Aguardada com ansiedade, a chegada de chuvas mais consistentes à Região Metropolitana de Belo Horizonte, especialmente nos últimos três dias, representa um pequeno alívio na esperança de minimizar o risco de desabastecimento e iniciar a recarga dos reservatórios. Porém, as tempestades, que pela primeira vez na temporada 2014/2015 dão sinais de maior duração, também ligam o alerta para os problemas relacionados ao excesso de chuva. Um dos sinais veio do Ribeirão Arrudas, que no fim da noite de quinta-feira transbordou na altura do Bairro das Indústrias, na Região do Barreiro, e inundou a Avenida Tereza Cristina. Parte do muro de uma escola desabou, mas não houve feridos. A chuva complicou também as operações no aeroporto de Confins, provocando o cancelamento de pelo menos 42 decolangens – o índice mais alto registrado ontem no país – e atrasos em outros 61 voos, além dos 37 que tiveram de ser deslocados para terminais de outras cidades. Outra preocupação é a ameaça de proliferação do mosquito transmissor da dengue e da chikungunya, já que boa parte da população vem armazenando água em dias chuvosos.
Segundo o centro de climatologia TempoClima/PUC Minas, nos seis primeiros dias de fevereiro choveu 69,2 milímetros, sendo 39,2 milímetros em 24 horas, de quinta-feira para ontem. O total corresponde a 33,59% da média histórica de 206 milímetros para o mês.
De acordo com o meteorologista Heriberto dos Anjos, do TempoClima/PUC Minas, as chuvas que já eram satisfatórias até a manhã de quinta-feira melhoraram ao longo do dia e a tendência é de que o volume de precipitação aumente ainda mais. “Até segunda-feira, a previsão é de mais chuvas. Somando quinta, sexta e o fim de semana, poderemos ter entre 80 e 110 milímetros, com redução das temperaturas devido à nebulosidade”, diz o especialista. A explicação para o quadro é a combinação de uma área de baixa pressão entre o litoral do Rio de Janeiro e Minas Gerais com a alta umidade, que tende a permanecer até segunda.
PROBLEMAS Mas a chuva indispensável para recuperar os mananciais que abastecem a Grande BH traz consigo o alerta para as ocorrências de alagamentos, quedas de árvores e outros problemas. De acordo com o coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil municipal, na noite de quinta-feira a precipitação que castigou a Região do Barreiro fez o Ribeirão Arrudas transbordar. “Tivemos pontos de alagamento na noite de quinta-feira, mas hoje (sexta-feira) tudo já havia voltado ao normal. Não tivemos feridos ou desabrigados”, contabilizou.
A única ocorrência de ontem registrada pela Defesa Civil foi a queda de parte do muro que faz a contenção de um lote na Escola Municipal Edith Pimenta da Veiga. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o muro caiu de madrugada e o reparo já foi requisitado.
OBRAS Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), está prevista para sair do papel no segundo semestre deste ano a obra da bacia de detenção do Bairro das Indústrias, avaliada em R$ 40,3 milhões, para resolver os problemas de inundações no Ribeirão Arrudas nas imediações do limite entre BH e Contagem. Para este ano, estão prometidas outras obras importantes para solucionar alagamentos crônicos em outros pontos da cidade, como a ampliação dos canais do Córrego Cachoeirinha e dos ribeirões Pampulha e do Onça, grande aposta para acabar com as inundações nas avenidas Bernardo Vasconcelos e Cristiano Machado, totalizando investimento de R$ 442 milhões.
Os alagamentos da Avenida Francisco Sá só terão fim quando as intervenções para aumentar a rede de drenagem ocorrerem. O custo é de R$ 15,22 milhões e o início das intervenções está previsto para o segundo semestre. Na Avenida Prudente de Morais, está em andamento a execução de uma galeria subterrânea paralela à existente. O custo aproximado é de R$ 50 milhões, incluindo o desassoreamento que já foi feito na Barragem Santa Lúcia. A conclusão da obra está prevista para o primeiro semestre de 2017.
Palavra de especialista
Luiz Palmier, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG
Da escassez ao excesso
Normalmente, os problemas que a água causa para a sociedade são a escassez e o excesso. Curiosamente, nesse verão temos os dois problemas de uma só vez. Por um lado, nas áreas urbanas, as chuvas de grande intensidade e, em geral, de curta duração causam alagamentos motivados pela alta taxa de impermeabilização. Por outro, as bacias hidrográficas estão com pouca água acumulada devido à temporada com baixo volume de precipitação. Isso significa que é necessário muito tempo chovendo, para que a água infiltre e encharque o solo, antes de sentirmos o efeito nos reservatórios.
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Luiz Palmier, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG
Da escassez ao excesso
Normalmente, os problemas que a água causa para a sociedade são a escassez e o excesso. Curiosamente, nesse verão temos os dois problemas de uma só vez.