gosto nem de pensar em viver assim, sem água”, lamenta o marido dela, Sílvio Lopes. Ontem, durante o dia, também não havia água na torneira, o que assustava ainda mais a família, já que a caixa d’água estava com nível abaixo da metade.
Uma das saídas da população para driblar o desabastecimento foi investir em mais um reservatório em casa, o que refletiu nas vendas em depósitos de material de construção. Dona de um desses estabelecimentos na cidade, Delli Maria dos Santos, de 57, conta que a venda de caixas d’água aumentou em 50% neste mês em relação a períodos normais.
Cansada de ter problemas com a quantidade e a qualidade da água no distrito, Delli montou, há alguns anos, seu próprio sistema de tratamento e bombeamento de água. “O problema de abastecimento aqui é histórico. Depois que construíram a estação de tratamento, há cerca de dois anos, eles diminuíram. Mas agora voltou a falta água. Como já havia me prevenido anos atrás, não tenho problemas hoje. Mas precisei fazer um investimento muito alto e ainda pago manutenção do sistema”, disse.
O Semae tenta agora conscientizar a comunidade de Amarantina para reduzir o consumo, porque a estação usada para levar água às casas também ajuda a abastecer outras 22 regiões da cidade histórica.