Jornal Estado de Minas

Dia Mundial da Água ganha significado especial para quem conseguiu reduzir o consumo

Celebrado neste domingo, do dia ganha significado importante por causa da crise hídrica. Serve de motivação para que a economia de água seja permanente

Carolina Cotta
"Aposentei a mangueira.Não molho mais a grama do jardim, apenas as azaleias, e mesmo assim com pouca água. Para limpar a varanda, só uso a vassoura". Terezinha Helice Freitas Tavares, dona de casa - Foto: Euler Junior/EM/DA Press

Os banhos mais curtos, a nova forma para lavar a louças e roupas e, principalmente, o risco de racionamento dão novos contornos ao Dia Mundial da Água, comemorado hoje. A crise hídrica está mudando os hábitos da população, desde o primeiro alerta da Copasa, em janeiro, para a gravidade do problema evidenciado pelo nível baixo dos reservatórios que abastecem BH e a região metropolitana. A mobilização em torno do problema tem resultado em importantes conquistas. A dona de casa Terezinha Helice Freitas Tavares, de 65 anos, diminuiu pela metade o consumo de água em casa. O consumo, que era de 18 mil litros, caiu para 9 mil em março. “Aposentei a mangueira. Não molho mais a grama do jardim, apenas as azaleias, e mesmo assim com pouca água. Para limpar a varanda, só uso vassoura.
Otimizei a lavagem de roupa, embora já tivesse o hábito de só usar a máquina com capacidade máxima, e tenho mais organização para lavar a louça. Cuidados simples fizeram a diferença. Então, todo mundo consegue fazer parte dessa transformação”, convoca.

Algumas mudanças estruturais fizeram a professora aposentada Maria das Graças Salvador Castro, de 78, ir um pouco além. Na casa onde vive com a filha e uma funcionária, todas as torneiras velhas foram trocadas para evitar desperdício com gotejamento. Uma calha com infiltração também foi substituída. “E fiz questão de deixá-la externa e à meia altura, para conseguir armazenar a água da chuva em recipientes. É com essa água que estou molhando as plantas, sempre com regador”, conta a professora, que só lava a louça depois de retirar os resíduos com papel. “Deixo uma bacia por baixo, e a água retida ainda uso para outras coisas. Minha conta era de R$ 120 e foi caindo até chegar a R$ 30 este mês”, comemora.

Tal como no apagão, entre 2001 e 2002, quando a população mudou hábitos para economizar energia elétrica, embora não tenha continuado após a crise, uma mudança significativa passa pela formação de novas gerações mais conscientes. É essencial que o problema seja abordado nas instituições de ensino, que como espaços de transformação deve incitar os alunos a assumirem, de forma autônoma, atitudes e valores voltados para a proteção e conservação do ambiente. O Colégio Padre Eustáquio está envolvendo 700 alunos em atividades de uma campanha que pretende sensibilizar a comunidade no combate ao desperdício de água. Cada turma está desenvolvendo atividades relacionadas à campanha “Dia Mundial da Água: se esbanjar, vai faltar”. Alunos como Clara Prado Ribeiro e Pedro Magalhaes Santiago, de 10 anos, e Vitor Andrade Lima, de 9 anos, estão confeccionando cartazes, banners, botons e uma cartilha explicativa para conscientizar a comunidade.

NEGÓCIOS Pequenas e microempresas mineiras também estão reduzindo o consumo de água e energia, gerando economia para o caixa e menos impacto no meio ambiente.
Um projeto do Sebrae-MG - Cinco Menos Que São Mais - visa a aumentar a competitividade a partir do consumo consciente, e, desde 2010, já beneficiou 133 pequenos negócios em 40 cidades. Por meio de treinamento, capacitações, consultorias e simples medidas há exemplos de empresas que diminuíram pela metade as contas de água e luz. São cinco premissas de “menos” (água, energia, matéria-prima, resíduos e poluição) e cinco premissas de “mais” (lucro, competitividade, satisfação do consumidor, produtividade e qualidade ambiental).

No ano passado, em Betim, na Grande BH, o projeto foi desenvolvimento para bares, restaurantes, lanchonetes e padarias, que agora, com a crise hídrica, valorizam ainda mais as conquistas. Na Padaria Nutrivida, por exemplo, houve redução significativa do consumo de água poucas semanas após as orientações do Sebrae. A conta de água, de R$ 1.100, caiu para R$ 400. “Conversamos com os funcionários e adotamos medidas simples como chuveirinho de silicone nas torneiras e redutores de pressão para controlarem a saída da água. Adotamos vaporizador para a limpeza; diminuindo o gasto de água, e passamos a reutilizar a água do ar condicionado para lavar o chão. Ficamos surpresos com a economia, porque não precisamos fazer mudanças estruturais”, comemora a empresária Vânia Viana Barros.

Alunos do Colégio Padre Eustáquio, Clara e Pedro, de 10 anos, e Vitor, de 9, confeccionaram cartazes, banners, bótons e uma cartilha explicativa para conscientizar a comunidade para economizar água - Foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press
Parque ganha abraço simbólico


Parques municipais de Belo Horizonte terão hoje uma programação dedicada ao Dia Mundial da Água. Segundo o presidente da Fundação de Parques Municipais, Hugo Vilaça, a proposta é sensibilizar os visitantes para a importância das áreas verdes, dos recursos hídricos e do papel de cada um na preservação do meio ambiente. No Parque Municipal Américo Renné Gianetti, no Centro de BH, será promovido, entre as 9h e as 15h, o “Grito pelos rios e montanhas de Minas”, com atividades de conscientização e shows musicais.
Oficinas de educação ambiental; distribuição de mudas de árvores nativas; exposição de fotografias dos rios de Minas; contação de história e exposição de projetos relacionados a água, desenvolvidos pelas instituições participantes, compõe a programação.

No Parque Roberto Burle Marx (Parque das Águas), na região do Barreiro, a programação especial vai das 9h às 13h. Além de uma esquete teatral sobre a dengue, haverá apresentações culturais, oficinas de fabricação de sabão, criação de puff com garrafas pet, artesanato e poesia. Na oficina “Águas poéticas”, crianças e adolescentes serão convidados a pensar a literatura tendo a água como elemento sustentador. Um bate-papo e troca de experiências com os artistas convidados finalizam a atividade. Uma “bicicletada” sairá do Parque das Águas em direção ao Parque Municipal para, durante o trajeto, mostrar os aspectos de poluição e abandono do Ribeirão Arrudas. Às 12h, será feito um abraço simbólico em uma das lagoas do Parque Municipal.

Movimento Ouro Azul

Minas Gerais passa por uma fase de crise no abastecimento de água. A falta de chuva causa diminuição dos níveis dos mananciais em todo o Estado e acende o alerta das autoridades, que pedem o uso racional e a diminuição do consumo por parte dos moradores. Pensando nesta solução, o Movimento Ouro Azul, do Estado de Minas, convida os leitores a participar desta ideia. Diariamente são publicados anúncios com dicas vindas de leitores, colegas de trabalho, amigos e familiares para não desperdiçar água. Use as sugestões como guia, e comente nas redes sociais com a hashtag #essaáguanãoésósua. Faça parte deste movimento. .