Jornal Estado de Minas

A crise chegou à torneira

Copasa admite redução da pressão na rede e bairros reclamam de cortes de água

Medida já tem provocado interrupção no fornecimento em bairros da Pampulha e da Região Noroeste

Guilherme Paranaiba

Nível baixo do reservatório de Serra Azul, que integra o Sistema Paraopeba e está com 5,81% do volume, contribui para crise de abastecimento na capital - Foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS - 20/1/15

A Copasa reconheceu ontem que o consumo alto e a situação ruim do armazenamento de água no Sistema Paraopeba, composto pelos reservatórios Serra Azul, Rio Manso e Vargem das Flores, levaram a uma diminuição na pressão da água que chega à capital. Uma das consequências da medida, admitiu a empresa, é a interrupção do fornecimento “por algumas horas” em algumas regiões atendidas. Ontem, o Estado de Minas mostrou que quatro bairros com queixas constantes de falta de água – Bandeirantes, Castelo, Caiçara e Buritis – são abastecidos pelo Sistema Paraopeba e que a redução de pressão por parte da Copasa era uma das possíveis explicações para o problema.

Por meio de nota, a empresa responsável pelo saneamento e abastecimento da Grande BH atribuiu a necessidade de reduzir a pressão da água ao elevado consumo dos últimos dias, por causa do calor, e a problemas no “macrossistema”, como vazamentos em redes de maior diâmetro, falhas nas estações de bombeamento e serviços de manutenção. Para o professor Carlos Barreira Martinez, coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas e de Recursos Hídricos da UFMG, a redução da pressão indica que a capital pode precisar de interrupções de fornecimento em breve. “A Copasa já disse que a rede tem níveis altos de perda por conta de vazamentos. Quando você reduz a pressão, diminui o nível de perda do sistema e também o consumo de água. Em alguns pontos altos ou distantes, as casas ficarão sem água, mas a cidade continua recebendo”, disse.

Martinez elogiou a medida, para ele necessária, mas criticou o que considera falta de transparência da empresa mineira ao não comunicar moradores de bairros que podem ser prejudicados. Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp começou a divulgar os horários em que reduz a pressão nos bairros.
Ontem, a Copasa não informou se passará a avisar moradores de regiões que forem afetadas pela diminuição de pressão e ressaltou que medida não tem relação com rodízio. “Caso haja rodízio em Belo Horizonte, a Copasa irá comunicar com antecedência à população quais as regiões atingidas. O rodízio só será feito após a declaração de situação crítica de escassez de recursos hídricos pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Agência Reguladora dos Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Minas Gerais (Arsae/MG)”, informou a empresa, em nota.

A Copasa afirmou, ainda, que a redução de pressão é feita “controladamente” para não haver desabastecimento e que a medida normalmente provoca falta de água por “algumas horas.” A orientação da empresa para moradores que ficarem sem abastecimento por muito tempo é ligar para o telefone 115.

MANUTENÇÕES Além de administrar o baixo volume de reservatórios, a Copasa precisou enfrentar ontem outros tipos de problemas na capital que provocaram interrupção no abastecimento em 58 bairros. Pelo menos três ocorrências urgentes demandaram a presença de técnicos para solucionar vazamentos. Na Rua Major Lopes, no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul da capital, uma árvore caiu por causa da chuva da noite de segunda-feira e provocou o rompimento de uma adutora. Para resolver problema em outra adutora na Avenida Pedro I, entre as regiões Norte e Venda Nova, a companhia teve de paralisar o abastecimento em 11 bairros, sendo 10 nas regiões Norte e Venda Nova e um em Santa Luzia.

Outros 36 bairros das regiões Oeste, Noroeste e Centro-Sul tiveram o fornecimento interrompido emergencialmente para manutenção em um sistema de bombeamento de água. A necessidade de outras manutenções deixou os demais 11 bairros momentaneamente sem fornecimento. Para o especialista Bruno Versiani, professor aposentado de engenharia hidráulica da UFMG, problemas de manutenção são comuns, mas na atual conjuntura têm potencial para agravar a situação da falta de água na Grande BH. “É mais um complicador. Se ocorre uma manutenção no período de seca ao ponto de tirar a água por um certo tempo, aumenta ainda mais a carência”, afirma.

O professor reforçou a necessidade de a Copasa reduzir as perdas com falhas na rede. “O percentual de 40% é muito grande. Para corrigir esse problema, a melhor solução é implantar algum tipo de fiscalização com multa”, defendeu. Segundo a Copasa, uma das medidas da atual gestão para enfrentar a crise hídrica é atuar com 40 equipes na Grande BH para agir rápido em casos de vazamentos e, consequentemente, diminuir a quantidade de água perdida por conta dos problemas nos canos e tubulações.
- Foto: Arte EM

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