Um abraço simbólico começa a dar bons resultados. A Prefeitura de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vai destinar verba de R$ 120 mil para obras de reparo na cobertura da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Centro da cidade que comemora 301 anos. Há 14 dias, centenas de moradores, tendo à frente o titular da paróquia, padre Wellington dos Santos, deram as mãos em torno da igreja para pedir providências às autoridades e conclamar a população a defender seu maior bem histórico e cultural. “Agora estamos mais tranquilos com o anúncio da prefeitura. O dinheiro representa metade do que ainda precisamos para fazer o serviço”, disse o religioso.
Desde março, a paróquia junta dinheiro para os serviços no telhado. A obra, com projeto aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia responsável pelo tombamento em 1938, está orçada em R$ 400 mil, mas há, em caixa, somente R$ 160 mil. “Conseguimos R$ 80 mil, fruto de doações, contribuições via carnês, barraquinhas, festas e venda de material reciclável, e o mesmo montante de uma emenda parlamentar. Vamos continuar nossa campanha para conseguir o restante”, informa padre Wellington.
O dinheiro dá um alívio, mas a possibilidade de chuvas fortes complica a vida do padre e da comunidade católica de Caeté, já que os estragos ao longo do tempo foram muitos. Há estragos nas pinturas do forro e buracos no piso de madeira da nave, resultantes das infiltrações no templo, que tem obras atribuídas a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Devido a goteiras, o padre teve que mudar de lugar a recém-restaurada imagem de Santa Luzia, transferindo-a para o altar de Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores
A secretária municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio de Caeté, Cássia Paes, informa que a verba destinada provém do Fundo Municipal de Patrimônio Cultural. “Estamos apenas esperando o setor jurídico da prefeitura definir de que forma o dinheiro será repassado”, diz a secretária. As obras da matriz não foram incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas.
HISTÓRIA A edificação da Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso é atribuída ao construtor Antônio da Silva Bracarena, a partir da planta possivelmente elaborada pelo arquiteto Manoel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho. Segundo os especialistas, trata-se de um marco da arquitetura religiosa em Minas, sendo considerado o primeiro templo erguido em alvenaria e pioneiro de um novo estilo diferenciado do barroco jesuítico. Na decoração interior, há um conjunto de retábulos em estilo rococó, os primeiros da Capitania de Minas, com destaque para o retábulo do altar-mor, no estilo dom João V.
No frontispício, está gravada a data de 1757, talvez o ano do término da obra. A portada (parte que adorna a porta de entrada da igreja) tem trabalhos em alto relevo, executados em pedra-sabão. Estudos mostram que a igreja está entre as primeiras com trabalhos de Aleijadinho, que teria iniciado ali a carreira como aprendiz do entalhador José Coelho Noronha. Entre as principais características da nave, há oito altares laterais executados ao gosto joanino e rococó com arcos interrompidos no coroamento dos retábulos.