Desde que a sobreloja do Edifício Maletta perdeu de vez a vocação para as velhas tipografias, muito vem sendo falado sobre a retomada do espaço de um dos prédios mais tradicionais do Centro de Belo Horizonte.
Lídia Amarilla Bittencourt, de 22 anos, está em Belo Horizonte desde 2011. Nascida em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a estudante de relações públicas passou a infância e a adolescência em João Monlevade, na Região Central do estado.
O aposentado Adão Aparecido de Oliveira, de 52, não sabia do “novo Maletta”. Ele conta que é frequentador do endereço há mais de 30 anos, mas ainda não tinha tido a curiosidade de passar do primeiro andar. “Estava vindo de uma consulta médica e decidi tomar uma cerveja para esperar o trânsito melhorar. Descendo a Avenida Augusto de Lima, vi o movimento na galeria e resolvi subir.
De carona no sucesso dos bares, a loja de tatuagem também é atração no fim do corredor. A loja de discos e livros é a audiência da hora nas proximidades da escada rolante. No alto, logo acima da banca de vinis, o vídeo exibe as centenas de raridades do acervo. No hall Vinícius de Morais, mais da diversidade que se reinventa. Loja de costura, de fantasias, restaurante, ótica, empório de “trecos e afetos”. O Piolho Nababo rouba a cena. O coletivo criado por Desali e Froiid, em 2010, é a referência underground do edifício.
Aberto para a boemia
Um dos primeiros bares do Maletta, o Lua Nova já esteve no primeiro andar, na loja 25. Em 1993, 30 anos depois de inaugurado, o estabelecimento passou para o segundo andar, à esquerda da escada rolante, no número 42. Joventino da Paz é o terceiro dono do Lua Nova. O comerciante reconhece “alguma melhora”, mas diz ter saudade do público mais “boêmio e pé no chão”. “Elitizou muito. Sinto falta dos intelectuais que faziam a cultura da cidade”, diz. Joventino conta que nem passa pela cabeça fazer qualquer mudança no cardápio ou na decoração do botequim, para acompanhar as novas tendências do varandão.
A poucos metros do Joventino estão alguns dos pontos que revolucionaram a sobreloja. O primeiro deles, que deu início à nova fase do Maletta, é o Arcangelo, do argentino Santiago Calonga, de 35. O ponto, em 2010, quando ninguém imaginava a vocação do andar para a noite, começou com três mesas e um sofá, com permissão para funcionar até as 20h. Atualmente, na sexta-feira, os 120 lugares de boa acomodação do Arcangelo estão cada vez mais disputados.
“No início foi um problema. Ninguém imaginava abrir um bar assim. A gente tinha uma placa de aberto perto da escada. E ainda tinha o problema do horário. Só podia funcionar até as 20h. Depois, conseguimos estender até as 22h. Depois, até as 0h. Foi quando surgiu o primeiro concorrente”, relembra. Santiago se diz feliz em ter colaborado para o que ele chama “nicho de mercado”. “Há uma felicidade em ver que, nos 12 bares, tem umas 100 pessoas trabalhando na varanda hoje”, comenta.
Sandro Penha, de 48, morador do Maletta desde 1992, vê com entusiasmo o movimento de sofisticação dos últimos cinco anos. “Na atual administração, houve uma flexibilização que favoreceu o surgimento dos bares. Está mais sofisticado, mas o Maletta não perdeu a identidade”, avalia. O artista plástico diz que não é frequentador de botecos. “Costumo beber em casa. Mas é um privilégio entrar no elevador, descer e chegar num bom lugar”, pontua.
O Café Biografias, o Dub e o Objetoria são outras excelentes opções no varandão. Ambiente, cardápio e atendimento são pontos fortes dos três pontos. No Objetoria, decorado com quinquilharias, um DJ faz as honras do balcão. Um dos responsáveis pelo atendimento da loja é Diogo Souza Brant Caldeira, de 30. Ele está em jornada de três turnos por paixão e fé. Formado em história, o promotor de eventos é também funcionário público. Diogo se mostra contente por fazer parte da nova história da noite em BH..