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Estado de Minas

Em BH, moradores de bairros mais altos aumentam reservatórios e preocupam Copasa

Empresa estuda medidas que possam reduzir prejuízos a uma parte da população em benefício de moradores de áreas mais baixas


postado em 21/02/2015 06:00 / atualizado em 21/02/2015 07:48

Consumidores como Elias Nunes se previnem guardando água da chuva, mas outros investem em mais reservatórios abastecidos pela rede pública(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Consumidores como Elias Nunes se previnem guardando água da chuva, mas outros investem em mais reservatórios abastecidos pela rede pública (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Moradores de partes mais altas de Belo Horizonte preparam-se para possíveis efeitos do rodízio e racionamento de água aumentando os reservatórios de seus imóveis. Em um movimento visto com preocupação pela Copasa – que teme comprometimento da meta de economia de 30% nos próximos três meses –, bairros como Ouro Preto e Bandeirantes, ambos na Região da Pampulha, registram uma corrida para aumentar a capacidade de estocar o recurso. Nessas comunidades, já afetadas pela redução de pressão na rede de abastecimento, o objetivo é amenizar os efeitos de uma crise que já deu as caras em janeiro e pode se agravar caso os fatores chuva e corte de gastos não sejam suficientes para garantir a recarga dos reservatórios que atendem a Grande BH. Diante do relevo acidentado da capital, em caso de restrição no fornecimento a Copasa estuda medidas que possam reduzir prejuízos a uma parte da população em benefício de moradores de áreas mais baixas. Um estudo hidráulico vem sendo desenvolvido para definir padrões que possam minimizar essa desigualdade, segundo informou a presidente da estatal de saneamento, Sinara Meireles Chenna, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas. Entre as possibilidades em estudo está a suspensão de abastecimento apenas durante horas, e não durante dias.

Segundo o professor Carlos Barreira Martinez, coordenador do Centro de Pesquisas em Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, é tecnicamente possível mandar água com pressão suficiente para as partes mais altas, mesmo em um contexto de racionamento. Nesse caso, é necessário fazer investimentos em bombas e outros equipamentos. Porém, o especialista não acredita que esse seja o melhor caminho, principalmente devido ao tamanho das perdas que a Copasa registra em seu sistema, que chegaram a 39,9% em 2014 – entre vazamentos e ligações clandestinas. “Em um racionamento, todos acabam sofrendo os efeitos. O melhor caminho é a diminuição da pressão, porque ela reduz essas perdas. Mas, dessa forma, certamente quem está em locais mais altos terá menos água”, alerta.

A presidente da Copasa afirma que a meta é evitar quadros muito discrepantes entre partes altas e baixas espalhadas por Belo Horizonte e demais cidades da região metropolitana. “Não dá para trabalhar com um consumidor (de bairros altos) ficando sem água por sete dias na semana e outros por dois, quatro ou cinco dias, dependendo do cenário que for construído. Um estudo hidráulico está sendo feito para minimizar esse tipo de problema, relacionado com a característica de ocupação da nossa região”, disse, em entrevista ao EM na quinta-feira. Uma das estratégias analisadas é o corte de água em parte do dia. Para o professor Carlos Martinez, essa opção representaria mais conforto para a população. “É uma forma de garantir que, enquanto a água da rua não estiver chegando, o morador ainda tenha alguma quantidade em seu reservatório”, afirma.

Clique aqui e saiba por que o terreno de BH virou problema diante da crise hídrica(foto: Arte EM)
Clique aqui e saiba por que o terreno de BH virou problema diante da crise hídrica (foto: Arte EM)
PREPARADOS PARA O PIOR
Enquanto os critérios não são definidos, sem saber o que vem pela frente consumidores como o comerciante Elias de Souza Nunes, de 40 anos, tentam se prevenir. Ele já montou um esquema para acumular água da chuva no imóvel em que mora e onde há uma quadra de futebol, na Rua Sebastião Antônio Carlos, no Bairro Bandeirantes, Pampulha. Elias comprou três tambores de 250 litros cada, que não retiram água da rede pública, por estarem conectados a uma calha. “Fiquei duas vezes sem água, por dois dias consecutivos, em janeiro. Se chegarmos a um racionamento, tenho certeza de que na minha região vai ser pior”, afirma ele, que usa o conteúdo dos reservatórios para serviços gerais de limpeza. O plano é aumentar o sistema para o uso dentro de casa, já que ele tem apenas duas caixas de 180 litros para dividir com outras cinco pessoas. “Estou avaliando o tamanho da nova caixa, por questão de espaço”, diz ele.

No mesmo Bandeirantes, já no topo da Avenida Sicília, o advogado Marcelo Henrique Carneiro Santos, de 44, que tem uma caixa d’água com capacidade para 3 mil litros, comprou outros cinco recipientes: outra caixa de 1 mil litros e quatro tambores de 200 litros cada. “Fiquei um fim de semana sem água no mês passado, quando abri a torneira e não tinha nada nem para escovar os dentes. Achei melhor armazenar da chuva, pois, com a topografia que temos, com certeza o Bandeirantes vai ficar sem água se houver alguma medida mais drástica”, afirma ele, calculando que conseguirá passar de cinco para oito dias sem água da rua, se as caixas estiverem cheias. A dona de casa Ana Carolina de Souza, de 27, que mora no limite dos bairros Ouro Preto, Paquetá e Bandeirantes, tem uma caixa de 1 mil litros e aguarda a chegada de outra com a metade da capacidade. Porém, ela pretende estocar água da própria Copasa. “Tenho duas crianças e uma avó que é cadeirante. Chegamos a ficar quatro dias em janeiro sem fornecimento e estamos muito preocupados”, afirma.

Dona de um depósito de material de construção no Bairro Paquetá, também na Pampulha, Maria Aparecida Santiago conta que desde janeiro tem vendido muitas caixas d’água, tambores e outros recipientes que possibilitam armazenamento de água. “Tem casos tanto de pessoas que querem guardar mais água da Copasa quanto de outras que buscam fazer o reuso, pegando da chuva ou de outras fontes, como da máquina de lavar”, explica. Gente que quer evitar quadros como o enfrentado pelo síndico de um edifício no alto do Bairro Ouro Preto: Otávio César de Carvalho Oliveira, de 36, conta que precisou pedir caminhão-pipa no mês passado, quando os condôminos ficaram três dias sem abastecimento. Devido à alta demanda, a água só chegou quando ele já havia pagado pelo reforço. “Combinei que ficaríamos com os 10 mil litros de crédito, pois essa parte mais alta sempre sofre mais e isso nos deixa extremamente apreensivos”, conclui.


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