Com oito andares e 12 apartamentos, o edifício dispõe de caixa-d’água para armazenar 10 mil litros e um reservatório, próximo à garagem no subsolo, com a mesma capacidade. “Só para encher a reserva técnica de incêndio são necessários dois dias, com a água jorrando 24 horas. Mas, se houver queda na pressão, o quadro complica: fizemos os cálculos e verificamos que precisaremos de uma semana”, diz Sartori. “A crise mudou a vida da pessoas.
Já na Região Leste, o administrador de um prédio de dois blocos, cada um com 18 andares, concorda com as medidas tomadas pelas autoridades para economizar. “Temos três caixas-d’água, duas maiores sobre cada bloco e uma menor, na garagem. Há dois anos, fizemos a limpeza. Deixamos a bomba desligada um dia antes para esgotar a água que vai para os moradores e ela acabou de madrugada. Sobrou a reserva técnica de incêndio, gastamos mais de uma hora para esvaziar, enfim, jogamos toda a água fora”, relata o síndico, que preferiu não se identificar. Nessa tarefa, ele estima ter desperdiçado 100 mil litros de água e, por isso, já pensa em não fazer a manutenção este ano. “Já tinha adiado a limpeza exatamente para impedir o desperdício. Acho que não é hora de tomarmos esta atitude”, comentou. No Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste, um prédio de seis andares está há dois anos sem limpeza da caixa. Os moradores reclamaram de sujeira descendo pelos canos, mas acabaram achando melhor não jogar água fora nesse início de ano.
O certo é que a limpeza das caixas dos prédios virou um dilema em BH. Mesmo com obrigatoriedade de manutenção das caixas-d’água e sujeitos a multas pelo descumprimento da lei municipal, que determina a limpeza de desinfecção semestral, os síndicos driblam seu planejamento.
RECOMENDAÇÕES A Copasa recomenda que, devido à crise hídrica, a limpeza das caixas-d’água seja feita somente após o uso de toda a água estocada. Segundo os técnicos da estatal, o serviço deve ser feito com o restante da água que ficar no fundo da caixa. “A companhia também recomenda manter a caixa-d’água bem tampada para que nenhum bicho ou impureza contamine a água tratada que chega aos imóveis. Se a caixa for subterrânea, é indispensável observar se ela tem proteção contra a água de chuva”, informou, em nota, a empresa.
DESPERDÍCIO NA RESERVA TÉCNICA Como a reserva técnica não pode ser esvaziada, milhares de litros de água são jogados fora todas as vezes que as caixas-d’água são esvaziadas. “Essa lei tem que ser modificada. Imaginem nesses anos todos quantos milhões de litros de água foram jogados fora”, alerta o assistente administrativo Alexandre Miguel Rodrigues, que trabalhou 17 anos como profissional de limpeza de reservatórios. Preocupado com a situação da crise hídrica na Grande BH, Rodrigues afirma que procurou diversas autoridades e órgãos para tratar o assunto. “Já tentei contato com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Copasa, fui a Câmara Municipal, Assembleia Legislativa, e nada. Somente eu, em 2007, desperdicei 740 mil litros de água em limpeza dos reservatórios.”
A implantação da reserva técnica de incêndio está prevista na Lei de Prevenção contra Incêndio e Pânico.
A Lei Municipal 6.673, de 1994, que trata das normas para assegurar a qualidade da água armazenada em reservatórios, prevê que a limpeza e desinfecção das caixas-d’água tem que ser feita em, no máximo, a cada seis meses. Os moradores estão sujeitos a penalidades como advertência e multa de R$ 1.842..