Uma grade de ferro, que mais parece de uma prisão, separa dois mundos bem diversos na Região Hospitalar de Belo Horizonte: do lado de dentro, está o dono de restaurante que serve comida mineira, e do outro, as frequentes ameaças de assalto. “Felizmente, ainda não fui rendido durante o dia, mas, à noite, os bandidos já invadiram o estabelecimento cinco vezes. Levaram até uma TV de 50 polegadas”, diz o comerciante, que, a exemplo dos demais, não diz o nome nem permite fotografias. “O clima está tenso na área há muito tempo. Tudo o que queremos é uma câmera Olho Vivo ou uma guarita da Polícia Militar. Você pode caminhar por aí que não vai encontrar um soldado”, afirma. A grade, ele acrescenta, foi instalada para evitar novas invasões e impedir que o espaço entre a via pública e a porta principal seja usado como banheiro para sexo. “O chão ficava cheio de preservativos”, reclama.
Os demais comerciantes também não escondem o medo e são unânimes ao dizer que os assaltantes agem livremente na região, especialmente na esquina das avenidas Brasil e Francisco Salles, no entorno da Santa Casa.
Segundo a empresária, os ataques ocorreram à tarde e um criminoso participou dos dois. “Eles são jovens, com idade entre 23 e 26 anos, e agem com muita rapidez”, explicou. Além do pânico, os assaltantes causaram prejuízo de cerca de R$ 18 mil. O primeiro assalto foi por volta das 17h de 2 de janeiro. Dois homens, um deles armado, chegaram a pé à farmácia, renderam quatro funcionários e mandaram que os levassem até o cômodo onde fica o cofre. Um bandido subiu ao segundo andar da loja, obrigou uma empregada a abrir o equipamento e pegou cerca de R$ 3 mil em dinheiro. Enquanto isso, o comparsa ficou no primeiro pavimento vigiando as demais vítimas. “Espalharam o terror, chegaram muito agressivos e falaram que iam nos matar”, descreveu a empresária. Ninguém ficou ferido.
Em 2 de março, a drogaria foi assaltada de novo. Desta vez, com mais violência, de acordo com a empresária. Os ladrões abordaram os funcionários, que foram forçados a deitar no chão, enquanto um dos criminosos foi ao cofre e roubou aproximadamente R$ 15 mil entre notas e cheques.
“Foi mais violento. Eles quebraram máquinas e computadores e ainda ameaçaram de morte os funcionários, se não entregassem o dinheiro. É aterrorizante”, desabafou a empresária. Logo depois do crime, uma mulher, que trabalha em outra loja da mesma rede e passava pelo local, avisou a Polícia Militar. Uma equipe chegou rapidamente ao local, mas não conseguiu prender a dupla. Um boletim de ocorrência foi registrado.
Câmeras do circuito interno registraram a ação dos assaltantes na segunda vez e, conforme a empresária, as imagens são nítidas e mostram a fisionomia dos assaltantes. No primeiro ataque, o sistema estava com problema, o que impediu a gravação de imagens dos criminosos. A dona da rede de farmácias disse que vai se reunir com os comerciantes vítimas de assaltos e procurar a Polícia Militar.
Veja imagens do assalto
MOBILIZAÇÃO Segundo o dono de um restaurante, comerciantes da região estão se mobilizando para cobrar medidas urgentes da Polícia Militar.
Em 6 de fevereiro, a situação não foi menos traumática em um restaurante. Por volta das 6h30, quando o proprietário abriu as portas do estabelecimento – ele e 11 funcionários ficaram na mira de três homens, um armado com revólver e outro com uma faca. Com uma arma apontada para a cabeça, ele foi obrigado a abrir o cofre. Enquanto o criminoso roubava cerca de R$ 4 mil, seu comparsa dominava os funcionários, que tiveram os celulares recolhidos para impedir qualquer contato com a PM. O dono contou ainda que, durante a ação dos ladrões, um fornecedor chegou ao restaurante para entregar mercadorias e acabou sendo surpreendido pelos bandidos.
Os criminosos ficaram 14 minutos no restaurante e fugiram em um Golf prata, dirigido por um homem que deu cobertura ao crime. Segundo o proprietário, a polícia esteve no local depois de avisada por uma funcionária do estabelecimento, que conseguiu se esconder em dos banheiros do imóvel. Ele contou ainda que, depois do crime, os funcionários do estabelecimento estão assustadas e inseguras. “Ficou o medo. Estamos esperando o próximo assalto”, desabafou.
O proprietário de uma loja de acessórios se considera refém da violência na Região Hospitalar. Ele teve o comércio assaltado em outubro de 2014, quando um homem armado com uma faca entrou no local. Além de render quatro funcionárias, o criminoso roubou dinheiro e quatro relógios. O lojista denuncia a falta de policiamento na região: “Aqui tem uma grande circulação de pessoas, mas é raro ver um policial”. Descrente da polícia, o lojista não registrou boletim de ocorrência. Uma funcionária de uma loja na Avenida Brasil dá “graças a Deus” por não ter sido assaltada e afirma que todos trabalham com medo.
QUEDA SEM NÚMEROS Apesar das denúncias dos comerciantes da Região Hospitalar, o tenente Vander Paulo, da 3ª Companhia do 1º Batalhão, responsável pelo patrulhamento na região, informou que houve uma redução de cerca de 30% nos assaltos entre novembro de 2014 e janeiro, em comparação com o mesmo período anterior. O militar, porém, não divulgou os números do levantamento.
O tenente afirmou ainda que a PM já se reuniu com os lojistas da região para adotar medidas preventivas de segurança. No caso da drogaria, o militar disse que os suspeitos do crime ainda não foram localizados e que as imagens do circuito de segurança estão com a Polícia Civil.
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