Jornal Estado de Minas

Aulas podem ser suspensas em alguns cursos da UFMG por medo da violência e do tráfico

Além do comércio de entorpecentes, arrombamentos, furtos e assédio sexual assustam professores, alunos e servidores da instituição

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Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, no câmpus Pampulha, está sem segurança adequada, que é agravada pelo acesso livre de pessoas - Foto: GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS


A ação livre de traficantes e o consumo de drogas não são os  únicos problemas graves no câmpus da UFMG, principalmente na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Professores, alunos e servidores estão assustados também com arrombamentos de salas, furtos de computadores e equipamentos e até assédio sexual. Com medo, eles fazem denúncias, mas não querem ser identificados.

O clima de insegurança poderá levar até a suspensão de aulas em alguns cursos, como no Departamento de História. Em reunião no início da semana, na câmara departamental, os professores foram unânimes na decisão de suspender as aulas, no curso noturno, a partir de terça-feira. De outubro do ano passado até agora, foram contabilizados 30 furtos de computadores e de outros equipamentos de pesquisa, como uma furadeira do laboratório de neurociência.

A decisão de suspensão das aulas foi tomada depois de uma sequência de eventos que colocaram em xeque a segurança do prédio. “Vamos levar a deliberação para a congregação na segunda-feira, mas temos indicativo de paralisação a partir de terça. Vamos paralisar por falta de segurança”, disse o professor Luiz Carlos Villalta. No fim de semana, a sala do coordenador do curso foi arrombada e um notebook furtado.
Também houve tentativa de arrombar o armário do Centro de Estudos de Inteligência Governamental, instalado no local.

O clima de insegurança começou em outubro do ano passado, mas, segundo professores, se agravou depois que a unidade deixou de ser vigiada por seguranças particulares. “Pessoas externas à faculdade invadem os banheiros femininos, e as mulheres estão assustadas”, afirma um professor. Já as professoras só ficam em seus gabinetes com as portas fechadas no turno da noite.

PERSEGUIÇÃO

O assédio praticado por pessoas que não são do meio acadêmico também assusta. Estudante de um curso noturno da Fafich, Ana (nome fictício), de 23 anos, foi perseguida por quase dois anos por um rapaz que não é estudante, mas frequenta regularmente a unidade. O assédio começou em 2013, quando ela saía da Fafich para pegar o ônibus que circula internamente na universidade. “Na época, parei de andar sozinha na Fafich. Saí para um intercâmbio e, quando regressei, no início de 2014, ele voltou a me molestar. Ele me coagia psicologicamente. Sabia meu nome, meu curso e meus horários e sugeriu que iria me seguir”, conta. Ana procurou a Delegacia de Mulheres, mas não conseguiu registrar a queixa, pelo fato de o rapaz não ser seu companheiro. Então, registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil e descobriu que havia outras quatro ocorrências contra ele – uma por apreensão de droga e outras três por constrangimento ilegal.

O assunto também foi levado ao conhecimento da Diretoria de Segurança Universitária (DSU). “Eles disseram que tinham recebido queixas de outras alunas, me passaram telefone dos seguranças para eu ligar quando ele se aproximasse.
Mas se ele resolvesse fazer algo comigo, não daria tempo de pedir ajuda. O modus operandi da universidade é muito falho”, queixa-se.

A jovem optou por tentar a pós-graduação em outra unidade da universidade e não vai mais à Fafich por medo de sofrer algum tipo de coação. Os alunos reclamam da presença de pessoas de fora da comunidade que vão para a festa mesmo no horário de aulas. Nas noites de quinta e sexta-feira, muitos professores encerram as aulas mais cedo devido ao volume do som.

CRACK

Professores, alunos e servidores ouvidos pela reportagem confirmam a venda de drogas sistemática na unidade feita por pessoas estranhas à universidade, principalmente às quintas-feiras, dia em que é realizada uma festa no gramado entre a Fafich e Faculdade de Educação (FAE).

Uma funcionária diz já ter presenciado pessoas fumando crack nas dependências da unidade. Segundo ela, a droga é levada por menores de idade. “Em dezembro, 20 adolescentes foram retirados daqui. As pichações são o reflexo do que está acontecendo”, diz. Ela foi orientada pelos porteiros da unidade a fechar as portas da sala onde trabalha a partir das 18h para evitar incidentes. Como não há catracas ou qualquer identificação para entrar na unidade, por lá circulam dezenas de pessoas estranhas à comunidade acadêmica.

Uma maior fiscalização em relação a quem pode ou não entrar na unidade foi tema de amplo debate nas redes sociais e divide a comunidade acadêmica. “Está passando da hora de uma reunião unificada entre docentes, discentes para discutir o problema de segurança na Fafich”, escreveu uma estudante no debate.
Um outro aluno contestou: “OK, não vou discutir, mas mantenho a posição de que está havendo xenofobia dentro dessa universidade e por pessoas que supostamente são educadoras, alunos e professores”, afirma. Ele se refere às reclamações em relação à presença de pessoas que não têm vínculo com a universidade.


Veja imagens do flagrante do consumo e venda de drogas

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