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Estado de Minas

UFMG debate uso de catracas e câmeras contra o tráfico de drogas

Congregação da Fafich debate hoje medidas para disciplinar acessos ao prédio na Pampulha, onde traficantes montaram base. Polícia vê conexão com crime organizado


postado em 30/03/2015 06:00 / atualizado em 30/03/2015 17:05

Mateus Parreiras

Degradação e pichações chamam a atenção no Diretório acadêmico, onde em flagrou comércio de drogas ocorrendo livremente (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press.)
Degradação e pichações chamam a atenção no Diretório acadêmico, onde em flagrou comércio de drogas ocorrendo livremente (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press.)
 

Acessos controlados por catracas e porteiros, câmeras dispostas em corredores e espaços comuns. Além da ampliação temporária da presença de seguranças no interior da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), implantar controle de acesso e vigilância remota no prédio são algumas das propostas que serão apreciadas, hoje, em reunião da congregação da faculdade. O encontro ocorre depois de denúncias veiculadas pelo Estado de Minas na última sexta-feira, mostrando que traficantes de drogas atuam no edifício e no Diretório Acadêmico (DA) da unidade. “Vamos discutir várias medidas para melhorar a segurança. Essa proposta está entre as que serão avaliadas, mas precisa ser também acertada com a reitoria”, disse o diretor da Fafich, Fernando Filgueiras. A força policial do estado não age dentro do câmpus por questões de jurisdição, já que se trata de área federal, mas fontes das polícias Militar e Civil informam que os fornecedores de drogas que atuam dentro do DA têm ligações com a Vila Sumaré, uma das comunidades em que o crime organizado controla a venda de entorpecentes, na Região Noroeste de BH.

A instalação de catracas não seria novidade no câmpus, uma vez que o Instituto de Ciências Biológicas (ICB), por exemplo, já controla por meio das roletas o acesso de alunos, funcionários e pessoas com assuntos a resolver no edifício. Um professor da Fafich que já teve problemas com a violência, e que por isso pediu para nãoter seu nome revelado, afirma que instalar catracas é uma tarefa muito complexa, devido à extensão e à variedade de acessos possíveis à unidade, mas ressalta que o controle é diferente de cerceamento de acesso. “A catraca não impede ninguém de entrar na faculdade. Apenas garante segurança, na medida em que as pessoas são registradas e declaram quais assuntos pretendem tratar no ambiente acadêmico”, afirma. Também com receio de opinar abertamente, tamanha a pressão que a circulação de traficantes provocou na comunidade acadêmica, outro professor da faculdade defende o monitoramento: “As câmeras ajudariam a inibir a ação de criminosos, principalmente nas áreas mais ermas, já que a faculdade é muito extensa”, disse.

A segurança em espaço tão amplo pode ser mesmo um desafio, como afirmam os professores. O complexo da Fafich é formado por 15 edifícios onde há aulas, laboratórios, cursos de graduação e pós-graduação dos departamentos de Antropologia e Arqueologia, Ciência Política, Ciências Socioambientais, Comunicação Social, Filosofia, Gestão Pública, História, Psicologia e Sociologia. Na sexta-feira, reportagem do EM mostrou com câmeras escondidas que a ação dos traficantes de drogas se dava sobretudo no terceiro andar, onde grupos tomavam os corredores para o comércio e consumo de entorpecentes. O DA se tornou um local degradado, coberto de pichações e frequentado por traficantes que vendem cocaína, LSD, loló e maconha sem qualquer constrangimento, servindo a filas de alunos, em um movimento intenso e livre.

De acordo com fontes da Polícia Civil, do 34º Batalhão da Polícia Militar (Região Noroeste e Pampulha) e do sistema de vigilância por câmeras da PM, o Olho Vivo, traficantes de drogas que abastecem a faculdade e outros edifícios da UFMG vêm sobretudo da Vila Sumaré. “Não podemos atuar na universidade, pois é um local de jurisdição da Polícia Federal. Mas conhecemos e monitoramos o crime na Vila Sumaré. Sabemos que há gente do movimento – traficantes – envolvida com os alunos. Alguns (estudantes) levaram gente das bocas de fumo para dentro da universidade”, disse um dos militares ouvidos. Outro PM relatou caso recente, que, segundo sua análise, reforça essa relação: em maio do ano passado, um doutorando da UFMG, de 27 anos, e um amigo foram detidos por tráfico pela PM dentro de um carro no Bairro Caiçara, Região Noroeste. Eles transportavam haxixe, LSD e estimulantes sexuais dentro da mochila. O bairro está inserido nos caminhos que ligam a Vila Sumaré e a universidade.

Sobre o reforço da segurança na Fafich, que poderia deixar outras unidades vulneráveis, a UFMG informou, por meio de nota de sua assessoria de imprensa, que “o anúncio do reforço de segurança diz respeito a todo o câmpus Pampulha, com atenção especial para a Fafich”, mas admite que a mudança é feita com o contingente existente, em um trabalho de prioridade nas rondas internas e intervalos de vigilância reduzidos nas proximidades da faculdade, mas sem contratação de pessoal. “A direção da UFMG reconhece a seriedade e a complexidade da situação e se compromete a tomar medidas para garantir segurança e tranquilidade para os membros da comunidade universitária”, diz o texto. A universidade, contudo, afirma que não divulgará quantos vigilantes atuam no câmpus e nem a quantidade de demitidos depois do corte orçamentário do governo federal. A reportagem apurou que a instituição perdeu pelo menos 80 seguranças.

Entenda o caso

Sexta-feira


Denuncia de que traficantes de entorpecentes dominaram corredores e se instalaram no Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG é publicada pelo Estado de Minas. A reportagem mostra o medo de alunos e professores e a degradação do diretório nas mãos de criminosos, com paredes pichadas e comércio de tóxicos feito abertamente, como em uma boca de fumo dominada pelo crime organizado. Um pino de cocaína custa R$ 30, um ponto de LSD sai por R$ 25 e uma porção de maconha, por R$ 20. Até menores participam do esquema.

Sábado

Depois da primeira reportagem, o curso de história suspende as aulas e decide só retomá-las depois de entendimentos na reunião da congregação. De forma emergencial, a universidade afirmou ter ampliado a segurança na faculdade e no câmpus, para assegurar o trânsito de alunos nos corredores da Fafich durante a noite. O DA informou que o tráfico é uma realidade social e que não se restringe à universidade, considerando que só a segurança não resolveria, mas medidas de ocupação dos espaços e conscientização.

Ontem


Reportagem mostra que o clima de insegurança não se limita à Fafich. Estudantes de todos os cursos passaram a se deslocar em grupos, professores não se ausentam sem trancar salas onde estejam objetos como notebooks e pesquisadores preferem carregar consigo diariamente equipamentos que, deixados em carros ou salas, poderiam ser alvo de ladrões. O corte de verbas da União é apontado como agravante da crise, por ter culminado em demissão de funcionários terceirizados,
incluindo vigilantes que faziam a segurança do câmpus.

Saiba mais: Congregação da Fafich

É o órgão de deliberação superior da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, que deve supervisionar a política de ensino, pesquisa e extensão. Formam esse conselho a diretoria da Fafich, professores, integrantes do corpo técnico e administrativo e integrantes do corpo discente (alunos). A congregação aprecia hoje a situação de violência na unidade e deve decidir quais medidas julga necessárias para combater o problema. Entre as propostas estão a implantação de catracas, câmeras e mais seguranças. Em um caso mais extremo, pode ocorrer até um pedido de suspensão das aulas.

Usar drogas na universidade pode?


O TV Verdade desta terça-feira debaterá a ação do tráfico de drogas na UFMG, com imagens exclusivas de traficantes que atuam dentro da universidade.  Após reportagem investigativa da TV Alterosa e do jornal Estado de Minas mostrando a denúncia, dirigentes decidiram fechar o Diretório Acadêmico e acabar com o espaço de festas. A mesa do programa quer saber se as medidas vão resolver o problema. Será que assim haverá mais segurança para os estudantes? Ou a bandidagem também já dominou o local onde a missão é o ensino? Não perca, na TV Alterosa, às 13h.


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