A terra seca e rachada lembra o sertão, onde a chuva é raridade. Mas a paisagem é o reservatório Serra Azul, em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a água era abundante há três anos. Os temporais dos últimos dias não foram suficientes para elevar o nível de forma satisfatória. Acostumados com o lago azul, os moradores enxergam quilômetros de terra seca que mais parece deserto. O nível está tão baixo que uma ponte que ligava Mateus Leme a Igarapé, submersa há 33 anos, agora pode ser vista. Por ela passou inclusive um carro de vistoria da Copasa, ontem à tarde.
Responsável pelo fornecimento de 8% da água de BH, o Serra Azul é um dos sistemas que mais preocupam as autoridades. Há 10 dias, o secretário estadual de Planejamento e Gestão, Helvécio Magalhães, diz temer que o reservatório fique seco em maio, se não houver redução no consumo de água e chover muito este mês. A assessoria de comunicação da Copasa afirmou que, mesmo com as chuvas de fevereiro e março, os planos para que o racionamento comece em maio não serão alterados.
As chuvas em fevereiro e nos primeiros dias de março superaram a média histórica para o período.
Nos 12 primeiros dias de março, as preciptações alcançaram a média histórica para o mês – 165 milímetros. A previsão do TempoClima PUC Minas é que deverá ficar entre 200 e 250 milímetros. O problema é que, em abril, os índices pluviométricos caem significativamente e a média passa de 165 milímetros para 61,2 milímetros. “As chuvas de fevereiro e março amenizam, mas não recuperam. Teríamos que ter pelo menos três períodos chuvosos com preciptações acima da média para melhorar”, afirma o meteorologista do TempoClima Heriberto dos Anjos. Na estação chuvosa, que vai de novembro a março, os meses com maiores precipitações – dezembro e janeiro – ficaram com os níveis abaixo das médias históricas. Em dezembro, eram esperados 320 milímetros, mas choveu apenas 30%. As estações chuvosas de 2012/2013 e 2013/2014 ficaram abaixo da média histórica para o período.
O governo de Minas deverá estabelecer programas de cooperação técnica com a Espanha para reduzir o percentual de desperdício de água tratada. O embaixador da Espanha, Manuel de la Càmara Hermoso, esteve ontem em Belo Horizonte para tratar os termos da cooperação com o governador Fernando Pimentel e a presidente da Copasa, Sinara Meirelles.
A Espanha é reconhecida como um dos países europeus com alto grau de desenvolvimento tecnológico em gestão das águas. O embaixador lembra que o país apresenta médias pluviométricas semelhantes ao semi-árido brasileiro, o que faz com que tenham que aproveitar o máximo a água. Segundo ele, em algumas regiões do país, o índice de aproveitamento da água tratada é de 100%. A média em todo o país é de 10% de desperdício, o que é um quarto do que é perdido em Minas. O embaixador também discutiu futuras parcerias de pequenas e médias empresas dos dois países.