Um ônibus foi queimado a cada 16 dias, em média, este ano em Belo Horizonte. Os últimos três ataques ocorreram na noite de segunda-feira, nas avenidas Raja Gabaglia e Barão Homem de Melo e na Vila Leonina, na Região Oeste. As ocorrências são 185% maiores do que a média diária de 2014, quando houve uma a cada 45 dias, um total de oito no ano. O crescimento gradual desde 2012 implica não apenas prejuízo para empresas, mas também comprometimento da qualidade do transporte coletivo na cidade, porque um coletivo destruído demora pelos menos 150 dias para ser substituído, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra/BH).
Dos três veículos atacados na segunda-feira, o sindicato afirma que dois devem ser recuperados e voltarão a circular, mas o terceiro ainda depende de avaliação. Os três têm quatro câmeras de vigilância cada um, que podem ajudar a polícia a identificar os criminosos. Todos os outros 19 ônibus incendiados desde 2012, segundo o Setra, foram completamente destruídos. “Cada coletivo custa cerca de R$ 350 mil. Os trâmites normais para disponibilização de um veículo desse tipo variam de quatro a seis meses”, informor o assessor da presidência do sindicato, José Guilherme do Couto. “O problema é que não conheço um caso de pessoa que incendiou um ônibus e foi condenada. A impunidade é muito grande”, afirma.
O coronel Cícero Cunha, comandante do policiamento da capital, afirma que o trabalho da Polícia Militar muitas vezes é dificultado porque a comunidade do entorno é ameaçada e amedrontada pelos bandidos que fazem o ataque. “A lei do silêncio acaba imperando, pois as pessoas ficam muito assustadas. Isso não nos ajuda, já que a polícia conta muito com as informações passadas pelos cidadãos”, diz o militar. O coronel afirma que o principal objetivo desse tipo de ação é desajustar a organização social, para demonstrar a força do poder paralelo. “Geralmente, as ações estão ligadas à morte de algum marginal e eles fazem isso para demonstrar a insatisfação”, completa.
POLICIAMENTO Para garantir o funcionamento normal das linhas de ônibus que atendem à Região Oeste, a polícia montou ontem operações com mais de 100 militares nas avenidas Raja Gabaglia e Barão Homem de Melo. As equipes ficaram concentradas próximas aos pontos de embarque e desembarque dos dois grandes corredores e nas entradas dos aglomerados Morro das Pedras e Ventosa, e dos bairros Buritis e Jardim América. O comandante da 126ª Companhia do 5º Batalhão, major Marcos Afonso, informou que as medidas foram tomadas depois de rumores de que os funcionários das empresas de ônibus, com medo de retaliação de criminosos e de novos ataques, pretendiam cruzar os braços pela manhã. “Agimos imediatamente para garantir a mobilidade do serviço. Não podemos deixar a população à merce de bandidos. Estaremos na rua enquanto for necessário e vamos continuar nosso monitoramento para evitar novos ataques”, afirmou o oficial.
A dona de casa Ana Paula Gomes Macedo, de 20 anos, saiu de casa no início da tarde de ontem para levar a filha de 9 meses ao médico. Moradora da Vila Leonina, no Morro das Pedras, ela disse que o clima no aglomerado está tenso desde domingo, e que ela estava com muito medo de ir à rua. “Percebemos os burburinhos e ficamos sem segurança de ir e vir. E o medo aumenta ainda mais se temos que pegar ônibus. A PM tem mesmo que estar nas ruas e nos pontos. A gente nunca sabe quando os ataques vão acontecer”, disse a jovem.
Pouco antes das 20h de segunda-feira, grupos armados com pedras, pedaços de pau, coquetel molotov e galões de combustíveis – uma das turmas estava com revólveres – atacaram simultaneamente veículos das linhas de ônibus 4110 (Dom Cabral/Belvedere), que trafegava pela Avenida Raja Gabaglia com cerca de 30 passageiros, a 205 (Metrô Calafate/Buritis), que circulava com o motorista, a cobradora e mais 15 usuários pela Barão Homem de Melo, e a 9202 (Pompeia/Jardim América), que seguia com cinco pessoas pela Vila Leonina. Em um dos ônibus foi deixado um cartaz com o seguinte dizeres: “Enquanto não houver Justiça não vamos parar”. Os militares acreditam que o vandalismo contra os três coletivos ocorreu em retaliação à morte de um adolescente de 16 anos durante perseguição na noite desse domingo. O menor estaria entre os autores de roubo a um veículo, que bateu em um poste, no Bairro Jardim América, enquanto fugia.