Jornal Estado de Minas

De maioria católica, BH tem espaço para diversidade religiosa

Capital acolhe também igrejas evangélicas, sinagogas, mesquita, templo budista, terreiros de candomblé e centros espíritas

Gustavo Werneck Sandra Kiefer
No culto - Evangélicos lotam a Igreja Batista Getsêmani, um dos 400 templos espalhados pela capital - Foto: Tulio Santos/EM/D.A Press.

As cerimônias da semana santa, encerradas ontem, mostraram a fé em estado bruto e fervilhante dos mineiros. Procissões acompanhadas por multidões de católicos, igrejas lotadas na celebração do domingo de Páscoa e outros ritos seculares que fortalecem a história das Gerais e mostram a riqueza cultural de seu povo. Outros cristãos, como os evangélicos, se reuniram em multidão, na sexta-feira, no Barreiro, durante o tradicional Sermão da Montanha. Para o conforto do corpo e da alma, dentro de um variado leque de crenças, Belo Horizonte tem ainda mesquita, sinagogas, templo budista, terreiros de candomblé, centros espíritas, sem contar as pessoas que seguem tradições indígenas e exotéricas, ritos orientais e o hinduísmo.

Conforme o último censo (2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estística (IBGE), BH tem 59,8% de católicos, o correspondente a 1,4 milhões de pessoas. Já os evangélicos somam 25%, ou 595,2 mil. Espíritas chegam a 4%, quase o mesmo percentual de Pedro Leopoldo, na região metropolitana (3,9%), onde nasceu o médium Chico Xavier (1910–2002) – nome máximo, no país, da doutrina cristã que junta ciência, filosofia e religião. Na capital, foram registrados no censo ainda 8% que se declaram sem religião e 0,82% de ateus, ou 19,4 mil pessoas. O percentual é superior ao do Brasil (0,32%) e de Minas (0,36%).
Na missa - Nas celebrações da Páscoa, católicos participam de missa no terreno da futura catedral - Foto: Túlio Santos/EM/D.A PRESS

Entre os que professam a fé católica, nos 28 municípios que compõem a Arquidiocese de Belo Horizonte, há 720 padres, 2 mil comunidades de fé e 277 paróquias, das quais 145 na capital.
Além da Catedral Cristo Rei, no Bairro Juliana, na Região Norte, estão sendo construídos mais 12 templos em pontos diferentes da cidade. O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, tem uma questão: “Será que somos verdadeiramente atentos às necessidades dos fiéis? Estamos presentes na vida das pessoas, sobretudo nos momentos mais difíceis, em situações de sofrimento e luta? Por isso mesmo é importante lembrarmos que não queremos simplesmente consolidar um ‘número’ para dizer que formamos a maioria. O importante é o anúncio do Evangelho, trabalhar para que cada pessoa tenha a oportunidade de viver um verdadeiro encontro com Jesus Cristo”.

Dom Walmor acrescenta que a Igreja se empenha em promover a vida e a oração. “Em nossa missão, valorizamos e priorizamos o diálogo e a atenção com aqueles que mais precisam. A Igreja Católica investe no ecumenismo, o que não significa a busca por uma uniformidade. Esse caminho contribui para a construção de um mundo mais fraterno. Trabalhamos para que as pessoas tenham a chance de viver o encontro com Cristo Rei. Isso significa promover sempre a experiência do acolhimento, da fraternidade e da solidariedade”, define.

O presidente do Conselho de Pastores de Minas Gerais (CPMG), pastor Jorge Linhares, da Igreja Batista Templo Getsêmani, no Bairro Dona Clara, na Região da Pampulha, em BH, ressalta que o ser humano busca Deus, e a Bíblia conduz à “palavra”. “O mineiro vai em busca do que a Bíblia ensina e opta pelo que está certo”, afirma. Na opinião do pastor, o católico tem mais tradição do que propriamente prática religiosa, enquanto o evangélico é participativo, sendo os pastores mais próximos do seu rebanho, presentes no cotidiano das famílias. Em Minas, conforme Linhares, há 2,4 mil pastores filiados e sete seminários evangélicos. Na capital, são 400 templos, com mais de 20 nomenclaturas, distribuídas entre as tradicionais históricas (batista, metodista, presbiteriana e luterana), pentecostais e neopentencostais.
Na mesquita - Comunidade islâmica se reúne em BH para cerimônia conduzida em português e em árabe - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS

Belo Horizonte sedia ainda a única mesquita de Minas, na Rua João Camilo de Oliveira Torres, mais conhecida como Rua do Amendoim, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-Sul da capital. Fundada em 1991 seguindo o modelo marroquino, a mesquita conta hoje com 200 membros efetivos, segundo a Comunidade Islâmica Central de Belo Horizonte, sendo 70% deles brasileiros revertidos ao islamismo, além de libaneses, egípcios, africanos e indianos.
“O muçulmano é um ser que consegue viver no mundo de maneira pura, conforme nos ensinou Muhammad”, define o sheik Mokhtar El Khael na cerimônia, conduzida em português e em árabe perante a plateia masculina. Com a cabeça coberta por véus, mulheres participam de uma parte da celebração em andar separado, para evitar que sejam vistas se ajoelhando perto dos homens. “Esse cuidado serve para preservar o conforto e o respeito da mulher”, diz o sheik, autoridade máxima na mesquita.



Já o candomblé, totalmente celebrado no dialeto africano iorubá, vem perdendo força para a umbanda, que conta com 250 casas e terreiros catalogados em Belo Horizonte. “Os fundamentos do candomblé estão se perdendo com a morte dos mais velhos”, lamenta a ialorixá (mãe de santo) Eliane de Oxum. Ela herdou dos tataravós a incumbência de levar adiante a Casa de Axé Olhos d’Água da Adivinhação, atualmente no Bairro Céu Azul, na Pampulha, sendo escolhida por uma hierarquia para dar seguimento aos preceitos dos orixás, definidos como espíritos evoluídos reencarnados. “A umbanda está crescendo, porque as pessoas estão buscando ajuda e apoio na religião. Acreditamos que se planta o milagre com muita oração, passes e limpezas energéticas com ervas sagradas”, explica o pai Marcelo de Oxossi, zelador da Casa do Divino Espírito Santo das Almas, no Bairro São Geraldo..