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Estado de Minas

Com menos segurança, comunidade acadêmica da UFMG busca novos meios de se proteger

Cortes no orçamento, baixas na segurança e tráfico de drogas levam temor à universidade. Medo no câmpus leva pessoas a mudar hábitos, principalmente à noite


postado em 29/03/2015 06:00 / atualizado em 29/03/2015 07:30

Na hora de ir embora, estudantes, professores e funcionários optam por se deslocar em grupos, diante da falta de vigias(foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)
Na hora de ir embora, estudantes, professores e funcionários optam por se deslocar em grupos, diante da falta de vigias (foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)


O clima de insegurança no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, não se limita à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), onde traficantes ocuparam parte do prédio para a venda de drogas, conforme o Estado de Minas vem denunciando desde a última sexta-feira. Com o corte de verbas da União, a crise financeira que se abateu sobre a maior universidade do estado se traduziu, entre outras baixas, em demissão de funcionários terceirizados. Equipes de segurança estão desfalcadas e, especialmente à noite, o medo se tornou companheiro da comunidade universitária. A insegurança, admitida pelo próprio diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, levou a mudanças de comportamento. Estudantes passaram a se deslocar em grupos, professores não se ausentam sem trancar salas onde estejam objetos como notebooks e pesquisadores preferem carregar consigo diariamente equipamentos que, deixados em carros ou salas, poderiam ser alvo de ladrões.

Para piorar, o reforço na vigilância da Fafich, anunciado na sexta-feira como reação à denúncia de tráfico, tende a deixar mais expostas outras partes do câmpus Pampulha. Entre os que frequentam o espaço, muitos temem que a comunidade universitária fique mais vulnerável, já que não há restrições à circulação de pessoas no local. É essa a preocupação da aluna do quarto período de farmácia Danielle Melo, de 31 anos. Ela considera que sempre foi arriscado andar pelo câmpus à noite, mas diz que a situação ficou mais crítica com as baixas na segurança. “No meu curso, precisamos nos deslocar para quatro prédios. Antes, no trajeto entre a Faculdade de Farmácia e os outros edifícios, era comum passar por pelo menos três seguranças. Agora, não avisto mais nenhum. Se antes era arriscado, agora ficou ainda pior”, afirmou.

Para Danielle, a falta de investimento em vigilância pode atrair criminosos. “O câmpus é um espaço público; não tem como restringir a entrada de pessoas que não estudam aqui. Uma linha de ônibus passa pela UFMG e não há como controlar quem entra ou sai. O prédio do curso de farmácia fica em um local bem escuro. O jeito é contar com a sorte.” Sua colega Tayza Grazielle Costa, de 21, do quinto período, evita circular sozinha, principalmente na hora de ir embora. “É perceptível que o número de seguranças diminuiu. Eu me sinto mais insegura para ir embora, quando o movimento de estudantes é menor”, pontuou. Guilherme Ribeiro, de 20, da mesma turma da universitária, chama a atenção para as guaritas vazias. “Com a demissão dos funcionários, algumas portarias estão fechadas e já não há vigilância nas guaritas que ficam em pontos de maior movimentação. Espero que isso não contribua para ações de criminosos.”

“Medo” é a palavra que a professora Ana Liddy Magalhães, do curso de engenharia de sistemas, usa para definir o clima que a comunidade universitária enfrenta à noite no câmpus. “O corte de verba afetou vários setores, mas estamos administrando a situação. Porém, com relação à segurança, para alunos e professores que saem aqui no fim da noite a situação é preocupante. Quando as aulas acabam se esticando até as 23h, os estudantes se prontificam a me acompanhar até o estacionamento”, contou.

Segundo ela, desde que foi lecionar na universidade, há três anos, ouviu recomendações para evitar ser alvo de ladrões. “Principalmente agora, me cerco de cuidados. Se saio de minha sala para ir ao banheiro, tranco tudo. Nunca tive nenhum objeto de valor roubado, mas colegas meus já passaram por esse tipo de situação. Os notebooks são bem visados pelos criminosos”, explicou. Com relação à movimentação de pessoas estranhas no prédio da Engenharia, Ana Liddy diz que o quadro é bem mais tranquilo do que na Fafich. “Os alunos, principalmente da noite, são bem focados no curso. Houve há alguns anos umas festas aqui no prédio, com som alto, que atraíam pessoas de fora. Mas a situação foi resolvida.”

O medo de circular pelo estacionamento à noite não se restringe à professora. O dentista Fabiano Tadeu Alves, de 34, que faz pós-graduação na Faculdade de Odontologia, afirma que a redução de vigilantes deixou todos inseguros. “Não deixo qualquer objeto dentro do carro. Prefiro circular com malas pesadas, com todo o material que uso no curso”, assinalou. Adilson dos Santos, de 42, que trabalha como funcionário administrativo no Departamento de Odontologia, reforça o temor. “Nosso prédio está em uma área mais afastada e há risco de roubos”.

ENTENDA A CRISE


Redução nos repasses do governo federal deixou a maior universidade de minas em dificuldade

 Novembro e dezembro de 2014

» A UFMG sofre corte orçamentário de R$ 30 milhões nos repasses feitos pelo governo federal. Pagamentos de contas de água e luz são suspensos e prestadores de serviços, demitidos. Pelo menos 80 seguranças foram dispensados, segundo funcionários do setor.
» Cerca de 250 trabalhadores das área de limpeza e portaria também foram demitidos, pelos cálculos dos servidores, que temiam mais 100 dispensas.

7 de janeiro


» Por determinação do Decreto Federal 8.389/2015, o valor disponível para execução orçamentária mensal de todos os órgãos e entidades ligados ao Poder Executivo federal, incluindo a UFMG, ficou restrito a 1/18 do total .
» A medida representa um contingenciamento de 33% do orçamento previsto para 2015, que duraria até a aprovação da lei orçamentária deste ano.

17 de março


» Lei do Orçamento Anual é aprovada, possibilitando, teoricamente, a retomada do escalonamento de repasse mensal de 1/12. Ainda assim, a regularização não garante a normalização imediata das atividades da universidade.
» Por causa dos compromissos atrasados, que devem ser quitados nos próximos meses, o plano emergencial de redução de custos se mantém.
» Não há previsão de regularização do défict de R$ 30 milhões. Apesar da votação do orçamento, a UFMG informa que os repasses ainda vêm sendo feitos na proporção de 1/18.


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