O apelo da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) para redução de 30% no consumo de água não depende apenas do consumidor doméstico.
Geralmente, as grandes indústrias não usam o recurso da Copasa”, explica Mário Cicareli, professor de hidrologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fundador da Potamos Engenharia e Hidrologia Ltda. Segundo ele, o apelo para economizar 30% não caberia a elas, uma vez que captam de poços, rios e reservatórios: “A mineração, por exemplo, dificilmente usa água da companhia.
Como a água da Copasa é tratada, segundo Cicareli, se torna cara para as grandes empresas, porque elas precisam de um volume maior para produção. “Na região metropolitana, por exemplo, o maior consumo é doméstico. Mas há indústrias que compram da Copasa para consumo mais nobre, que seria de um bebedouro para funcionários, entre outros”, lembra.
Mas, além de uma captação própria, há, prevista por lei, a feita por indústrias em áreas de interesse da companhia de saneamento. “É como se houvesse uma bacia, onde 50% da água devem ser captados pela Copasa e o restante por outros, entre eles, empresas”, diz. É nesses casos que o especialista aposta que as estratégias devem ser mais severas. Segundo ele, a Lei 9.433, da política nacional de recursos hídricos, prevê que, em caso de racionamento, o abastecimento da população é prioridade.
“Já está na hora de governo de Minas exigir isso. Nesse período de caças às bruxas, a Copasa pode requerer de imediato que a lei valha e reduzir, assim, as captações empresariais existentes que estão acima da própria captação da estatal. Isso já tem sido feito em São Paulo e lá as indústrias estimam prejuízo de 40%”, afirma.
LEVANTAMENTO
O primeiro passo para fazer valer a lei, segundo o especialista, é um levantamento completo para conhecer quantas empresas têm uso competitivo com a Copasa. “Chegou o momento de pedir a uma indústria, que estiver nesse perfil, para interromper essa captação”, avalia Cicareli. Mas, por enquanto, as próprias entidades representativas desse setor não têm dados sobre o assunto e, começam, agora, a traçar o perfil disso.
Segundo o economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Paulo Casaca, a falta de água já afeta as empresas, principalmente, do setor de bebidas e alimentos. “Todos os empresários estão preocupados, caso haja um racionamento”, afirma Paulo, informando que um levantamento da Fiemg sobre o assunto será concluído ainda esta semana. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) também fará o mesmo, porém, sem previsão de entrega dos dados.
No agronegócio, no qual a irrigação é considerada a vilã do consumo de água, economizar pode ser sinônimo de prejuízo. Isso porque, para cada cultura, é calculada a quantidade necessária para germinação, desenvolvimento, floração e colheita. “Ao cortar esse volume certo, o impacto é na produção”, avalia o analista de agronegócio da Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra.
Segundo ele, o produtor tem uma outorga d’água, no qual é limitada sua captação de água. “O agronegócio não está preparado para um racionamento. AProcurada pela reportagem para informar o consumo de água das grandes empresas, a Copasa não retornou as ligações telefônicas..