A terra seca e rachada lembra o sertão, onde a chuva é raridade. Mas a paisagem é o reservatório Serra Azul, em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde a água era abundante há três anos. Os temporais dos últimos dias não foram suficientes para elevar o nível de forma satisfatória. Acostumados com o lago azul, os moradores enxergam quilômetros de terra seca que mais parece deserto. O nível está tão baixo que uma ponte que ligava Mateus Leme a Igarapé, submersa há 33 anos, agora pode ser vista. Por ela passou inclusive um carro de vistoria da Copasa, ontem à tarde.
Responsável pelo fornecimento de 8% da água de BH, o Serra Azul é um dos sistemas que mais preocupam as autoridades. Há 10 dias, o secretário estadual de Planejamento e Gestão, Helvécio Magalhães, diz temer que o reservatório fique seco em maio, se não houver redução no consumo de água e chover muito este mês. A assessoria de comunicação da Copasa afirmou que, mesmo com as chuvas de fevereiro e março, os planos para que o racionamento comece em maio não serão alterados.
As chuvas em fevereiro e nos primeiros dias de março superaram a média histórica para o período. Os níveis dos reservatórios aumentaram, inclusive o de Serra Azul. As informações são um alento, mas não resolvem a crise hídrica pela qual passa Minas Gerais. De 26 de janeiro, quando a Copasa começou a divulgar diariamente a situação das barragens, até ontem, o Sistema Paraopeba, responsável pelo abastecimento na Grande BH, passou de 30% para 33%. O reservatório Serra Azul está com 11%, praticamente o dobro em relação ao período em que registrou o menor nível, de 5,8%. O Vargem das Flores passou de 27,72% para 35,5%, e o Rio Manso, de 44,78% para 45,4%.
Nos 12 primeiros dias de março, as preciptações alcançaram a média histórica para o mês – 165 milímetros. A previsão do TempoClima PUC Minas é que deverá ficar entre 200 e 250 milímetros. O problema é que, em abril, os índices pluviométricos caem significativamente e a média passa de 165 milímetros para 61,2 milímetros. “As chuvas de fevereiro e março amenizam, mas não recuperam. Teríamos que ter pelo menos três períodos chuvosos com preciptações acima da média para melhorar”, afirma o meteorologista do TempoClima Heriberto dos Anjos. Na estação chuvosa, que vai de novembro a março, os meses com maiores precipitações – dezembro e janeiro – ficaram com os níveis abaixo das médias históricas. Em dezembro, eram esperados 320 milímetros, mas choveu apenas 30%. As estações chuvosas de 2012/2013 e 2013/2014 ficaram abaixo da média histórica para o período.
Parceria contra o desperdício
O governo de Minas deverá estabelecer programas de cooperação técnica com a Espanha para reduzir o percentual de desperdício de água tratada. O embaixador da Espanha, Manuel de la Càmara Hermoso, esteve ontem em Belo Horizonte para tratar os termos da cooperação com o governador Fernando Pimentel e a presidente da Copasa, Sinara Meirelles. Um dos acordos é a realização de encontro técnico sobre gestão das águas, que deverá ocorrer em junho na capital. “Temos muito interesses em comum. Pela climatologia da Espanha, que é muito seca, 300 milímetros por ano, praticamente o mesmo que o semi-árido no Brasil cos semelhantes, tivemos que desenvolver tecnologia de gestão da água de máxima eficiência. Estamos interessado em cooperar com o Brasil, em especial com Minas Gerais”, disse o embaixador. Durante o encontro, deverão ser discutidas tecnologias de fornecimento nas cidades, reservação de água, redução de perdas, reuso e irrigação. “Espanha juntamente com Israel devem ser os países mais avançados do mundo em gestão da água”, disse.
A Espanha é reconhecida como um dos países europeus com alto grau de desenvolvimento tecnológico em gestão das águas. O embaixador lembra que o país apresenta médias pluviométricas semelhantes ao semi-árido brasileiro, o que faz com que tenham que aproveitar o máximo a água. Segundo ele, em algumas regiões do país, o índice de aproveitamento da água tratada é de 100%. A média em todo o país é de 10% de desperdício, o que é um quarto do que é perdido em Minas. O embaixador também discutiu futuras parcerias de pequenas e médias empresas dos dois países. A ideia é estreitar parcerias entre a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e a Confederação das Indústrias da Espanha. “A ideia é tentar encontrar oportunidades conjuntas de negócio em outros países”, afirmou. Alguns do projetos em vista são o metrô no Panamá, na América Central, gasoduto no sul do Peru e o porto em Montevidéu, no Uruguai, ambos países na América do Sul.