Perigo e descaso viajam juntos pela BR-381 quando o assunto são acidentes e mortes. A estrada que mais matou em 2014 entre todas as federais que cortam Minas não teve investimentos à altura para melhorar a segurança de quem precisa usá-la. Somente no ano passado, segundo balanço da Polícia Rodoviária Federal, 248 pessoas perderam a vida na rodovia (considerados os trechos da divisa com o Espírito Santo até a divisa com São Paulo), 21,5% do total de 1.149 mortes nas BRs de Minas. O 7.523 acidentes e 4.498 feridos também são bem maiores que os registrados em ocorrências de outras BRs no estado. Ainda assim, e mesmo um ano depois de iniciada a tão esperada duplicação, apenas 6,85% da obra foi executada.
O trecho onde ocorreu o acidente com os profissionais do Grupo Genoma está em situação semelhante. Inserido no lote 1, que compreende os 72,8 quilômetros entre Belo Oriente e Governador Valadares, o percurso só teve 9,03% de intervenções concluídas. Ainda assim, não será duplicado – providência que evitaria batidas como a que provocou a tragédia – e receberá apenas melhorias na malha viária. Os dados são da Gerência de Projetos BR-381 Norte, atualizados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) em fevereiro.
Ontem, os corpos dos professores André Marconi Ribeiro Leite e Paulo Sérgio Oliveira voltaram a passar pela Estrada da Morte. Liberados da funerária em Governador Valadares às 18h, seguiram para Belo Horizonte, onde seriam velados durante a madrugada. O velório do professor André Marconi começaria por volta das 23h, no Cemitério Parque da Colina, no Bairro Nova Cintra, Região Oeste. O enterro está marcado para as 10h de hoje. O corpo do colega de profissão Paulo Sérgio deve ser enterrado no mesmo horário, no Cemitério Bosque da Esperança, no Bairro Serra Verde, Região de Venda Nova. O motorista Nilson Teodoro, que morava em Governador Valadares, foi velado na cidade, na Igreja Sara Nossa Terra, com enterro marcado para hoje, às 8h.
As características também foram lembradas por alunos que ainda estavam chocados com a notícia da morte. “Ele era um professor perfeito. Tinha um jeito muito bom de ensinar. A gente falava que ele não dava aulas e sim palestras, de tão bom que era”, contou o aluno Thiago Coelho, na companhia dos colegas Camila Barbosa e Rodrigo Alves.
O coordenador pedagógico do Bernoulli, Marcos Raggazzi, também lamentou a morte de André e suspendeu, na tarde de ontem, as aulas das duas turmas em que o professor lecionava na instituição. Depois de serem avisados pela direção sobre a morte, os estudantes choraram muito e, emocionados, fizeram cartazes com depoimentos para entregar à família no velório.
Desde ontem, são inúmeros os posts de alunos, amigos e funcionários em redes sociais para homenagear os mortos no acidente. Em sua página na internet, o Grupo Genoma postou que está de luto até quinta-feira. Os alunos da instituição fizeram um ato de homenagem aos dois professores e ao motorista Nilson Teodoro, mortos no acidente. “Todo mundo está muito abalado e chorando muito. André e Paulo Sérgio eram dois professores carismáticos, queridos e que dominavam demais os conteúdos que lecionavam. A morte deles e do motorista Nilson é uma perda irreparável para a escola”, disse a diretora Pedagógica do Genoma, Janaine Cunha. Segundo ela, funcionários seguiram para Belo Horizonte em um ônibus fretado ontem para acompanhar o velório dos professores.