Um casal que apanhou durante o carnaval de Belo Horizonte acusa um policial civil de tentar desqualificar a tentativa de homicídio, durante o registro na delegacia, pelo fato de uma das vítimas ter admitido que bebeu. O geógrafo Jorge Gabriel Gomes Simões, de 23 foi espancado por um desconhecido que havia assediado a sua namorada, por volta das 4h de segunda-feira, na Avenida Amazonas com Rua da Bahia, no Centro. Jorge sofreu traumatismo craniano, fraturou o maxilar, perdeu um dente e está com outros quatro abalados. A namorada Thaís Mendes Alves, de 23 anos, também levou um soco na boca e ficou inconsciente por alguns minutos.
“A gente tinha curtido o carnaval na Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, e passou em um bar depois, mas nenhum dos dois estava dirigindo. O fato de termos bebido não é motivo para legitimar uma agressão”, reclama a estudante de turismo, Thaís Mendes. Segundo ela, o tempo todo o policial de plantão terça-feira na Delegacia Regional Centro demonstrou desinteresse em registrar a ocorrência, insinuando que o casal não estava no Centro “rezando”.
O geógrafo Jorge Gabriel continua internado na tarde deste sábado no Hospital Municipal Odilon Behrens, aguardando transferência para outra unidade que atende pelo seu plano de saúde.
A estudante conta que ela e o namorado foram com um grupo de amigos beber em um bar próximo ao Viaduto Santa Tereza, depois do show na Praça da Estação. Quando iam embora, Thais entrou em um bar para perguntar o preço da cerveja e Jorge ficou do lado de fora aguardando. Foi quando um homem desconhecido a agarrou, conta a estudante, e ela empurrou para afastá-lo.
Thais conta que foi ao encontro do namorado e relatou o que havia acontecido. Os dois estavam indo embora e a estudante percebeu que eram seguidos pelo agressor. O namorado foi tomar satisfações com o desconhecido e foi espancado. “Tentei defender o meu namorado com a bolsa e acho que levei um soco na boca e desmaiei. Acordei com a boca sangrando e Jorge estava todo ensanguentado ao meu lado, tendo convulsões. Ele acordou e chorou ao perceber a situação dos seus dentes”, conta a estudante. Segundo relatório do hospital, Jorge sofreu traumatismo crânio-encefálico moderado. Ele precisou drenar um coágulo no cérebro.
A estudante conta que na delegacia, depois de muita demora, foi atendida por uma policial de nome Dulcinéia e foi bem tratada. Na quarta-feira, a estudante foi submetida a exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). Na quinta, levou o boletim de ocorrência para a 4ª Delegacia Distrital do Barro Preto para abertura de inquérito e tentar identificar o agressor, que é alto, forte, pele clara e com tatuagem tribal no braço.
“Queremos que esse monstro seja preso. Ele não tem condições de viver em sociedade”, disse Thaís, que retornará na noite deste sábado ao local do crime em busca de testemunhas. A expectativa dela é que o fato tenha sido registrado pelas câmeras do Olho Vivo. Jorge, segundo a namorada, foi aprovado no mestrado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a matrícula será feita por procuração, por ele não ter condições de viajar.
Mesmo com a tentativa do policial em desqualificar o crime, a Polícia Civil informou que o inquérito foi instaurado, no dia 17, por tentativa de homicídio. Thaís já foi ouvida pela delegada responsável, e o mesmo será feito com o geógrafo, assim que ele receber alta médica. Sobre o comportamento do policial da Regional Centro, a Polícia Civil informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que a determinação é atender bem todo cidadão, em qualquer delegacia do estado. “A pessoa que entender que não foi bem atendida, deve fazer a denúncia por meio da Corregedoria da Polícia Civil ou Ouvidoria Geral de Polícia. Para isso, precisa ter a identificação do policial e o endereço da delegacia”, orientou. Thaís disse ter condições de identificar o policial e que vai denunciar.