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Estado de Minas

Homem que chutou ladrão na Savassi diz que não se arrepende da agressão

Em entrevista ao em.com.br, o homem disse que agiu por 'impulso, raiva e revolta'. Ele foi uma das testemunhas de furto que ajudaram a segurar Evandro Freitas da Silva, 35, depois do furto de um celular


postado em 19/02/2015 08:57 / atualizado em 19/02/2015 09:08

“Não me arrependi de absolutamente nada que fiz, entretanto não faria novamente”. Essa é a conclusão do homem que chutou um ladrão na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no último dia 11 de fevereiro. A agressão, na esquina das ruas Sergipe com Fernandes Tourinho, foi filmada. O homem revelou ao em.com.br que agiu por “impulso, raiva e revolta” tudo isso em um “ato de boa vontade em ajudar” a mulher que teve o celular roubado.

O ladrão é Evandro Freitas da Silva, de 35 anos, que foi capturado por testemunhas do crime e agredido até a chegada Polícia Militar. O furto foi registrado Central de Flagrantes, mas Evandro já está em liberdade. Ele tem registros de furto desde 1999 e foi condenado cinco vezes pelos crimes cometidos durante esse logo período. Mesmo assim, continua solto.

Em entrevista, o agressor afirma que o ladrão “ofereceu grande resistência” até a chegada da PM. Segundo ele, o motivo pelo qual se envolveu na confusão foi “o ímpeto de querer ajudar uma pessoa que estava sendo injustamente prejudicada pelo ato de outra”. O vídeo mostra o homem chutando Evandro, mas o entrevistado afirma que “o marginal foi ‘agredido’ por diversas pessoas, inclusive por pessoas que sequer participaram da perseguição”.

O roubo aconteceu por volta das 13h50. De acordo com o boletim de ocorrência da PM, Evandro abordou a vítima – sem arma – e tomou o celular. Testemunhas correram atrás do ladrão e conseguiram pegá-lo ainda na Fernandes Tourinho. Evandro foi detido e apanhou das testemunhas do roubo, antes da chegada da PM. A mulher recuperou o celular e deixou o local do crime sem esperar o registro da ocorrência pela polícia. Segundo a PM, ao tentar fugir antes de ser capturado por populares, Evandro danificou o retrovisor e o porta-malas de um carro estacionado na rua.

Leia na íntegra a entrevista com o homem que chutou o ladrão:

1) O que o levou a se envolver no caso?
O que me levou a envolver no caso foi o ímpeto de querer ajudar uma pessoa que estava sendo injustamente prejudicada pelo ato de outra. Infelizmente, sempre que vejo alguma injustiça acontecendo eu não me sinto bem e procuro ajudar da melhor forma que posso, mas foi a primeira vez que me envolvi em uma situação como a que ocorreu no último dia 11.

2) Como tudo aconteceu?
Eu tinha acabado de me sentar à mesa para almoçar em um restaurante próximo ao fato quando escutei gritos e vi o marginal correndo em sentido contrário ao do trânsito, enquanto outras pessoas corriam atrás e gritavam “pega ladrão, pega ladrão!”. Então, no ímpeto de querer ajudar, sai correndo de dentro do restaurante na direção do marginal, deixando lá meus pertences e o prato de comida que eu tinha acabado de servir. No cruzamento da rua Fernandes Tourinho com a rua Sergipe, conseguimos alcançar o marginal, ocasião em que o mesmo apresentou grande resistência diante das tentativas de imobilizá-lo por parte de outras pessoas que também estavam ali no local. Foi tudo muito rápido, lembro-me que quando ele foi derrubado várias pessoas o chutaram, inclusive pessoas que não participaram da perseguição. Até então eu não tinha desferido nenhum soco ou chute contra o mesmo. Em poucos minutos o local já estava completamente cercado por diversas pessoas que expressavam suas opiniões, umas no sentido de que não era para agredir o marginal e, a maioria, no sentido de que o mesmo merecia ser “castigado”. Eu que estava mais próximo daquele lembro-me de ter dito aos demais que o estavam agredindo que não precisava mais, uma vez que já estava dominado. Daí pedi para que ele ficasse deitado no chão, de bruços, com as mãos para trás, aguardando a policia chegar. Naquele momento, diante da recusa do marginal, bem como pelo fato de que ele tinha, durante a tentativa de fugir, me agredido com uma cotovelada que acertou meu peito, por impulso, raiva e revolta, acabei desferindo um chute contra ele. Logo após ter dado o único chute no marginal ele me disse: “você vai ver quando a polícia chegar!” A partir de então, ficamos ali aguardando a policia chegar para que fossem tomadas as providências cabíveis. Quando a PM chegou ao local fomos procurar a vítima do furto, entretanto a mesma infelizmente não aguardou a chegada dos policiais e acabou frustrando todo o acontecido. Ato contínuo a PM fez ali o seu trabalho e inclusive teve que conter novamente o marginal que por um momento tentou escapar dos policiais.

3) O vídeo mostra apenas o senhor chutando o ladrão. Ele foi agredido anteriormente, pelo senhor ou por outras pessoas?
Como disse na resposta anterior, o marginal foi “agredido” por diversas pessoas, inclusive por pessoas que sequer participaram da perseguição, tal fato pode ser constatado no próprio vídeo que foi veiculado pela mídia, ao final, quando sobressai um áudio (aos 1min54seg) de um Sr. dizendo: “Foi todo mundo que chutou, não foi só ele não, foi todo mundo!”. O meu ato impensado de dar aquele chute foi motivado, como já dito, pela agressão anterior que sofri e também pela recusa do marginal em se manter inerte e sem resistência. Acho que aquele chute também foi motivado pela postura prepotente daquele marginal que a todo momento se comportou como certo de que aquele seu ato não lhe traria maiores consequências, ou seja, por ser um bandido “experiente” tinha consigo a certeza da impunidade.

4) O ladrão mostrou resistência?
Sim, ele ofereceu grande resistência. Em que pese as imagens que foram veiculadas mostrarem tão somente a parte “final” dos acontecimentos, as reações dos populares, inclusive a minha, foram proporcionais à ação do marginal que tentou fugir por diversas maneiras, inclusive fui alvo de uma cotovelada que me acertou no peito.

5) O senhor está arrependido de ter se envolvido no caso e de ter chutado o ladrão?
Se eu disser que me arrependi de ter me envolvido naquela situação e de ter chutado o marginal eu estaria mentindo. Não me arrependi de absolutamente nada que fiz, entretanto não faria novamente, pois, em que pese ter sido um ato de boa vontade em ajudar, foi um ato impensado de minha parte, afinal de contas, como conhecedor da legislação, sei que infelizmente a Lei penal é muito branda ao punir o indivíduo que comete aquele tipo de crime. Minha reação foi tão impensada que expus minha própria integridade física a risco, afinal de contas naquele momento sequer cheguei a me preocupar com a possibilidade daquele marginal estar armado.

6) Caso o fato ocorresse hoje de novo, o senhor faria o mesmo ou não?
Como se extrai de minha resposta anterior, infelizmente hoje o cidadão de bem tem somente duas opções diante de situações como aquela, a primeira é fechar os olhos, virar para o outro lado e fingir que não está vendo e, a segunda, é tentar ajudar da melhor forma que vier à mente naquele instante. Infelizmente diante do atual panorama a melhor alternativa é fechar os olhos e adotar a conduta individualista que a maioria adota, individualismo este que está, a cada dia, nos distanciando do real sentido de civilização.

7) Como o senhor vê a situação da segurança pública atualmente?
Acho que tal pergunta ficaria ainda melhor se a expressão “segurança pública” fosse substituída pela “insegurança pública”. Atualmente, o cidadão de bem encontra-se, valendo-me aqui de uma expressão popular, em um “mato sem cachorro”, afinal de contas não pode contar com a proteção Estatal e tampouco dispõe de meios próprios e lícitos para garantir sua própria integridade física e defender a sua propriedade. O Brasil caracteriza-se por ser um dos países com a maior produção legislativa do mundo, entretanto parece-me que até agora não percebeu que o problema não se resume em ter Leis, brandas ou severas. Não adianta ter leis sem mecanismos efetivos e céleres que garantam a aplicabilidade do texto legal. A lei penal, ao contrário do que muitos pensam, não visa, precipuamente, punir aquele indivíduo que a transgrediu, mas sim, desestimular o indivíduo a praticar o delito, por isso pode-se dizer que no momento em que o indivíduo cometeu o crime o Estado, através da Lei penal, falhou, afinal de contas não conseguiu alcançar seu objetivo primário. Aqui no Brasil a Lei penal já não mais consegue desestimular ninguém a praticar o delito e, infelizmente, já não mais consegue punir devidamente aquele transgressor, especialmente pela atual (des)estrutura das nossas valorosas polícias e especialmente do Poder Judiciário. A meu ver, o Brasil está muito longe de conseguir dar ao cidadão de bem a segurança que merece, afinal de contas para que isso ocorra são necessários investimentos em diversos setores, especialmente e principalmente na Educação, necessidade esta que não se mostra muito atraente para os governantes, afinal de contas uma população mais instruída necessariamente será uma população mais questionadora. Concordo plenamente com aqueles que dizem que a violência não é o melhor caminho, entretanto, entendo que no atual contexto de elevada criminalidade, a mesma somente será combatida através de soluções a curto e a longo prazo. A curto prazo, precisamos de um Estado que adote uma postura mais opressora diante da criminalidade, por exemplo, através de policiais mais bem treinados, remunerados e aparelhados, realmente aptos a combater o crime e os criminosos, pois não se vence uma guerra distribuindo buquês de flores. A longo prazo precisamos de investimentos em políticas sociais, em educação e na estruturação do Poder Judiciário, especialmente através da ampliação do número de Magistrados e de uma reconstrução do sistema penitenciário brasileiro que atualmente nada mais é do que uma escola para o crime. Precisamos também refletir s respeito desta idiotice que se tornou a Lei do Desarmamento aqui no Brasil, que serviu unicamente para desarmar o cidadão de bem que mantinha ali em sua residência uma arma de baixo calibre. Os bandidos estão aí, a cada dia que passa, portando armas que, muitas vezes, a própria polícia não porta e desconhece. É um argumento tolo e ultrapassado aquele no sentido de que possibilitar ao cidadão de bem a aquisição e o porte legal de arma de fogo irá aumentar os índices de violência, afinal de contas basta analisar os índices de crimes cometidos com armas de fogo em países cujo o comercio e o porte é acessível à população de bem, para ver que este não é um fator que contribui para o aumento da criminalidade. Acredito que se tivéssemos aqui uma legislação que realmente possibilitasse ao cidadão de bem, após o cumprimento de certos requisitos, dentre estes a comprovação de aptidão técnica e psicológica, adquirir e portar uma arma de fogo ou outros mecanismos de defesa, o marginal pensaria duas vezes antes de sair cometendo crimes. A atual legislação, em que pese tecnicamente não proibir, praticamente impossibilita ao cidadão alcançar tal direito, especialmente pelo elevado custo e pela discricionariedade dada à Polícia Federal que atualmente é a responsável por conceder ou não a autorização para a posse e porte de armas de fogo.

8) E em Belo Horizonte, especificamente?
Belo Horizonte, a meu ver, não se diferencia muito dos demais centros urbanos. Em que pese não ser natural de BH, eu vivi nesta cidade por muitos anos a ponto de aprender a admira-la. Belo Horizonte é uma cidade que possui absolutamente tudo para ser a melhor capital para se viver, entretanto vem perdendo seu brilho em função da criminalidade que a assombra. Há aproximadamente 4 anos eu deixei de residir em Belo Horizonte e fui para o interior, sendo que a cada dia que se passa torna-se, para mim, mais evidente que a minha escolha de ter retornado para o interior foi correta. Considero que viver em BH atualmente é muito difícil, por distintos e diversos motivos, dentre estes a violência que não se resume à criminalidade. Cito aqui o exemplo do trânsito em BH, é um absurdo, ninguém tem bom senso e as pessoas parecem disputar uma corrida irracional, todos contra todos. Não é raro de se ver a situação onde você está dirigindo, liga a seta do veículo para trocar de faixa e o motorista que está atrás, na outra faixa, acelera o veículo para que você não passe. Isso é irracional, é uma postura muito mais violenta e idiota do que a minha conduta de ter chutado aquele marginal em um momento de revolta.

Por fim, gostaria aqui de deixar um recado para a pessoa que filmou e cedeu as imagens à mídia: Se eu errei ao chutar aquele marginal, pelo menos eu errei durante um ato de solidariedade com uma pessoa que sequer conheço. Pelo menos eu saí da minha zona de conforto para tentar ajudar alguém; se errei, eu errei tentando acertar, tentando contribuir de alguma forma positiva para que este mundo se torne melhor. E você, o que você faz para tentar melhorar o mundo, ou ao menos o local onde mora? Por que você não interferiu na situação para ajudar, ao invés de se limitar a filmar o fato de forma tendenciosa? Sugiro que da próxima vez você não se esconda atrás de uma tela de celular e saia de sua zona de conforto para contribuir de alguma forma positiva para o mundo, afinal de contas o mundo já está cheio de revolucionários de redes sociais e pessoas covardes que se escondem atrás de seus celulares para captar imagens de acontecimentos do dia-a-dia sem outra intenção que não a de expor e/ou julgar alguém ou, ainda, de receber curtidas em perfis de redes sociais.


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