Jornal Estado de Minas

Consumo de água aumenta em 26,73% de imóveis da Grande BH

Segundo a Copasa, os consumidores tiveram gasto maior no mês passado do que em fevereiro de 2014

Mateus Parreiras

Números da Copasa alertam para a necessidade de mudança de comportamento. Apesar de apelos, práticas como abusar dos gastos com mangueira ainda são frequentes em ruas da capital - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press / Eduardo dos Reis/Divulgação


Na contramão dos esforços para reduzir o consumo de água e evitar medidas drásticas, como rodízio de fornecimento e racionamento, 26,73% dos imóveis atendidos pela Copasa na Região Metropolitana de Belo Horizonte aumentaram os gastos no mês passado, na comparação com fevereiro de 2014. Ao todo, foram 289.663 clientes que não apenas não aderiram à campanha para reduzir em 30% o volume que passa pelo hidrômetro, como são candidatos a pagar sobretaxa, caso a punição venha a ser estabelecida para quem gastar em excesso. O abuso espanta especialistas, sobretudo pelo fato de a companhia de água e esgoto ter divulgado que, no primeiro mês de campanha (22 de janeiro a 22 de fevereiro), houve retração do consumo em 9,4%, na comparação com igual período do ano passado. Embora os números não sejam referentes ao mesmo período, indicam que a maioria dos consumidores reduziu ou manteve o consumo dentro dos níveis do ano passado e não enfrentaria a sobretaxa.

O fornecimento de água pela Copasa também teve aumento no mês de fevereiro no conjunto do estado, onde 27,59% dos consumidores dos 635 municípios atendidos pela Copasa ampliaram o volume gasto na comparação com 2014 – o equivalente a 936 mil ligações. Embora preocupante, o índice ainda é menor do que o registrado em São Paulo, onde 35% dos consumidores aumentaram seu gasto de água desde que foi anunciada a crise hídrica, e 12% foram multados neste mês. No estado vizinho já foi estabelecida a chamada “tarifa de contingência”, que prevê sobretaxa de 40% para quem gastar até 20% mais do que a média das contas de janeiro e fevereiro, e 100% para quem consumir acima desse percentual. Por outro lado, quem economizar 20% é beneficiado com desconto de 30% na conta. Pessoas que se casaram, mudaram, tiveram filhos ou trocaram de ramo podem pedir revisão dos cálculos junto à concessionária de água e esgoto.

Em Minas, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) decretou situação crítica de escassez hídrica no início do mês, mas a Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG) ainda não se pronunciou sobre o reconhecimento do quadro, tampouco recebeu oficialmente da Copasa o plano de medidas para conter o consumo, como rodízio, racionamento e sobretaxa.
O governo de Minas Gerais tem admitido que o nível de consumo de 2014 será usado como base para uma possível sobretaxa, mas ainda não foram divulgados os percentuais limites nem quais as punições para quem os ultrapassar.

SURPRESA O professor de engenharia hidráulica Luiz Rafael Palmier, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se disse surpreso com o índice de consumidores que exageraram nos gastos. “Com a campanha da Copasa e a veiculação da situação de crise, era de se esperar que muitas pessoas reduzissem o consumo, e esse índice mostra que um contingente significativo não está colaborando”, afirma. Entre as razões consideradas para essa ampliação dos gastos poderia estar o fato de o carnaval ter mantido mais pessoas na capital, e até uma corrida para estocar água, em vista da projeção de escassez no futuro. “Outros fatores colaboram para aumento do consumo. O clima, por exemplo, com dias mais quentes no período. Um possível crescimento do número populacional. Mas nenhum desses motivos pontuais explicaria inteiramente o fato de 26,73% dos consumidores ter ampliado a quantidade de água que usa”, avalia.

Outro fator que precisa ser explicado é em quanto esses clientes aumentaram o volume de água gasto e o impacto disso para interferir na economia de 30% que a Copasa tenta conseguir, para que o abastecimento da Grande BH não entre em colapso na estação seca. “Uma pesquisa em um horizonte maior, incluindo março, que é um mês de poucas mudanças na dinâmica das cidades, poderia nos dar uma melhor ideia da situação do consumo”, sugere o professor Luiz Rafael Palmier.

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