Em uma dessas provas batizadas de “circuito alcoólico”, a estimativa é de que Humberto, natural de Passos, no Sul de Minas, aluno da Universidade Estadual Paulista (Unesp), tenha bebido de 25 a 30 copos, de 50 mililitros cada, de vodca, com teor alcoólico de 38%, mais do que o suficiente, segundo médicos, para comprometer o sistema nervoso central e causar uma parada cardiorrespiratória. Duas pessoas ligadas à organização do evento, que não tiveram os nomes divulgados pela polícia paulista, foram presas em flagrante por homicídio com dolo eventual, de acordo com o delegado de plantão. O corpo de Humberto foi enterrado no início da noite de ontem no Cemitério Municipal de Passos.
Desde o início de janeiro, uma página do Facebook vem dando publicidade à festa Inter Reps Bauru, caracterizada pela integração de estudantes de repúblicas de universitários da cidade paulista, conforme a descrição do evento. A comemoração foi programada para começar às 15h de sábado, mas, apenas uma hora depois, uma funcionária do Pronto-Socorro Central da cidade informou que estudantes bêbados e passando mal começaram a dar entrada em uma unidade de pronto atendimento (UPA) perto da festa. “Quando chegamos a seis atendimentos, informamos que não teríamos mais condições de atender e que outras pessoas deveriam ser encaminhadas diretamente ao Pronto-Socorro Central. Também chamamos a Polícia Militar ao local”, disse a funcionária, que pediu anonimato.
Um desses estudantes que foi direto ao hospital era Humberto.
O delegado explicou também que os organizadores deixaram uma ambulância no evento sem condições de dar atendimento de qualidade, apenas com um chá de boldo, líquido normalmente usado para auxiliar na recuperação de desconfortos estomacais causados por excesso de bebida alcoólica. “Se você organiza uma festa em que o vencedor é quem beber mais, prevê que as pessoas vão passar mal e coloca uma ambulância sem as melhores condições, não tem como eu não entender que concorreu para chegar a esse resultado”, avaliou o policial, explicando as razões que o levaram a prender em flagrante dois homens apontados como organizadores e autuá-los por homicídio com dolo eventual.
"Um menino alto astral"
Sob muita comoção de parentes e amigos, o corpo de Humberto Fonseca foi sepultado no início da noite de ontem no Cemitério Municipal de Passos, no Sul de Minas. O rapaz foi descrito pelos familiares como muito alegre e brincalhão. Segundo o engenheiro Cássio Brandão Lemos, de 59 anos, tio do rapaz, ele cursava o 4º ano de engenharia elétrica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, com frequência, visitava a cidade natal, onde mantinha muitos amigos. “Ele era um menino muito bom, gostava de fazer brincadeiras e sempre foi alto-astral. Todos estão arrasados”, diz o tio.
A família não quis entrar em detalhes sobre o abuso no consumo de álcool, se limitando a dizer que o laudo emitido pelo médico-legista aponta infarto do miocárdio.
“A morte ocorreu, ao que se sabe até o momento, motivada pelo consumo excessivo de bebida em festa promovida por várias repúblicas de estudantes da cidade, fora das dependências da universidade, onde a bebida alcoólica é proibida”, diz nota divulgada pela Unesp. A instituição informou que vai decretar luto oficial por três dias e está prestando apoio à família e denúncias contra trote violento ou contra qualquer outra espécie de violência podem ser realizadas junto à vice-direção da unidade, à Ouvidoria Local ou à Ouvidoria Central.
Os exames preliminares apontam que Humberto sofreu um infarto, mas o laudo completo com os exames toxicológicos devem ficar prontos em 30 dias. Mais três estudantes deram entrada em outras unidades de saúde de Bauru em estado grave, sendo necessário interná-los na UTI .
Duas mortes em Ouro Preto
Dois casos de abuso de bebida alcoólica como o que vitimou o estudante mineiro Humberto Moura Fonseca foram registrados em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, em 2012. Em outubro daquele ano, Daniel Macário de Melo Júnior, de 27 anos, aluno do curso de artes cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), foi encontrado morto na cama do quarto que ele ocupava na República Nóis é Nóis. A noite anterior à morte foi de excesso de bebidas alcoólicas. Na época, a Polícia Militar informou que ouviu de amigos de Daniel que ele tinha bebido muita cerveja, uísque e energético durante uma festa para comemorar o fato de ele deixar de ser “bicho”, nome usado para identificar os calouros. Amigos o colocaram na cama, mas ele acabou parando de respirar enquanto dormia. Menos de dois meses depois, Pedro Silva Vieira, de 25, passou pelo mesmo roteiro. Após uma noite de bebedeira em excesso, o Corpo de Bombeiros afirmou que ele teve uma crise de vômito. Quando os militares chegaram, ele já estava sem vida na república federal Saudade da Mamãe. Um desfibrilador chegou a ser usado, mas a técnica não surtiu efeito.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra como acontece a competição de ingestão de bebida alcoólica durante as festas universitárias. As imagens são de um evento da InterReps. Assista abaixo:
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