As tempestades de fevereiro, que já causaram quedas de 25 árvores e corte de outras 13 na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo o Corpo de Bombeiros, deixaram evidente o risco constante de acidentes com galhos e troncos durante temporais. Para a prefeitura da capital, é praticamente certo que mais espécimes vão cair diante de chuvas com ventanias de mais de 40km/h, como ocorreu terça-feira. Porém, especialistas ouvidos pelo Estado de Minas apontam gargalos que, se sanados, poderiam amenizar os problemas e garantir uma coexistência mais harmoniosa com a vegetação nas áreas urbanas. Entre as ações sugeridas estão a mudança na técnica das podas, a conclusão do inventário prometido desde 2011 – que poderia dar informações para intervenções mais amplas – e a melhoria de canteiros, para facilitar a infiltração de água.
Na terça-feira, bairros da Região Centro-Sul de BH foram castigados por uma chuva rápida de granizo, com ventos de até 45km/h. Foi o suficiente para derrubar duas espatódeas e um ipê, todos de grande porte, na Avenida Getúlio Vargas, e outra árvore grande na Avenida Afonso Pena. Um efeito-cascata foi provocado no trânsito, parado devido ao bloqueio de vias. Para a gerente de Gestão Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Márcia Mourão, se repetidas essas condições climáticas, é praticamente impossível evitar novas quedas. “Às vezes, a chuva pode ser até intensa, mas com ventos fortes a árvore não resiste. Temos que pedir para São Pedro não mandar uma chuva dessa forma”, disse a gerente, referindo-se a um dos exemplares que caiu na Getúlio Vargas. “Percebemos claramente que foi uma pressão excepcional sofrida por aquela árvore, pois ela se quebrou no tronco.”
Mas, para o engenheiro agrônomo e consultor em arborização Bruno Poli, o maior vilão das quedas de árvore em BH é a rede elétrica, que impõe a necessidade de desfigurar os espécimes com desbastes que são feitos em formato de “V” nas copas. Anualmente, a Cemig faz a poda de 120 mil árvores na Grande BH. “Quando chove, o peso da árvore aumenta bastante, por causa da água. O estilo de poda feito pela concessionária de energia tira completamente o equilíbrio da copa e aumenta a chance de queda”, afirma o especialista. O argumento é reforçado pelo professor de ecologia e evolução da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Sérvio Pontes Ribeiro.
Os especialistas sustentam que árvores realmente podem cair durante temporais, mas, diante da opção de manter a arborização urbana, é necessário manejá-la. Para isso, ambos apontam que o poder público deve trabalhar com as podas que equilibrem as copas, cortar os galhos secos para manter a árvore viva, fazer vistorias preventivas com frequência antes do período chuvoso, melhorar o paisagismo dos canteiros, para facilitar a infiltração de água, concluir o inventário das árvores e até escorar os exemplares mais velhos, para que não causem acidentes. “Na Europa é assim: a árvore acaba virando um monumento. O ideal é melhorar a saúde delas, seja da forma que for. Uma medida importante é pensar os canteiros para ter uma área permeável maior. Desse jeito, pode-se amenizar o problema”, diz Sérvio Ribeiro.
A gerente Márcia Mourão garante que as podas feitas pela Prefeitura de BH seguem orientação de técnicos capacitados, com curso superior. No caso da rede elétrica, há convênio com a Cemig. Ela admite que há problemas no momento da execução do serviço, devido a falhas humanas, mas os classifica como exceções. “A poda gera uma harmonia no formato da copa, de maneira que ela não seja submetida a esforços extremos para um lado ou para o outro”, diz.
Inventário sem fim
Ela também afirma que mais de 246 mil árvores já foram cadastradas pelo inventário – prometido para durar 12 meses em 2011. Os técnicos da Universidade Federal de Lavras (Ufla) que fazem o serviço vão passar o ano de 2015 concluindo o pacote de 300 mil espécimes previstos inicialmente. Depois, será necessário fazer nova contratação, para cobrir as 180 mil árvores restantes, com base em nova estimativa. “Tivemos redução da capacidade de trabalho em 50%, devido à necessidade de contar com a Guarda Municipal para acompanhar os técnicos, pelo risco de roubo dos equipamentos”, afirma Márcia Mourão.
Ainda sobre o inventário, a gerente de Gestão Ambiental sustenta que a conclusão dará um panorama global da situação em BH, mas que prováveis ações adotadas após o trabalho não necessariamente diminuiriam o risco de quedas. “Podemos, por exemplo, pensar em eliminar certas árvores com uma determinada inclinação que assuste mais a população, mas acredito que isso não significaria a redução das quedas no período chuvoso, além de representar mudanças na paisagem da cidade”, afirma.
Márcia Mourão também garante que está sendo estudada a possibilidade de substituir a rede atual da Cemig por outra que suporte mais o contato com os galhos. Em nota, a estatal de energia informou apenas que “realiza podas somente nas árvores que se encontram em contato com o sistema elétrico”. “Essa atividade tem por objetivo garantir a segurança operacional do sistema e também a segurança da população”, diz o texto. Por fim, a empresa afirma que segue regras próprias e também da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para executar as 120 mil podas anuais na Grande BH.