Jornal Estado de Minas

WhatsApp se torna mais uma arma no combate à criminalidade nos bairros de BH

Moradores criam grupos de mensagem no aplicativo e contam com o apoio da Polícia Militar para expandir a novidade

Jorge Macedo - especial para o EM
Valquiria Lopes

A advogada Vânia Maria criou a rede de proteção depois de ter sua casa, no Bairro Buritis, assaltada quatro vezes. Ela e as vizinhas Marisa e Rosângela se sentem mais tranquilas com a iniciativa - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Os dados mais recentes sobre o número de usuários do WhatsApp, aplicativo para conversação em smartphones, mostram que a ferramenta digital se tornou uma febre mundial. São mais de 700 milhões de usuários, de acordo com informações da empresa, divulgadas em janeiro. No Brasil, não há números recentes, mas em fevereiro de 2014 a estimativa era de 38 milhões de brasileiros usando o aplicativo. E à medida que o WhatsApp vai ganhando adeptos, sua utilização se amplia. Em Belo Horizonte, moradores de diversos bairros têm lançado mão da ferramenta para se proteger da violência.


Por meio de troca de mensagens, vizinhos informam sobre movimentações estranhas de veículos, pessoas suspeitas e até mesmo ocorrências de assaltos, furtos ou arrombamento de veículos próximos à sua residência. Assuntos relacionados a trânsito, acidentes e demandas de infraestrutura do bairro também entram em pauta, mas quem participa garante: “Segurança pública é nossa prioridade”, diz o presidente da Associação de Moradores do Bairro de Lourdes, Jeferson Rios. Na lista dos primeiros a adotar a estratégia, em outubro, os comerciantes da Savassi já colhem benefícios da iniciativa, com redução da criminalidade. A rede de proteção também já funciona no Estoril, Buritis e Prado (Oeste).

Na Região Centro-Sul, moradores do São Pedro estão interessados em montar um grupo, bem como a comunidade do Castelo, na Pampulha. Em alguns dos já existentes, a Polícia Militar está incluída na lista de contatos.


Na Savassi, onde há dois grupos que somam 160  comerciantes , além de outro específico para 20 farmácias, o uso do WhatsApp para repassar informações sobre crimes já resultou em três prisões, queda de ocorrências com uso de arma de fogo e 20% de redução dos crimes violentos. De acordo com o comandante da 4ª Cia – responsável pela área –, major Renato Salgado Cintra Gil, funcionários de agências bancárias da região também estão criando um grupo para tentar coibir a ação de bandidos, para reprimir os assaltos a clientes na porta dos estabelecimentos, a conhecida saidinha de banco. Ele explica que a administração do grupo de comerciantes fica a cargo da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), enquanto o de famácias é coordenado diretamente pela Polícia Militar. “O WhatsApp é uma ferramenta muito útil porque as informações chegam em tempo real. Muitas vezes, alguém presencia um crime numa loja ou residência vizinha, ou mesmo na rua, e pode ajudar a polícia passando informações sobre os criminosos, como características do veículo em que estavam e tipo físico e quantidade de indivíduos”, comenta.


No Bairro de Lourdes, a iniciativa partiu da associação de moradores. Os filiados à entidade já trabalhavam com radiocomunicadores para atuar preventivamente na ocorrência de crimes. “Atualmente, são 60 rádios e existem 10 condomínios na fila. A rede funciona muito bem e conta com participação da Polícia Militar. Agora, resolvemos implementar o serviço com o grupo no WhatsApp, que, além de ser muito útil, vai servir para incluir os moradores que querem os rádios, mas ainda aguardam pelos aparelhos”, disse Jeferson Rios. Ele conta que entre os diálogos trocados pelos membros do grupo recém-criado há informações sobre carros parados na porta de casas, lojas e prédios, pessoas com atitude suspeita, entre outros. “A ideia é tentar se proteger da maior forma possível”, diz o empresário Rômulo Cesar, dono de um bar em Lourdes e também integrante da rede, que já conta com 100 contatos, incluindo a PM.

REUNIÃO VIRTUAL A luta por segurança no Estoril também fez moradores se unirem no WhatsApp. A iniciativa é da advogada Vânia Maria Nonato Souza, de 45 anos, e já reúne 65 adeptos.

“Minha casa já foi assaltada quatro vezes. Somente no ano passado, foram duas ocorrências. Também vi minha vizinha ter a casa invadida por bandidos três vezes e há um mês um morador levou um tiro durante um assalto. O bairro já tem a rede de vizinhos protegidos da PM, mas acho que a integração poderia melhorar com a criação do grupo no WhatsApp”, afirma Vânia. Sobre as vantagens da reunião virtual, ela explica: “O celular é um aparelho que todo mundo tem à mão, o tempo todo. Além disso, a gente pode mandar só o áudio. Não precisa digitar se não tiver como, naquele momento”. Empolgada com a ferramenta, ela lembra um dos episódios de assalto em sua residência que poderia ter outro desfecho caso o grupo já tivesse funcionando. “Eu estava voltando de viagem e recebi uma ligação do serviço de segurança dizendo que o alarme de casa tinha disparado. Liguei para a vizinha e ela disse que não tinha visto nada acontecendo e dispensei o segurança, que geralmente vai checar o que está acontecendo.
Em seguida, minha vizinha de frente ligou e disse que um homem estava saindo da minha casa com a televisão. A polícia foi chamada, mas os assaltantes já tinham fugido”, conta, lembrando ainda que, com a troca de informações na rede, várias pessoas poderiam ter ficado atentas sobre a movimentação dos bandidos na casa dela.


A vizinha de bairro e também integrante do grupo, a psicóloga Marisa Pereira de Filippo, de 54 , também está satisfeita com a rede de monitoramento on-line. Sua entrada no grupo ocorreu depois que ela teve sua residência assaltada em 18 de dezembro. “Estava fazendo uma obra na minha casa e o portão estava aberto. Eles aproveitaram esse momento para entrar e render a empregada. Levaram computadores, tablets, telefones e aparelhos de TV. Se já fizesse parte da rede, talvez tivesse sido avisada pelos vizinhos para fechar o portão”, disse a psicóloga. A vizinha Rosângela Aparecida Cunha Barbosa, de 54, outra participante do grupo, lembra de um caso parecido. “Um vizinho viajou e esqueceu o portão aberto. Depois de várias mensagens trocadas entre moradores, conseguiram o número do telefone e o avisaram para mandar alguém fechar. Tudo ocorreu de forma muito rápida e o problema foi solucionado”, contou.


No Buritis, o grupo de vizinhos é recente e reúne, por enquanto, integrantes da associação de moradores do bairro. A diretora de eventos da entidade, Fátima Gottschalg, informa que a iniciativa será expandida, com inclusão também de comerciantes e da população em geral. “Criamos o grupo há cerca de um mês e funciona superbem porque as pessoas podem postar situações do dia a dia em tempo real”, disse.

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