Em tempos de crise hídrica, moradores de Belo Horizonte cobram da Copasa maior rapidez nos consertos de vazamentos na rede de distribuição, responsável pela perda estimada de até 40% no fornecimento de água em Minas Gerais. Na Rua Herculano de Freitas, no Bairro Gutierrez, esquina com a avenida Raja Gabaglia, na Região Oeste, a descoberta de um cano furado gerou muitas ligações para o telefone de reclamações da operadora (115) denunciando o desperdício.
“Estava minando água na pista. Com a possibilidade de rodízio, é inadmissível ficar olhando a água limpa indo embora”, desabafa o advogado Arnold Dario Windenguer, de 38 anos, síndico do prédio da esquina, onde mora a mãe dele, Lídia. “Sou chato com isso. Estou preparando uma circular no prédio alertando para a necessidade de economizar no tempo do banho e na lavação da garagem”, alerta Windenguer. Síndico de sete prédios, ele conta ter tomado a providência de trancar a mangueira da garagem no depósito, como forma de obrigar o zelador a usar a vassoura para fazer a limpeza da garagem e das calçadas.
Na última quinta-feira, Windenguer entrou em contato com o síndico do condomínio em frente, que também registrou no mesmo dia reclamação na Copasa. Os reparos no cano, porém, somente foram feitos ontem pela Copasa, cinco dias depois de oficializada a reclamação. A boa notícia é que a concessionária de água iniciou o conserto às 14h30 e terminou às 20h40, sem recapeamento.
Outra consumidora que reclama é a advogada aposentada Dayse Rego de Oliveira, de 74: “Se a Copasa pede para a gente economizar água, ela teria de ser a primeira a dar o exemplo?”.
Segundo a Copasa, o tempo médio para consertos na rede é de nove horas, mas deve cair para quatro horas assim que for implantada a equipe especial de tapa-furos nos canos, com 40 homens, prevista para entrar em operação na semana que vem. Na Região Sudeste, a Copasa perderia apenas para a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), capaz de corrigir falhas em tubulações em 7,74 horas, em média. Em São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) informou que seus clientes esperam um dia, em média. E, no Rio, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) pode levar até 48 horas para fazer um reparo.
Empecilhos
Luciana Pacheco, coordenadora do setor de Manutenção e Operação do Distrito Oeste de Belo Horizonte, que abrange o Gutierrez, confirma ter recebido a ordem de serviço na última quinta-feira e tentado iniciar os trabalhos na sexta-feira. Foi impedida pela BHTrans, que alegou o maior volume de trânsito naquele dia para vetar a interdição da rua. O serviço chegou a ser agendado para o sábado, mas foi inviabilizado devido a uma demanda emergencial de rompimento de adutora no Bairro Buritis. Com equipe reduzida no plantão de fim de semana, o serviço acabou sendo adiado para segunda-feira. “As equipes têm ordens para ficar no local até sanar os vazamentos, seja a hora que for. Trabalhamos 24 horas nos reparos”, garantiu.
Em Belo Horizonte, as perdas da Copasa atingem de 35% a 40%, desde a saída da água das estações de tratamento até a chegada nas casas, seja por vazamentos, falta de manutenção da rede ou ligações clandestinas (gatos) para desvio de água. “É um escândalo a perda na entrega das águas pelas empresas de saneamento no Brasil. E não ocorre só em BH. Em alguns estados do Nordeste, as perdas na entrega da água ultrapassam 50%”, denuncia Apolo Heringer de Lisboa, , idealizador do Projeto Manuelzão e da Meta 2010 do Rio das Velhas.