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Estado de Minas

Filho de ex-vereador de Monte Carmelo foi preso em churrasco após atentado a promotor

Depois de disparar 15 vezes contra o promotor, Juliano Aparecido de Oliveira, filho do ex-parlamentar, Valdelei José de Oliveira, foi para uma festa na casa da cunhada, na cidade próxima de Romaria. Outra linha de investigação dá conta de que Juliano estaria envolvido com o tráfico de drogas em Monte Carmelo


postado em 23/02/2015 21:58 / atualizado em 23/02/2015 22:06

Em apresentação, Juliano demonstrou frieza e negou-se a responder às questões dos repórteres(foto: Ramon Lisboa/EM/D. A. Press)
Em apresentação, Juliano demonstrou frieza e negou-se a responder às questões dos repórteres (foto: Ramon Lisboa/EM/D. A. Press)
Casado, pai de dois filhos, o promotor Marcus Vinícius tem 33 anos e já não corre mais risco de morrer. Desde ontem, foi transferido do CTI para o apartamento, onde recebe visita de familiares. Descrito pelos colegas como 'combativo', o promotor já solicitou escolta policial em outra investigação junto à Coordenadoria de Planejamento Institucional (Copli), há cerca de dois anos, por ter sofrido ameaças. Desta vez, Marcus Vinícius chegou a avisar que estava sendo ameaçado pelo vereador de Monte Carmelo, mas dispensou escolta armada. “É óbvio que a ação dos promotores desperta antagonismos, mas que nem sempre se traduzem em ação e em pedido de escolta policial. Esse juízo é pessoal”, explica o procurador André Ubaldino, que representou ontem o Ministério Público na coletiva de imprensa. Citando o poeta inglês William Shakespeare, ele diz que se alguém quer ser escravo do seu medo, não poderá ter essa profissão.

Desde 2002, ano da morte do promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, foi criada em Minas Gerais a Coordenadoria de Planejamento Institucional (Copli) para resguardar a vida dos promotores, com apoio da Polícia Militar. Até agora, por alegados motivos de segurança nunca foi divulgado o número de promotores e procuradores do Estado sob ameaça de morte ou que já tenham sofrido atentados, como Marcos Vinicius. “O caso do promotor de Monte Carmelo nos deixa ainda mais cautelosos quanto à necessidade dessa divulgação”, afirmou ontem o coordenador Fabrício Ferragini. Ele adiantou apenas já ter trabalhado em situações de casos graves, atendendo a várias ameaças potenciais em Minas. Em sua defesa, os promotores têm à disposição um telefone 24 horas, com a previsão de envio de um 'agente de campo', em caso de necessidade. Em relação ao atentado a Marcus Vinicius, o promotor não chegou, desta vez, a solicitar cobertura da Copli, como fez em ocasião anterior, há cerca de dois anos, em outra investigação.

Ubaldino levantou ainda outra hipótese para o crime praticado pelo filho do vereador. Segundo ele, outra frente de investigação de Marcus Vinícius aborda organizações criminosas envolvendo tráfico de drogas no Triângulo Mineiro, com a disputa entre grupos rivais. Em função dessa preocupação, ao saber que o promotor havia sofrido um atentado foi deslocada para a cidade uma equipe do Deoesp, além das polícias militar e civil, que atuaram em conjunto. “Sabemos que o filho do vereador tem ligações com o tráfico na cidade e que já foi objeto de investigações. Se ele foi alertado por advogados, pode estar alegando ter atirado contra o promotor que destruiu a vida do pai dele como forma de atenuar a penalidade. Se for julgado por homicídio simples, a pena prevista é de seis a 20 anos de prisão. Se for condenado por vinculação ao tráfico, sobe para 12 anos a 30 anos de cadeia”, compara Ubaldino, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).

Segundo o procurador, o jovem de 21 anos Juliano Aparecido de Oliveira, filho do ex-vereador de Monte Carmelo mostrou-se frio ao prestar depoimento às autoridades. Revelou também ter escondido a arma do crime em um matagal apontado como lugar usado por ele como esconderijo habitual da pistola calibre 380. “Está claro que ele foi meticuloso e adotou uma certa cautela ao se desfazer da arma, o que demonstra certo grau de inteligência do rapaz”, afirma Ubaldino, que acrescenta ainda que o outro irmão de Juliano já teria sido preso por dano ao patrimônio.

Ao ser apresentado em coletiva, nesta segunda-feira, Juliano Aparecido de Oliveira negou-se a responder às perguntas dos repórteres. Ele só apresentava alguma reação, fazendo gestos de negativa com a cabeça, todas as vezes em que foi perguntado se o pai dele estava envolvido no crime. O ex-vereador Valdelei José de Oliveira está preso preventivamente, desde o fim de semana, quando se dirigiu até a delegacia para pedir notícias do próprio filho. Ao contrário de Juliano, o pai não admitiu qualquer culpa pelo atentado. “Se você fez isso, você que assuma”, contou o delegado de Monte Carmelo, Wilton José Fernandes, que presenciou pessoalmente o encontro entre os dois. Ele e a delegada Cláudia Coelho Franchi estiveram também na apresentação do preso, na Cidade Administrativa.

O pai está preso pelas autoridades entenderem que pode haver necessidade de novos esclarecimentos. De acordo com os delegados, Juliano foi preso por volta de meia noite, na casa da irmã da sua companheira, em pleno churrasco, na cidade próxima de Romaria. Ele foi para a comemoração depois de descarregar 15 tiros no promotor, dos quais acertou três, sendo dois nas costas e um no braço. Ainda tentou recarregar a arma, mas o pente de balas caiu no chão e ao se abaixar da moto para pegar, o revólver travou. Nesse meio-tempo, Marcos Vinicius conseguiu correr e gritar por socorro. “Testemunhas disseram que ele montou campana na praça José Bonifácio a tarde inteira, em frente ao Ministério Público, montado na moto, aguardando a saída do promotor. Ele dava umas saídas para despistar e depois voltava. Aguardou de 15h até umas 20h, quando ele deixou a promotoria”, relata a delegada.

Carro do promotor foi atingido 15 vezes(foto: Ricardo Alexandre/Divulgação)
Carro do promotor foi atingido 15 vezes (foto: Ricardo Alexandre/Divulgação)
Para Wilton Fernandes, que acompanha o caso de perto, a principal motivação do crime parece ter sido mesmo a revolta em relação à perda de mandato do pai, em função das apuração das denúncias pelo promotor Marcus Vinicius. “Ele não apenas perdeu o cargo de vereador. O pai dele era o cabeça do esquema, dono de tudo e chegou a ser preso depois das denúncias. Além do prejuízo financeiro, o processo vexatório na cidade pequena gerou muita revolta na família. Em um dia o vereador era rei e no outro dia, ele passou a não ter mais nada”, disse. O delegado acredita ser menos provável a ligação de Juliano com as organizações de traficantes. “É sabido que ele estava vendendo droga, mas ele não tinha ideia de que estava sendo investigado”. Juliano será indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificada, por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima.

Na tarde desta segunda-feira, durante entrevista à imprensa na Cidade Administrativa, ressaltou-se a importância da integração das forças de segurança para o esclarecimento do crime. Participaram da entrevista o secretário de Estado de Defesa Social, Bernardo Santana, o chefe da Polícia Civil, delegado-geral Wanderson Gomes, o comandante da Polícia Militar e o coronel Marco Antônio Badaró Bianchini. “Uma violência desse tipo é inaceitável a qualquer cidadão. Nesse caso em especial, é uma resposta de Estado quando existe uma agressão a qualquer membro do Sistema de Defesa Social que trabalha para trazer segurança à sociedade. Essa resposta conjunta visa, também, coibir e dizer que o Governo de Minas não admite, na sua luta pela busca da legalidade, ataques às forças de segurança”, destacou Bernardo Santana.

De acordo com o chefe da Polícia Civil, Wanderson Gomes, o fato “lamentável e grave” foi esclarecido em menos de 24 horas, com a prisão dos suspeitos e a apreensão da arma utilizada no crime. O delegado observou que o desfecho da investigação foi devidamente embasado com provas testemunhais e materiais, que incluíram até mesmo a constatação de resíduos de pólvora nas roupas e no carro de Juliano.


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