Nem Savassi, nem Lourdes, nem Seis Pistas. Para boa parcela do público jovem de Belo Horizonte, o local preferido para a diversão noturna é a Rua Alberto Cintra, no Bairro União, Região Nordeste da capital. A movimentação noturna na vida começou há três anos e hoje o local abriga 25 bares e restaurantes em quatro quarteirões. De quinta-feira a domingo, cerca de 20 mil pessoas, média de 5 mil por noite, se divertem nos estabelecimentos da área.
Para o público que movimenta a vida noturna na Rua Alberto Cintra, os motivos para esta preferência são bem diversificados. O empresário Alexandre Magalhães, de 42 anos, morador do Bairro Planalto, Região Norte de BH, gosta dos preços e da variedade de opções. “No momento, esse é o lugar onde venho para tomar uma cerveja gelada e apreciar bons petiscos. Aqui come-se um espetinho por R$ 5 ou um prato sofisticado da culinária japonesa. Isso atrai pessoas e torna o clima animado”, avalia.
Já o engenheiro Cláudio Quintão, de 45, foi apresentado aos bares da Alberto Cintra há três anos, quando executava o projeto de um prédio no local.
O estudante de engenharia Maike Augusto, de 22, e a namorada, Stephanie Lima, de 23, moram no bairro e dizem que pelo menos uma vez por mês vão ao local. “É tranquilo, gostoso e perto de casa”, explica Maike, que há um ano se tornou cliente dos bares da Alberto Cintra. “É perto e a gente pode sair para beber sem se preocupar em pegar táxi. É um ambiente bacana, com muita gente bonita e boa comida”, acrescentou Stephanie, que é servidora administrativa do Detran e nem cogita a possibilidade de se entregar à tentação da bebida longe de casa e correr o risco de ser parada numa blitz da Lei Seca.
SATISFEITOS Os comerciantes da Alberto Cintra também não têm do que reclamar. O empresário Rodrigo Sampaio Carvalho, de 37, dono de um restaurante de comida japonesa, conta que, num primeiro momento, achou que não seria bem-sucedido na região. “Vim para cá em 2010, quando havia apenas um restaurante, que já fechou. Pensei em desistir do ponto, como muitos que abriram comércio aqui e não persistiram. A partir de 2013 houve crescimento de público, acompanhando outros investimentos na região visando à Copa do Mundo na capital. Valeu ter insistido”, afirmou.
Nicola Vizioli, de 59, estabelecido no primeiro quarteirão da Alberto Cintra, um dos mais movimentados, diz que a partir da noite de quinta-feira recebe diariamente pelo menos 300 clientes em suas duas lojas, até chegar o domingo. Ele arrisca calcular que ao longo da via, entre todos bares e restaurantes, circulam 5 mil pessoas diariamente nos fins de semana.“Há dois anos abri uma sanduicheria aqui, atraído pelo espaço do calçadão à frente da loja. Com seis meses, transferi também para cá o meu bar, que há 18 anos funcionava no Cidade Nova. Há quem diga que o público saiu da área central devido à fiscalização da Lei Seca.
Rápida mudança de perfil
Há 25 anos, a área onde hoje está a Rua Alberto Cintra era um brejo, como bem se lembra a servidora pública aposentada Raymunda Torquete Silva, de 76 anos. “Em 1975, recebi parte de uma herança que era suficiente para comprar uma televisão em cores ou a casa aqui na beira do córrego. Era minha casa e mais quatro de um lado do brejo e do outro um matagal, onde depois se tornou uma garagem de ônibus. Não dei conta, fui embora e voltei aqui só depois de 10 anos, quando havia asfalto em pelo menos metade da rua”, recordou Raymunda. A filha dela, Matilde Gonçalves, diz que em 2005 a rua já era asfaltada, porém deserta e insegura, apesar da chegada dos primeiros prédios e de uma padaria. “Hoje aqui é bem seguro devido ao constante movimento. O policiamento foi reforçado depois desse crescimento, que nos últimos três anos duplicou.”
Há 15 anos na Rua Alberto Cintra, o comerciante Nicolau Lima Figueiredo, de 61, mora em frente ao centro comercial onde estão 14 dos mais agitados bares e restaurante da via, mas não se sente incomodado. “Sair, por enquanto não. Gosto muito daqui. O barulho na rua não me incomoda, não atrapalha meu sono.
O programador de produção José Maria Arruda, de 59, é um dos moradores do conjunto de três prédios no começo da rua. “Alguns vizinhos já saíram daqui devido ao barulho e à quantidade de carros estacionados na rua, o que dificulta o acesso dos moradores. Até pouco tempo a movimentação não incomodava. Mas de uns meses para cá, alguns comerciantes estão com som alto até a madrugada. Não sou contra ter os bares e restaurantes vizinhos e até frequentava alguns. Mas alguns poucos estão trazendo transtorno e a fiscalização da prefeitura parece ignorar”, enfatizou Arruda, que ainda este ano terá bem ao lado de seu prédio um imóvel comercial com sete lojas e mais de 100 vagas de estacionamento..