Hospitais públicos e privados também entraram para valer na batalha pelo consumo consciente de água e já traçam estratégias para enfrentar eventuais cortes em Belo Horizonte. Com racionamento batendo à porta, as ações vão de campanhas de conscientização e revisão da rede hidráulica ao uso de poços artesianos. Embora a legislação garanta abastecimento normal a esses estabelecimentos, considerados essenciais, em tempos de crise hídrica, a ordem é não contar com a sorte. As instituições de saúde elaboram planos de contingência em caso de um eventual racionamento. As medidas de redução no consumo também poderão atingir os centros de saúde e as unidades de pronto atendimento (UPAs). Como as chuvas dos últimos dias não foram suficientes para repor os níveis dos reservatórios – o do Sistema Paraopeba, que inclui Serra Azul, Rio Manso e Vargem das Flores, está em 30,4% – e a capital ainda está longe de atingir a meta de 30% de economia determinada pelo governo – os primeiros números indicaram redução de 13% –, aumenta a preocupação com adoção de alternativas em caso de falta de água.
O secretário municipal de Saúde, Fabiano Pimenta, afirmou que, em caso de racionamento, não haverá prejuízo para a rede de saúde pública de BH. “Temos que garantir água para o banho, cozinha e lavanderia”, pontua. A resolução 40 da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG) determina prioridade no abastecimento de hospitais e demais atendimentos de saúde pública, estabelecimentos de internação coletiva, além de creches, escolas e instituições públicas de ensino.
O Odilon Behrens possui 430 leitos, o que representa um consumo médio de 9 mil metros cúbicos de água por mês. O secretário informou que um poço artesiano que fica nas dependências da instituição deverá ser reativado e daria conta de suprir as necessidades do hospital. A alternativa ainda não começou a funcionar, porque antes é necessário fazer testes que garantam a qualidade da água. Pimenta informou ainda que há um acordo com a Copasa para o abastecimento das oito UPAs, por meio de caminhões-pipa, caso falte água. Com as consultas são os procedimentos básicos nesses centros, o secretário avalia que exigem um volume menor de água em comparação aos hospitais públicos. “Os centros de saúde têm um consumo relativamente baixo. Temos nas consultas uma lavagem de mãos dos profissionais de saúde e assepsia de curativos.”
A rede Mater Dei conta com reservatórios que podem abastecer os hospitais em caso de contingenciamento do recurso. A unidade no Bairro Santo Agostinho tem capacidade de armazenar água necessária para 36 horas. A capacidade da unidade na Avenida do Contorno é de 48 horas. “Também temos um contrato com a Copasa que determina que, se houver uma parada de 24 horas do abastecimento, serão garantidos o uso de caminhões-pipa credenciados pela companhia, assim como resguardada a qualidade da água”, afirma a superintendente de Infraestrutura e Tecnologia da Informação, Rafaela França. O hospital, segundo ela, ainda conta com outra alternativa: o abastecimento por meio de cinco fornecedores. Além disso, os jardins na área externa usam tecnologia que permite a captação e retenção da água da chuva. Na unidade da Contorno, há um reservatório, no último andar, que armazena a água da chuva usada para lavar calçadas e outras áreas comuns.
USO RACIONAL Pimenta afirmou que ainda que as unidades de saúde aderiram à campanha de redução de 30% do consumo, sem que haja prejuízo no atendimento médico. “Temos uma mobilização interna e campanhas educativas. Com medidas simples, conseguimos economizar”, disse. O foco da economia são os setores administrativos. Entre as medidas de redução, estão a identificação e o combate de vazamento e trocas de torneiras.
No Hospital da Baleia, foi feita revisão da rede hidráulica na unidade Maria Ambrosina, onde funciona a hemodiálise e, por isso, uma das alas com o maior consumo de água. Para evitar desperdícios, a caixa d’água foi trocada. Irrigação de jardins e limpeza de algumas áreas são feitas com a água dos dois poços artesianos, localizado em região de mata com muitas nascentes. A preservação delas é outra luta. “Evitamos que façam bota-foras e coibimos as tentativas de invasão na área externa do hospital para garantir que essa água não acabe”, afirma o superintendente de Gestão Hospitalar, Éder Lúcio de Souza.
O Hospital de Pronto-Socorro Risoleta Neves, em Venda Nova, definiu também as medidas que tomará para conter a crise. Serão deflagradas campanhas internas com funcionários visando a redução do consumo e será feita revisão de todo o encanamento da unidade. Os gestores do hospital estudam ainda a possibilidade de reutilização de água de alguns equipamentos.