As denúncias sobre tráfico de drogas e violência geraram novas reclamações de estudantes sobre a situação na UFMG. Nessa sexta-feira, no câmpus, por e-mail, telefonemas e mensagens nas redes sociais, alunos voltaram a demonstrar preocupação, principalmente com a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). “Sou aluna do noturno. Na terça-feira, eu vi jovens de 16 e 17 anos consumindo crack próximo ao Diretório Acadêmico. O consumo de maconha foi sempre comum. Era cada um na sua. Para mim, estava ok, mesmo não compactuando com essa atividade. Mas a situação está ficando perigosa. As aulas acabam às 21h30 e fico com medo de andar sozinha nos corredores da Fafich. O prédio é escuro e sem iluminação”, desabafou uma estudante, por telefone.
Outro jovem, que preferiu não se identificar, discordou dos demais e disse que os furtos, roubos e assédio não têm ligação com consumo de drogas. “O que está acontecendo já é comum há muito tempo. Está enraizado na nossa sociedade desde sempre. Temos que debater a ocupação dos espaços da universidade para resolver a situação”, afirma. Outro aluno, que também pediu anonimato, disse que o caminho não é aumentar repressão, com polícia, câmeras e catracas. “A universidade tem que encontrar uma solução sem restringir de forma drástica o acesso e também sem expor as pessoas ao constrangimento e ao medo do tráfico de drogas”, criticou.
FESTA GERA APREENSÃO Outra preocupação na Fafich é a festa realizada todas as quintas-feiras no câmpus. Em nota, o diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, se mostrou preocupado. Ele considerou os flagrantes obtidos pelo Estado de Minas e pela TV Alterosa decorrentes da festa. Na quinta-feira, a reportagem esteve no evento chamado de “Na Tora”, gíria para definir a expressão “à força” e que ocorre sem policiamento e segurança. “Informamos que a Diretoria da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas vem tomando todas as medidas cabíveis ao caso, prestando informações a todas as autoridades competentes. O ocorrido é efeito de eventos no câmpus universitário, em particular o “Na Tora”, em dependência externa à Faculdade”, diz o diretor.
Segundo alunos, professores e funcionários da instituição, o consumo de drogas dentro do câmpus costumava acontecer apenas de forma discreta em locais baldios e escuros, um deles o espaço de jardins atrás do estacionamento da Fafich, que os alunos chamavam de “milharal”.
Contudo, segundo esse relato, depois que uma festa regada a consumo de drogas e álcool foi vetade em um bar que funcionava nas dependências do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), o evento ganhou a mata entre o “milharal” e o refeitório universitário, dando início à nova festa.
Na última quinta-feira, a confraternização tinha música eletrônica e um DJ. Entre os estudantes, no entanto, transitavam adolescentes que usavam canecas para disfarçar o consumo de álcool, servido em grandes recipientes de isopor por ambulantes que estavam nas esquinas e no meio da festa.
O barranco gramado que casais aproveitavam para namorar e curtir o som também era frequentado por traficantes, que vendiam maconha, cocaína e LSD, conforme constatou a reportagem. “A festa aqui vara a noite. Se precisar de uma parada (drogas), é só procurar a gente”, disse um rapaz num grupo de três que estava posicionado no gramado. Em uma saída estreita e escura dessa mata, outro comparsa oferecia tóxicos abertamente às pessoas que passavam pelo caminho e até aos carros que estacionavam na Rua Fernando de Melo Viana, mesmo quando não o procuravam. Uma bucha de maconha custa R$ 20, um pino de cocaína R$ 30 e um tablete de LSD pode ser comprado por R$ 25.