Junia Oliveira e Landercy Hemerson
A Polícia Civil de Uberaba, no Triângulo Mineiro, ainda procura o segundo envolvido nas mortes da jovem Izabella Marquez Gianvechio, de 22 anos, e dos filhos dela, o casal de gêmeos Ana Flávia e Lucas Alexandre, de 40 dias. O homem é Antônio Moreira Pires, apontado como executor da mãe e das crianças. Na noite de de domingo, ele foi cercado em uma mata em Sacramento. Poucas horas antes, o empreiteiro Matuzalém Ferreira Júnior, de 49, amante de Izabella e provável pai dos gêmeos, havia se apresentado à polícia e confessado o crime. Ele contou que contratou Antônio para ajudá-lo.
A história de horror, que revoltou a população de Uberaba, teve início na quinta-feira, quando Izabella e as crianças embarcaram em Uberaba em um carro dirigido por Matuzalém. Um outro homem entrou no veículo um pouco à frente. Foi a última vez que a jovem, uma comerciária desempregada, foi vista com vida. No sábado, a família teve a confirmação da morte, pois o corpo da jovem havia sido encontrado dois dias antes numa estrada em Aramina (SP), a 44 quilômetros do município mineiro. Ela foi assassinada com um tiro. As crianças continuavam desaparecidas e havia a esperança de que elas estivessem vivas.
As investigações tiveram início no mesmo dia e ontem, com a prisão de Matuzalém, o crime foi desvendado e as esperanças de encontrar as crianças com vida terminaram. O empreiteiro contou que o casal de gêmeos foi morto a tiros por Antônio Moreira, mais conhecido como “Pedrão”, e que os corpos haviam sido abandonados num matagal próximo à cidade paulista de Buritizal. As crianças foram baleadas nas cadeirinhas onde eram transportadas pela mãe. Matuzalém levou os policiais ao local onde os corpos estavam.
O empreiteiro procurou se livrar da responsabilidade pelas mortes e disse que foi “Pedrão” quem matou a mãe e as crianças, contra a sua vontade. Ele afirmou que a ideia era “apenas dar um susto em Izabella”, que estava exigindo o reconhecimento da paternidade das crianças, mas que o pistoleiro perdeu o controle e matou todos. Mas os investigadores acham que “Pedrão”, que tem passagens pela polícia, agiu a mando do empreiteiro, que o teria contratado especificamente para executar a mulher e os bebês.
Cerca de 50 amigos e parentes de Izabella compareceram à delegacia onde o empreiteiro prestava depoimento e a segurança teve de ser reforçada. Revoltados, alegaram que o crime foi premeditado. No dia 12, o homem, que é casado e mora em Sacramento, também no Triângulo, marcou um encontro com Izabella, afirmando que iria resolver a questão da paternidade. O encontro foi acompanhado por um parente da vítima, que seguiu o veículo de Matuzalém, um Fox, e filmou quando outro homem entrou no carro. Em seguida, o veículo seguiu pela BR-050, em direção a São Paulo, onde os crimes foram cometidos.
EXECUÇÃO A TIROS Segundo a delegada Carla Bueno, que investiga o caso, os autores planejaram o assassinato de Izabella e das crianças. Eles seguiram pela BR-050 e numa rodovia estadual, em Aramina, executaram a mulher com um tiro na cabeça e jogaram o corpo num matagal. Em seguida, foram para Buritizal, onde os bebês foram mortos. Após os assassinatos, a dupla seguiu até Pedregulho (SP), onde o veículo usado no crime foi queimado. De lá, eles retornaram para Sacramento. Quando a notícia da morte da jovem foi confirmada, eles fugiram, mas o caso acabou desvendado.
Apenas dois encontros
De acordo com a família de Izabella, ela teve apenas dois encontros com Matuzalém e ficou grávida. O empreiteiro já tem um casal de filhos gêmeos adolescentes. Ele é conhecido em Sacramento, já que recentemente faliu e causou prejuízos a fornecedores e empregados. A jovem, desempregada, trabalhava no comércio em Uberaba, onde morava com a família. Além dos gêmeos, Izabella, que era solteira, era mãe de uma menina de três anos.
Depois do nascimento do casal de gêmeos, ela procurou Matuzalém e insistiu para que ele assumisse a paternidade. A jovem chegou a ir a Sacramento, na tentativa de resolver a situação. Preocupados, amigos e parentes queriam que ela procurasse a Justiça para exigir o exame de DNA, mas a conversa acabou ocorrendo e Matuzalém afirmou que iria pagar o exame, conforme contou Douglas Tancredo Gomes do Carmo, de 30, cunhado da vítima.
A família insistiu para que o encontro fosse na casa deles, mas Izabella achou que poderia haver algum desentendimento e preferiu se encontrar com o empreiteiro num local público. Matuzalém disse que a pegaria no meio do caminho do shopping, e que ela poderia ir de táxi, “pois ele pagaria a corrida”, conta Douglas. Na última hora, como estava atrasada, a jovem aceitou a carona do cunhado. Ele e sua namorada, irmã da vítima, levaram a comerciária e os bebês até o ponto de encontro, onde a viram embarcar em um Fox dirigido por Matuzalém.
Por medida de segurança, Douglas resolveu seguir o carro e viu outro homem embarcar no veículo pouco depois. Em seguida, como o empreiteiro não parou para entrar no shopping e seguiu na BR-050, rumo a São Paulo, Douglas se preocupou ainda mais e iniciou a perseguição, mas seu carro ficou sem combustível e ele perdeu o Fox de vista. Chegou a pedir ajuda à Polícia Rodoviária Federal, mas os agentes não conseguiram agir a tempo.
CORPO Temendo o pior, ele voltou para casa e todos ficaram aguardando notícias. A família soube da morte de Izabella por causa da foto de um corpo que circulou no WhatsApp e chegou ao telefone de um parente. Ela foi encontrada no limite das cidades paulistas de Aramina e Buritizal. O corpo chegou a ser enterrado como indigente em Aramina. A família fez o reconhecimento no sábado por meio de fotos e enterrou a jovem domingo.