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Estado de Minas

Dinheiro que seria destinado ao carnaval é usado para comprar cestas básicas no Norte de Minas

A medida da prefeitura para beneficiar atingidos pela estiagem provocou polêmica na cidade de 3,2 mil habitantes, com reação contrária do comércio local


postado em 14/02/2015 08:00 / atualizado em 14/02/2015 12:03

Dona de um restaurante, Maria dos Anjos aprovou a suspensão do carnaval em Glaucilândia(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A.Press)
Dona de um restaurante, Maria dos Anjos aprovou a suspensão do carnaval em Glaucilândia (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A.Press)

Glaucilândia
–Para o povo pão e circo. Mas, se não tem como contar com as duas coisas, é melhor ter alimento no lugar da diversão. Com este pensamento, o prefeito da pequena Glaucilândia (Norte de Minas), Geraldo Martins de Freitas (PMDB), decidiu suspender o carnaval da cidade, com o argumento de que vai usar o dinheiro da prefeitura que seria gasto na folia, R$ 30 mil, para comprar cestas básicas e outros benefícios para os moradores da zona rural do município que foram atingidos pela estiagem prolongada. A medida provocou polêmica na cidade – de 3,2 mil habitantes, com a reação contrária do comércio local.

Outras cidades de Minas Gerais tiveram que suspender o carnaval por causa da crise hídrica. Glaucilândia não tem problemas no abastecimento, com a população recebendo água captada em poço tubular. “Mas, o nosso grande problema é que mais de 80% das lavouras de milho e feijão foram perdidas”, justifica o prefeito Geraldo Freitas. Segundo ele, a estiagem prolongada prejudicou cerca de 400 famílias da zona rural,que deverão ser contempladas com cestas básicas e sistemas simplicados de abastecimento de água, a serem adquiridos com os R$ 30 mil que seriam gastos com a contratação de bandas e montagem de palco e aparelhagem de som para o carnaval.

A medida provocou polêmica na cidade, com os moradores se dividindo em relação ao cancelamento da folia para “comprar comida para os flagelados da seca”. “Sou contra a suspensão da festa porque o carnaval é praticamente o único período do ano que recebemos pessoas de outra cidade que dão maior movimento no lugar”, afirmou Edite Alves dos Santos, dona de uma lanchonete na cidade.

Dona de um bar e mercearia em Glaucilândia, Gabriela Ferreira Pinto de Araújo protesta: “a gente paga os impostos em dia. Quando chega a época de ganhar alguma coisa no carnaval, ficamos sem o nosso ganha-pão”. Gabriela disse que não pode ser contra o argumento do prefeito de querer auxiliar os antigos pela seca. “Mas, quero que seja provado que o dinheiro será mesmo aplicacado em coisas para ajudar quem precisa”. Django Nunes Ferreira, proprietário de outro bar na cidade,disse que também lamenta a não realização do carnaval. “Mas, que sejam comprados mantimentos para ajudar quem sofre com a seca, não posso ficar contra”. Para amenizar a queda no faturamento, Django decidiu promover um “carnaval particular” no espaço do seu estabelecimento que é dedicado a uma danceteria. “Para “não passar em branco, teremos som mecânico, com musicas de carnaval e forró”,informa.

Já a moradora Maria dos Anjos apoiou a suspensão do carnaval. Ela é proprietária de um restaurante, que tem como clientela professores e servidores públicos. “Eu não gosto de carnaval. Sem a festa, a cidade tem paz e tranqüilidade”, considera. A doméstica Luciene Pereira dos Anjos também se declara a favor da medida tomada pelo executivo municipal. “É muito melhor ajudar as pessoas do que gastar dinheiro no carnaval”, disse. Entre os moradores de Glaucilândia, um dos poucos que não entra na polêmica sobre a não realização do carnaval é Constantino Luiz Neto. “Sou neutro”, diz. Ele explica: “sou pastor e pra mim, pouco importa realizar ou não o carnaval. Não discuto isso”.

Na zona rural de Glaucilândia, a suspensão do carnaval é comemorada com a esperança para a chegada de alguma ajuda para quem perdeu tudo coma seca. É o caso do agricultor Jerônimo Roque Martins, de 70 anos, da comunidade de Água Boa. Ele se viu obrigado arrancar os pés de milho, sem colher nada, depois de ver a lavoura de um hectare destruída pelo sol forte. “Essa medida foi muto boa. Carnaval só traz desavença pra cidade. A gente que mora na zona rural está precisando de muita ajuda mesmo”, relata ele.


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