Para se ter uma ideia do rigor da seca que está por vir, nos últimos dois anos choveu, em média, 222,5 milímetros na Grande BH nos seis meses de estiagem. A média é 59% inferior às precipitações medidas desde janeiro deste ano pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com acumulado de 535,8 milímetros até ontem. Nos últimos dois anos a escassez de chuvas foi tamanha que o volume foi praticamente zero entre julho e setembro na região metropolitana. “A operação dos reservatórios prevê uma reserva para atravessar o período seco, mas parece que nos últimos anos se usou o que havia de reserva e agora só restará, após a estação chuvosa, o acumulado nos aquíferos subterrâneos para contribuir com os sistemas.
A previsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de seca rigorosa para este ano vem se confirmando. Já neste mês, a tradicional “enchente das goiabas”, popularmente associada ao dia 19 de março, marcando o fim das precipitações e o início do outono, simplesmente não ocorreu. De acordo com as estações automáticas do Inmet, a última chuva considerável na Grande BH foi no dia 12 e concentrou um volume de 44,46 milímetros.
PRESSÃO
O nível do Rio das Velhas, que ao lado do Sistema Paraopeba responde pela maior parte do abastecimento da Grande BH, também vem caindo com a diminuição das chuvas. O manancial entra em situação crítica quando atinge vazão de 28,47 metros cúbicos por segundo (m3/s) por mais de uma semana seguida. Ontem, depois de 12 dias de alternâncias de cheias e secas, o rio que abastece 63% da Grande BH, mas que não mantém reservatórios capazes de acumular água, voltou a apresentar volume baixo, chegando a 28,5 m3/s, no limiar da situação crítica de escassez, segundo os critérios do Conselho Estadual de Recursos Hídricos. O índice leva em conta a chamada Q7, 10, que é o volume mínimo apresentado pelo corpo hídrico durante uma semana, no histórico de uma década.
Com os reservatórios da Grande BH se esvaziando em ritmo acelerado, o especialista em recursos hídricos Rafael Resck alerta para uma grande pressão sobre o Rio das Velhas. “Essa progressão de redução do Sistema Paraopeba na estiagem sobrecarrega o Sistema Rio das Velhas, que recentemente foi ampliado e integrado, mas que, mais uma vez, se encontra no limite. É como uma estrada duplicada, mesmo maior, se continuar a aumentar o número de carros, uma hora a capacidade é atingida”, compara Resck.