Jornal Estado de Minas

Viadutos erguidos na Pedro I têm erros em série de projeto, execução e fiscalização

Elevados projetados e construídos pelas mesmas empresas na Avenida Pedro I, como o que caiu e matou duas pessoas em 2014, apresentaram falhas iguais

Guilherme Paranaiba, Marcelo da Fonseca e Valquiria Lopes

Andaimes foram colocados sob o Viaduto Gil Nogueira, que será interditado no fim de semana para obra de reparo na estrutura - Foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS


Uma sucessão de erros semelhantes aos da alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, que desabou em 3 de julho do ano passado e matou duas pessoas. Essa é a situação do Viaduto Gil Nogueira, que tem desnível de 2,5 centímetros na estrutura e também fica sobre a Pedro I, ligando dois extremos da Avenida Portugal, entre os bairros Itapoã e Santa Branca, na Região da Pampulha. Houve um erro no projeto de engenharia feito pela Consol Engenheiros Consultores, uma falha não percebida durante a execução da obra nem pela Construtora Cowan nem pela Prefeitura de Belo Horizonte durante a aprovação do projeto, conforme admitiu ontem o prefeito Marcio Lacerda. Apesar dos transtornos, não há risco de queda, segundo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Belo Horizonte. É o terceiro viaduto com problemas dos sete do BRT/Move da Pedro I, de responsabilidade da Consol e da Cowan. Além dos dois, o Viaduto Montese precisou ser interditado depois de um deslocamento lateral de 27 centímetros. Foram nove meses com a estrutura fechada, antes da liberação.

A perícia da Polícia Civil constatou que o projeto da Consol apontou menos aço do que realmente deveria ter na armação do Batalha dos Guararapes, erro que não foi percebido pela Cowan nem pela PBH. No Gil Nogueira, inaugurado em maio de 2014, ocorreu novo erro de projeto.
Um desenho equivocado da posição de dois aparelhos de apoio, novamente de responsabilidade da Consol, outra falta de percepção da Cowan e mais uma falha na fiscalização, que não viu o erro. O resultado foi um desnível de 2,5cm entre a estrutura do viaduto e o solo da Avenida Portugal, dos dois lados da via. Como solução para o problema, está agendada uma obra que vai interditar o elevado entre sexta-feira e domingo. O objetivo será colocar três novos aparelhos de apoio em cada um dos lados entre os dois que foram danificados por conta do erro de projeto. São essas estruturas que garantem a absorção do impacto causado pela movimentação normal da estrutura.

Segundo a prefeitura, uma vistoria de rotina no viaduto identificou o problema, no fim de 2014. Essa vistoria fez parte de uma série de outras inspeções determinadas desde que o elevado caiu, em todos os viadutos da Pedro I. Em 12 de fevereiro, técnicos e a cúpula da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) se reuniram com Consol, Cowan e RCK, empresa contratada pela PBH para revisar o projeto do elevado Gil Nogueira, além de representantes da Defesa Civil e do Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape/MG). Foi informado o problema e solicitado detalhamento da solução prevista à Consol, que será colocada em prática pela Cowan a partir de sexta-feira. Segundo a Sudecap, esses reparos custarão R$ 267 mil. “Esse reforço será pago por quem errou e não pela população da cidade. Mas não é uma obra complexa”, avaliou o prefeito Marcio Lacerda.

Nessa terça-feira, durante sessão de prestação de contas na Câmara Municipal, Lacerda admitiu problemas na fiscalização dessa obra e, por causa disso, um contrato de fiscalização foi rompido com a própria Consol, que também era a projetista. “Tínhamos feito na época em que a empresa foi contratada para elaborar o projeto uma contratação para que ela acompanhasse as obras. Inclusive multamos a Consol, em mais de R$ 1 milhão, e rescindimos esse contrato porque a fiscalização não estava sendo feita de forma adequada”, afirma o prefeito.
Questionado sobre a falta de conferência das informações dos projetos entregues por empresas de engenharia por parte da prefeitura, Lacerda disse que agora o problema está resolvido. “Hoje, posso garantir que temos uma empresa terceirizada acompanhando todo esse processo”, justificou.

O presidente do Ibape/MG, Clémenceau Chiabi, diz que um erro importante no Brasil é gastar pouco tempo com os projetos e muito com as obras, ao contrário do que é feito por países como Japão e Alemanha. “Temos uma carência muito grande de detalhamento de projeto. Gasta-se mais tempo com a obra e as dúvidas atrasam e encarecem o processo”, diz. Para ele, o mais comum é contratar empresas terceirizadas para gerenciar ass obras. “O normal mesmo é que um projeto seja concebido sem falhas, assim como a execução da obra respeitando tudo que está no projeto”, completa.

BOMBEIROS DESCARTAM  RISCO DE DESABAMENTO

Devido à preocupação com o desnível de 2,5cm, o Corpo de Bombeiros fez ontem uma vistoria para atestar que não há risco de desabamento do pontilhão. “Solicitamos à Defesa Civil um engenheiro de plantão, mas eles nos disseram que já tinham feito a vistoria e atestado que não havia risco. Fomos então até o local e confirmamos essa hipótese junto ao engenheiro da empresa Cowan”, informou a aspirante do 3º Batalhão, Soraya Fernandes Medina.

O presidente da Consol, Maurício de Lana, depois de afirmar que houve falha na execução da obra, admitiu de uma forma indireta que o projeto estava equivocado. “Existe uma questão absolutamente identificável que quem conhece o problema poderia ter identificado”, afirmou ele, que também lembrou do encerramento do contrato com a PBH para que um projetista da Consol acompanhasse a obra. Questionado sobre a responsabilidade pelo erro, ele não quis entrar em detalhes: “É uma questão técnica em que vou prestar contas ao poder público”.


Em nota, a Cowan informou que a prefeitura solicitou que ela execute a solução prevista. “Este serviço consiste basicamente na implantação de três novos aparelhos de apoio com o objetivo de garantir a durabilidade do viaduto.

- Foto: Arte/Soraia Piva

 

 

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