Jornal Estado de Minas

Medo no câmpus

Segurança na UFMG é reforçada após denúncia de tráfico de drogas na Fafich

Depois de denúncia do Estado de Minas e TV Alterosa sobre tráfico e violência na UFMG, Departamento de História paralisa atividades por falta de segurança e reitoria promete deslocar vigias de outras áreas para a Fafich

Guilherme Paranaiba
Congregação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas vai se reunir na segunda-feira para avaliar suspensão de aulas - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
A Fafich passou a contar com serviço de ronda por andar depois que o Estado de Minas e a TV Alterosa denunciaram uso e tráfico de drogas no Diretório Acadêmico do curso de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no câmpus Pampulha. Vigilantes circulam pelo prédio e no entorno e têm suporte dos porteiros e da patrulha universitária, que atua no câmpus, com atenção especial ao período noturno.


“A medida é bem-vinda e acreditamos que vai dar mais tranquilidade para os membros da comunidade”, afirmou o diretor Fernando Filgueiras, também pelo site.

Mais cedo, em nota, Filgueiras afirmou que o problema da insegurança no câmpus se agravou depois do contingenciamento de recursos pelo governo federal. A diminuição de um terço da verba destinada à universidade no início do ano, antes da aprovação do orçamento da União, obrigou a UFMG a “reduzir o efetivo de seguranças e rondas nas dependências das unidades acadêmicas”, diz o texto.

Na quinta-feira à noite, a reportagem do Estado de Minas e da TV Alterosa flagrou comércio de cocaína, maconha e LSD no Diretório Acadêmico Idalísio Soares Aranha Filho. Grupos de jovens vendem buchas de maconha, pinos de cocaína, LSD e também consumem.

Diretório Acadêmico da faculdade: durante a noite, local tem sido ocupado por traficantes de drogas - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press Ainda segundo a nota de Filgueiras, a situação no câmpus é considerada grave e a Fafich tomará todas as medidas cabíveis, com aprovação de sua congregação, que podem ser abertura de sindicância e de  processo administrativo e disciplinar ou quaisquer medidas “necessárias para a manutenção da dignidade universitária”.

REPERCUSSÃO ANTECIPA MEDIDA  Em outro comunicado, assinado pelo professor André Miatello, coordenador do curso de história, os estudantes foram informados de que não teriam aulas ontem e que uma decisão sobre a retomada das atividades depende da reunião da congregação na segunda-feira. “De ordem da câmara departamental, venho informar que as aulas do nosso curso (diurno/noturno) estão suspensas a partir de hoje (ontem), sexta-feira, dia 27 de março de 2015, por razões de segurança”, diz o comunicado.

“Realmente, isso ocorreu por questões de segurança.

Tivemos vários relatos do curso noturno de assédio a alunas, de roubos e arrombamentos”, afirmou a professora Regina Helena Alves da Silva. Segundo ela, a repercussão gerada pelos flagrantes da reportagem motivou a suspensão já desde ontem, embora estivesse prevista para a semana que vem. “Toda a tensão que a gente vive na cidade em geral também vive dentro da universidade. Nosso grande desafio é repactuar o nosso espaço público. A medida pontual que todos devemos tomar é estar na universidade. Esse tipo de situação só acontece quando a gente abandona o lugar”, completa a professora do curso de história.

Outra entidade que se manifestou por meio de nota foi a gestão Avante!, responsável pela administração do DA da Fafich até o fim deste ano. “Essa não é uma questão (tráfico de drogas) que cabe apenas à universidade, mas deve ser um debate da sociedade, visto que o Estado falha ao acreditar que política de drogas se faz com bala”, afirma o texto, que diz também que há anos estudantes denunciam os problemas de segurança e sucateamento: “A faculdade não nos oferece iluminação adequada, salas de aulas equipadas ou mesmo materiais básicos de limpeza e higiene. O câmpus da UFMG também é mal iluminado, a guarda universitária é mal-formada e é dirigida a proteger o patrimônio ao invés das pessoas. Esses problemas são anteriores aos cortes de verba pelo governo federal”.

O grupo considera também que a “intervenção nas paredes do DA é tida como um ato cultural e de resistência” e que a UFMG, como espaço público, deve manter as portas abertas a toda a comunidade e estar integrada à cidade. “Deve promover ações de ocupação com inclusão, garantir estruturas materiais para o uso desses espaços”. Na nota, a entidade afirma estar surpresa com o fato de que “a segurança seja colocada somente após a presença de jovens negros e da periferia no câmpus.”

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